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REBEL RIDGE

Um drama policial movimentado, daqueles que se passa em cidade do interior americano, lançado agora em setembro de 2024 e produção Netflix. O protagonista é o ótimo Aaron Pierre – coadjuvado por AnnaSophia Robb -, mas são mais conhecidos os nomes dos veteranos Don Johnson e James Cromwell. Um thriller bem dirigido por Jeremy Saulnier (que conduziu alguns episódios da terceira temporada de True detective) e que mesmo nos momentos em que cai nos clichês ainda assim apresenta um modo atraente de contar a história, sendo, portanto, acima da média das produções desse gênero. No início, entretanto, o filme é bastante instigante (a partir da primeira e excelente cena), enquanto vamos acompanhando com interesse a construção da trama, ao mesmo tempo conhecendo os personagens principais. Tudo funciona de forma equilibrada, sendo um bom entretenimento e que certamente vai agradar não apenas aos fãs desse tipo de filme. Em tempo: Rebel Ridge – o título – refere-se a um local e que vai servir de referência a fatos que acontecem tão somente no finalzinho do filme. 8,5

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FORÇA POLICIAL (PRIDE AND GLORY)

Um filme policial daqueles tensos, encorpados e movimentados, portanto com muita ação, violência e além disso um elenco estelar (com grandes atores), focando na corrupção e no submundo do crime. E com a agravante de envolver bons e maus policiais pertencentes a uma mesma família. Um thriller de 2008 e com nomes de respeito valorizando o satisfatório roteiro: Edward Norton, Colin Farrel, Jon Voight e Noah Emmerich. O ótimo diretor é o americano Gavin O´Connor (O contador, a série The americans) e o filme vale muito pela ação, pela incursão no intrincado mundo corrupto da própria polícia e pelas investigações que envolvem e comprometem membros da família cujo pai é interpretado por Voight, os filhos por Norton e Emmerich e o cunhado por Farrel, casado com a filha Abby (Jennifer Ehle). Embora não tenha muitas novidades ou elementos de grande criatividade, o filme tem um ótimo ritmo, alguns mistérios a serem decifrados e vai agradar aos fãs do gênero, sendo sem dúvidas uma produção acima da média, comparada ao que ultimamente tem sido visto no cinema e na TV. 8,6

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LONGING

Dois dos significados do título original deste filme americano de 2024 são “saudade” e “nostalgia”. E não poderia, de fato, haver título mais adequado para a história que aqui é contada, o que, aliás, sempre foi marcante no cinema americano: a capacidade de dar ótimos nomes aos filmes (o que não ocorre com os títulos em português, como regra). Este é um filme difícil, sob certo aspecto bastante pesado e que em sua segunda metade surpreenderá o espectador com fatos que beiram a bizarrice, mas que talvez mais bem pensados ou sentidos possam ter algum nexo lógico, principalmente se avaliados sob o ponto de vista dos sentimentos ou precisamente dos personagens envolvidos. Seja como for, é uma obra complicada de definir quanto ao público que a apreciará. Até porque no IMDb a média é de 4,6, dada por três centenas de pessoas. Talvez até pessoas que tenham filhos sejam mais sensíveis aos fatos do filme…uma boa probabilidade, como também a de cair mais no agrado dos mais velhos. São conjeturas apenas, mas é um tipo de filme que costuma gerar opiniões bem divergentes: os que gostaram bastante dele (meu caso) e os que o detestaram. É um roteiro bem escrito (na verdade um remake do filme de 2017), denso, com temas fortes e sua maior força repousa primordialmente em três fatores: na excelente e sensível direção do israelense Savi Gabizon, na ótima interpretação de todo o elenco, principalmente do protagonista, o veterano e carismático – e ótimo ator -Richard Gere e na imprevisibilidade dos fatos, que muitas vezes habilmente contrariam o que era de se esperar ou algumas expectativas “clichê”. Também atuam no filme Suzanne Clément e Diane Kruger e quem dele gostar terá boas e legítimas emoções – e nesse caso, até o que soa meio bizarro pode se revelar perfeitamente aceitável (e até belo ou lírico), dentro do contexto apresentado. 8,8

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WAZ – MATEMÁTICA DA MORTE (WAZ)

