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MOGAMBO

Ava Gardner, o grande amor da vida de Frank Sinatra e que vivia sempre às turras com o cantor (“os briguentos Sinatras”, como o casal era chamado por alguns), foi considerada uma das mais belas atrizes do cinema. Beleza é algo às vezes relativo, mas certamente ela era uma atriz muito talentosa e que esbanjava classe (e nada comportada na vida real, assim como algumas personagens que interpretou). Tanto, que neste filme chega em muitos momentos a ofuscar a também bela Grace Kelly (a dois anos de virar princesa e abandonar o cinema) e o mito Clark Gable, que tinha então 52 anos (em ótima forma, porém). Mas foi um duelo interessante e também entre as personagens, porque Kelly também desempenha muito bem o seu papel, tanto que ambas foram indicadas ao Oscar de 1954: Ava como Atriz principal e Grace como Atriz coadjuvante. Na verdade, esta aventura filmada na África (Quênia e adjacências) e que apresenta belas imagens naturais, com algum romance e até suspense, apresenta um triângulo amoroso algo complicado, sendo considerada um remake do filme Terra de paixão (Red Dust) de 1932, com o mesmo Gable. Os dois filmes têm em comum a relação triangular, é certo, mas de resto são diferentes, inclusive em pontos essenciais, como em cenas aqui mais insinuadas e principalmente quanto à personagem de Ava Gardner, que fica longe da evidência vulgar da caracterizada por Jean Harlow no filme de 1932: Harlow faz uma personagem cujo comportamento denuncia claramente sua origem; Ava, ao contrário, tem uma presença classuda e suas falas são inteligentes e repletas de afiadíssima ironia, além de tocar piano e cantar. O filme foi dirigido pelo craque John Ford e a filmagem feita diretamente em terras africanas (mostrando em várias cenas legítimos tribais) é altamente benéfica, porque vemos desfilarem muitos animais selvagens, especialmente retratados, em seu habitat natural. A respeito de animais, há três cenas muito interessantes com a atriz Ava Gardner aparentemente demonstrando o pouco temor da atriz às feras: com uma cobra, com filhotes de elefante e rinoceronte e com um guepardo, que entra repentinamente em sua barraca. Há várias ótimas cenas no filme (como a dos gorilas!) e a história é atraente (além das imagens), a meu ver sendo mais consistente do que a de 1932, inclusive quanto à coerência dos próprios personagens. Dizem os fofoqueiros de bastidores, que durante as filmagens (pra variar Gable) houve um romance furtivo entre Clark Gable e Grace Kelly,  que -contam as biografias- na vida real também não era nada comportada como sua figura parecia sugerir. 8,8