Um drama policial britânico, produzido em 2007, mas que ainda hoje polariza bastante as opiniões de público e crítica, sendo por alguns considerado um filme inovador para a época – e extremamente bem feito dentro do seu estilo – e por outros algo muito superficial em relação ao que poderia ser. Assim, certamente alguns irão gostar ou adorar e outros desgostar ou detestar. Entretanto, o certo é que se trata de uma obra para um público especial (de estômago mais forte e que gostou, por exemplo, de Seven, de 1995), não sendo digerível por pessoas mais sensíveis à violência e a um clima permanente de desordem e decadência, nas lacunas e corrupção policiais e na aridez da cidade grande e incontrolável, repleta de becos, escombros e escuridão, inclusive humana. Embora a história traga a sensação (real) de já termos visto muita coisa parecida, o que aqui se destaca é a forma, ou seja, o modo pelo qual os fatos são mostrados e que eventualmente deixam o conteúdo em segundo plano, brilhando a fotografia, a trilha sonora e a direção de Tom Shankland (série The missing), que torna tudo muito ágil com os movimentos de câmera e com a bela edição, construindo um todo permanentemente tenso, misterioso e até mesmo imprevisível. Os personagens são densos, incluindo a parceira do veterano detetive (interpretada por Melissa George), mas o protagonismo é mesmo do ator Stellan Skarsgärd (Ninfomania I e II, Melancolia etc), que faz aqui um papel difícil, revestido do velho temperamento e comportamento isolacionista, exclusivista e de quem parece atuar sempre à frente do que o roteiro permite conhecer (a atuação de Stellan também é para alguns questionável, diga-se). Em resumo, para quem gosta do gênero, um ótimo programa. Para cinéfilos em geral, deve valer a aposta no risco. 8,7

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AMOR SEM PROMESSAS (TWO PEOPLE)

Lindsay Wagner estrelou este drama romântico de 1973 dois anos anos de ser A mulher biônica, na famosa série de TV. Com 23 anos de idade, já mostrava a bela mulher e atriz que era. Seu partner foi o também jovem Peter Fonda, com 33 anos e que havia atuado no famoso Sem destino (Easy rider) quatro anos antes: Lindsay estreava no cinema e naquele mesmo ano também faria O homem que eu escolhi (The paper chase), com Timothy Bottoms e John Houseman). Também atua no filme Estelle Parsons, que em 1968 havia ganho o Oscar de Atriz coadjuvante pelo filme Bonnie and Clyde. Aqui o diretor é Robert Wise, o mesmo de O dia em que a terra parou, Amor sublime amor e A noviça rebelde e o filme se passa em parte no Marrocos e em parte em Paris e, como o próprio nome já antecipa (lamentavelmente), conta uma história de um difícil envolvimento romântico, de um amor complicado por determinadas circunstâncias, que revelar aqui seria dar spoiler. Mas é um filme interessante, bem conduzido e que apesar de não ter nada de novo no enredo, apresenta situações que envolvem o espectador, inclusive pela atuação do par central e pelo dilema que se apresenta. Simples mas eficiente na mensagem, comovente e no final as reticências até permitem que os românticos possam imaginar bons caminhos, apesar de a realidade parecer acenar de forma diversa. 8,8

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O MATADOR (THE KILLER)

Este filme com a marca de John Woo (muita ação e coreografias de lutas, tiros etc) é na verdade um remake de outra obra do próprio Woo, de 1989 e com o mesmo nome (no Brasil, o título da época foi O matador, nesta resenha repetido, pois por ora só há o título em inglês). O gênero é policial, mas se passa na Paris moderna e tem uma leveza e um clima geral que permitem perfeitamente classificá-lo como comédia. Ótimo ritmo, ação incessante, imagens e direção impecáveis, uma diversão sem qualquer compromisso – inclusive com a verossimilhança em algumas cenas -, estrelada pelo ótimo Omar Sy (Lupin) e por Nathalie Emmanuel (a Missandei de Game of Thrones), tendo também as presenças, entre outros, de Sam Worthington e Diana Silvers. Ótimo entretenimento e ideal para ser acompanhado por pipoca e refrigerante. Estreou nos Estados Unidos há uma semana (23 de agosto de 2024). 8,6

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A AUDIÊNCIA/À SOMBRA DO VATICANO (L´UDIENZA)

O título original desta comédia italiana de 1972 (espécie de sátira na verdade, porque a ironia domina todo o fundo do enredo) é perfeito: A audiência. Porque a história envolve simplesmente o desejo de um homem religioso (Enzo Jannacci) de um encontro particular com o Papa (uma audiência), para poder fazer uma pergunta (misteriosa) ao Sumo Sacerdote. A partir daí seguem-se as dificuldades para alcançar tal objetivo, com uma série de atos e fatos que envolvem principalmente a burocracia e os sistema de segurança do Vaticano, o que na realidade pode ser entendido como uma crítica a tal estrutura e poder. O roteiro é muito bem engendrado e o filme diverte bem, fluindo em geral de modo satisfatório e brindando o espectador com o grande elenco e também com a beleza e o carisma inegáveis da atriz – e musa de uma época – Claudia Cardinale, aqui no auge dos seus 33 anos. O diretor é Marco Ferreri, que, entre outros, dirigiu também A comilança e Crônica de um amor louco. Além de Cardinale, atuam os grandes Ugo Tognazzi, Vittorio Gassman e Michel Piccoli. 8,6

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VÍNCULO MORTAL (LONGLEGS)

Este é um thriller de assassinatos em série, com muita tensão, emoções e sustos, mas com alguns ingredientes além disso. Primeiro, porque há no roteiro policial de crimes e mistérios elementos sobrenaturais. E segundo, porque a despeito do conteúdo mais ou menos previsível, a forma, ou seja, a roupagem da história é realmente diferenciada: os ângulos de câmera, a sequência e interligação das cenas, algumas bastante impactantes, as reticências, os silêncios sonoros e os momentos de impacto da trilha sonora horripilante, tudo é extremamente bem cuidado, de modo que os fãs de gênero têm aqui uma obra imperdível, mas mesmo os que não o apreciam podem se entreter com algo bem pensado e executado. O problema dos não-apreciadores é que se trata de um filme com violência crua e cenas realmente fortes e o enredo aborda apenas ações do mal, nada havendo de edificante ou que possa provocar alívio na fria dureza dos fatos. Talvez apenas a última cena seja a exceção, nesse ponto sendo harmonizada pela música que vem a seguir, juntamente com os créditos finais. Quanto ao elenco, podem ser destacadas as atuações de Maika Monroe e Nicolas Cage: aliás, só com muito esforço conseguimos distinguir traços de Cage por baixo daquela caracterização toda, incluindo a rebuscada e requintada maquiagem, o que a par de ser um trunfo do filme, representa mais um desafio na carreira do ator. Em resumo, um filme aterrorizante e que não se destina a todo tipo de público: mas que os fãs do gênero deverão adorar. 8,6

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A CONFISSÃO (THE CONFESSION/LA CONFESSION)

Os vastos dramas da Segunda Guerra Mundial sempre rendem boas histórias. E o cinema francês sempre foi mestre em contar ou criar muitas delas. É o caso aqui, da França ocupada e da guerra rumando para os seus derradeiros dias, mas ainda com todas as circunstâncias trágicas que a cercaram. Interessante neste caso o foco centrado na espiritualidade, tanto quanto ao tratamento dado aos acontecimentos de opressão e violência, como no tocante aos próprios questionamentos envolvendo a fé, a vocação, a devoção, notamente pelo relacionamento subitamente estreitado entre um padre e uma mulher de ideais comunistas, naturalmente descrente religiosa. A tensão que se cria é difícil de definir e poderá gerar dúvidas e até conclusões enganosas, tudo isso em meio ao caos, à destruição e ao ambiente de miséria e desesperança, no vilarejo rendido pelos alemães. O espectador é envolvido nesse clima e fica efetivamente refém dele, pelo menos por algum tempo. Este filme tem um título muito fácil de confundir, porque existem vários semelhantes no cinema. Neste caso, trata-se de um drama de guerra feito em 2016 e baseado em obra literária, estrelado por Romain Duris e Marine Vacth (ela como sempre ótima), ele tendo feito filmes como Eiffel, O albergue espanhol, Bonecas russas e ela Jovem e bela, O amante duplo, A farsa, entre muitos outros. O diretor é o francês Nicolas Boukhrief e já houve inclusive filme anterior (de 1961) baseado no mesmo livro (emborra sob diferentes enfoques), no caso estrelado por Jean-Paul Belmondo e Emmanuelle Riva, de nome Léon Morin – o padre. O final deste filme deixa um certo nó na garganta, mas também é certo que proveniente de um artifício dramático já reprisado em diversas obras e que evoca a nostalgia e o sentimentalismo. 8,6

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ZODÍACO (ZODIAC)

O roteiro premiado deste thriller de 2007 é muito bem estruturado e o filme segue com ritmo investigativo jornalístico, apesar de haver paralelamente a atividade policial em busca do serial killer que no final dos anos 60 e anos 70 deixou em pânico a cidade de São Francisco e arredores. O filme é baseado em fatos reais e reconstitui dinamicamente muitos fatos que envolveram a busca da polícia e da imprensa por um criminoso que deixava pistas repletas de símbolos para seus crimes violentos, às vezes também fazendo exigências e se comunicando por telefone com a mídia, com ameaças inclusive. A fotografia e a trilha têm destaque, mas o diretor e o elenco chamam a atenção. Quem dirige o filme é simplesmente David Fincher, que já deu ao cinema obras como Seven, Clube da Luta, Garota exemplar, O curioso caso de Benjamin Button, A rede social e o elenco tem nomes como Jack Gyllenhaal, Robert Downey Jr, Mark Ruffalo e Anthony Edwards, mas um elenco de apoio também estelar, composto entre outros por Dermot Mulroney, Brian Cox e Chloë Sevigny. Acompanhamos as investigações por mais de uma década (porque o assassino conhecido como Zodíaco sumiu por quase 5 anos) e na parte final do filme se acentua o trabalho da imprensa em busca das respostas, representada pelo ótimo Gyllenhaal. É quando a ação se intensifica, embora não seja um filme com muitos momentos reais de ação, o que é apontado com um de seus pontos negativos, juntamente com sua longa duração. Na verdade, é um trabalho de fôlego, embora talvez seja superestimado quando colocado entre os maiores filmes da história do cinema. 8,6

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ALGUNS DIAS COMIGO (QUELQUES JOURS AVEC MOI)

A rigor mesmo, esta comédia francesa de 1988 tem um roteiro simples, apesar de alguns bons momentos de humor sarcástico e certos personagens bem interessantes. Mas se sustenta bem pelo ritmo e pelo acompanhamento do destino dos protagonistas com a torcida do espectador, que na verdade não tem motivos para ser otimista por um final feliz. Seja como for, há momentos divertidos, um ótimo elenco, com presença de veteranos e também de quem consolidaria depois sua fama na cinematografia francesa: Daniel Auteuil (Conversas com meu jardineiro, Bélle Epoque, MR73, Um coração no inverno), Vincent Lindon (O valor de um homem, Em guerra, Titane) e da encantadora Sandrine Bonnaire aos 21 anos (Xeque-mate, Um homem meio esquisito, Sob o sol de satã, Mulheres diabólicas), todos bem conduzidos pelo veterano diretor Claude Sautet (Borsalino, O velho fuzil, Um coração no inverno). O filme também destaca as performances de Jean-Pierre Marielle e Dominique Lavanant (o casal Fonfrin), que juntamente com Auteuil foram indicados ao Cesar 1989 por este filme. Drama com pitadas de crítica social, de romance e até de tragédia, consistindo em um bom divertimento, sem maiores responsabilidades. 8,5

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ATERRORIZADOS (ATERRADOS)

Este é um filme de terror sobrenatural com muito suspense, cenas de tensão e sustos, lançado em 2017 e ambientado em um bairro de Buenos Aires. A trilha sonora é um dos destaques, bem como as atuações e a própria direção de Demian Rugna. Aqueles que não são muito afeitos ao gênero, mesmo assim poderão apreciar o filme como uma obra bem realizada e que dentro de seu propósito realiza perfeitamente o objetivo. Já os fãs ficarão plenamente satisfeitos e até extasiados, porque se trata de um filme que explora muitíssimo bem tanto fatos já vistos à exaustão em outros filmes (clichês de sustos e fatos, como o policial que está prestes a a aposentar), quanto cria situações singulares e que mantém pleno e constante o suspense. Com extrema competência em termos de direção, edição, atuações, efeitos etc, comprova que o cinema argentino também tem filmes marcantes em um gênero que normalmente não costuma (va) explorar. De tirar o sono e testar a coragem de quem vai assistir ao filme sozinho, com as luzes apagadas e fone de ouvido. Dentro do gênero, um filme indispensável. 8,5

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ARMADILHA (TRAP)

Filme mais recente de M. Night Shyamalan, diretor dos inesquecíveis O sexto sentido e Corpo fechado, entre outros (Sinais, Fragmentado etc). A direção do filme é realmente de alto nível, o indiano não deixando dúvidas quanto a ser um cineasta de primeira linha, notadamente em filmes de suspense. Aliás, a tensão e o suspense são muito bem construídos ao longo de toda a história, ainda sendo valorizados pela ótima trilha sonora e pelo competentíssimo uso das câmeras. Além das boas performances. O “pano de fundo” e que na verdade acaba passando ao protagonismo em inúmeros momentos (dizem que para promover a jovem – e talentosa, diga-se – filha do diretor ao mundo artístico) é um grande show, comandado por uma ídola pop: aliás, graças a esse espetáculo e sua perfeita sintonia com os fatos que se passam na plateia (envolvendo o protagonista e sua filha), a primeira metade do filme é excelente. Como curiosidade, sobre tais aspectos, o diretor teria declarado que quando pensou em escrever o filme lhe vieram à mente um clássico do suspense e uma diva pop: O silêncio dos inocentes e Taylor Swift. Critica-se o fato de muito cedo já sermos apresentados ao serial killer, mas essa foi uma escolha consciente – e importante – do roteiro e, assim, não deve ser discutida. Pelo que se diz, a “força-tarefa” que também inspirou o diretor – e é elemento fundamental no enredo – também se baseia em práticas reais da polícia americana. Outra curiosidade: consta que parte das ótimas músicas apresentadas foi composta especialmente para o filme. Entretanto, se a primeira parte foi quase perfeita, a segunda metade do filme (e que o torna sombrio e em parte até apavorante) apresenta algumas inconsistências, exageros e incoerências, à medida em que os acontecimentos se acumulam e vemos o personagem de Josh Hartnett (Dália negra, Pearl Harbor) ficar cada vez mais acuado. Também discutível a última cena (na verdade penúltima, dentro do veículo) e o alívio cômico na parte dos créditos finais (esta a última cena), em suma, a segunda metade do filme não tem a mesma qualidade harmônica da primeira, mas mesmo assim é uma ótima diversão para quem aprecia o gênero e confirma a assinatura de um criativo e competente cineasta. 9,0

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A CHAVE (THE KEY)

William Holden era um ícone de Hollywood na época deste filme, com 40 anos, tendo protagonizado simplesmente Crepúsculo dos deuses, Sabrina, Inferno número 17, Férias de amor, Suplício de uma saudade, entre outros, e Sofia Loren, com 23 anos, estava nos seus primeiros anos de cinema, lançada pelo marido Carlo Ponti; já havia feito uma dezena de filmes (Quo Vadis, A lenda da estátua nua etc) e poucos anos depois faria sucesso com El Cid, Os girassois da Rússia, O homem de La Mancha e assim por diante. Ela também viraria uma estrela, portanto, e além disso ambos sempre se destacaram como ótimos intérpretes, além de pela aparência. Finalmente, Trevor Howard sempre foi um ator repeitado e extremamente produtivo (O terceiro homem, O grande motim, A filha de Ryan, iniciando a carreira com Desencanto de 1945). Este filme anglo-americano de 1958, dirigido pelo britânico Carol Reed (O terceiro homem, Trapézio), não é muito conhecido, mas merece ser visto, pois tem um roteiro de qualidade, muito bem estruturado e desenvolvido. E o final foge inteligentemente do lugar comum. Um drama interessante, que na realidade mostra um aspecto pouco conhecido da guerra, paralelamente desenvolvendo um tema instigante e curioso de relacionamento humano, que acaba sendo o foco central e justifica o título do filme. Somos apresentados às embarcações rebocadoras, que na Segunda Guerra (no caso, 1941) tinham a importante missão de socorrer navios com problemas ou abatidos pelos inimigos alemães (geralmente submarinos), mas enfrentavam o perigo maior de estarem mal armados para se defenderem de eventuais ataques; e a seus comandantes/capitães e tripulações, que muitas vezes iam para as missões já com o mau pressentimento de delas não regressarem. De outro lado, os relacionamentos humanos domésticos de cada um, que não sabia se voltaria vivo da próxima missão. 9,0

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38 TESTEMUNHAS (38 TÉMOINS)

A modernidade e a correria dos tempos atuais, cada um se preocupando com sua vida e com sua sobrevivência (a solidão), a violência desenfreada e incontrolável, a inoperância das autoridades e a ineficiência do sistema de justiça, a corrupção, a privacidade e o cansaço pelo trabalho, a intimidade da madrugada, a burocracia das delegacias e dos inquéritos, tudo isso justifica a omissão? Tanto a omissão de socorro quanto à omissão de se denunciar um fato criminoso para não se envolver? Quais as consequências disso tudo na comunidade, no dever de cidadania, nos relacionamentos afetivos? É um retrato generalizado da sociedade atual? Não existirá sentimento de culpa? Esse pouco caso com o próximo, essa indiferença coletiva? Este filme francês de 2012 é sobre isso tudo. Tendo em seu elenco de mais conhecida a atriz Nicole Garcia, dirigido e roteirizado pelo belga Lucas Belvaux (ator, roteirista e diretor prolífico), é uma obra com ritmo lento, mas visceral em seu tema e propósitos e por esse motivo merece ser apreciado, a despeito de pecar por uma ou outra atuação, algumas falhas de roteiro e pela sua frieza, como alguns filmes franceses mais antigos, aos quais falta desenvolver com maior competência um elemento essencial, que é a emoção do espectador. 8,4

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CULPA E DESEJO (L´ÉTÉ DERNIER)

Este drama francês concorreu em Cannes 2023 (portanto, indicado à Palma de Ouro), sendo um filme denso, com cenas fortes e alguma tórridas (não recomendável, portanto, para menores), envolvendo temática já vista antes, mas sempre perturbadora (porque tabu) e que possibilita abordagens diversas e inclusive originais. Invariavelmente chocantes e com derivações que podem ou não ser inesperadas ou seja podem surpreender. Co-produção norueguesa, apresenta uma competente direção de Catherine Breilat (Anatomia do inferno, Para minha irmã) e maravilhosas performances do elenco central, composto por Léa Drucker, Olivier Rabourdin e o jovem Samuel Kircher, em seu primeiro desempenho no cinema. Um filme difícil, que não serve a todos os gostos e que se tornou polêmico inclusive no gosto popular, ostentando diversas críticas e conceitos negativos. Contudo, como obra cinematográfica, é um trabalho que merece a devida valorização, pelo conjunto de fatores e pelo enredo, que segue certamente caminhos imprevisíveis a partir de determinado ponto, levando o espectador a ficar em dúvida sobre o desenlace dos fatos. O filme foi apresentado no famoso Festival Varilux do Cinema Francês 2023 e infelizmente todos os cartazes contêm spoiler, embora o próprio título em português, pra variar, já escancare o elemento principal do enredo. Observação: o título original significa mera e sutilmente “Verão passado”. 8,6

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ERVAS SECAS

Um longa-metragem de 2023 em idioma turco, ambientado na Anatólia (vasta região da Turquia), co-produzido por França, Alemanha e Suécia e dirigido pelo aclamado cineasta turco Nuri Bilge Ceylan (Sono de inverno – Palma de Ouro em 2014). A história é baseada no diário de Akin Aksu, que durante três anos foi professor justamente na referida região. Este filme concorreu a representante da Turquia no Oscar 2024 e também em Cannes de 2023, onde a atriz Merve Dizdar acabou sendo escolhida como a Melhor Atriz do festival (na realidade, o elenco todo é maravilhoso). Trata-se de um “filme de arte”, daqueles que desafiam o espectador em diversos sentidos, exigindo paciência – inclusive em razão de sua longa duração – e reflexão, e desde logo tornando obrigatório o distanciamento das obras cinematográficas de fácil ou rápido consumo e o degustar lento e progressivo – na medida do aprofundamento  principalmente dos personagens, com foco principal no protagonista, muitíssimo bem interpretado por Erdem Senocak e intrigantemente multifacetado (em seus atos e em seu caráter). Essencial também a compreensão de que há muitas lacunas a serem preenchidas, mas também, dentro de um conteúdo social, político e filosófico, reticências que não serão esclarecidas. Um dos elementos importantes do filme é o clima, que se harmoniza com o distanciamento local e das pessoas, inseridas em um contexto que exige apropriadas condutas morais e éticas, elementos essenciais do enredo e que orbitarão principalmente em torno da relação professor-alunos (aluna) e professor-escola e ensino. Muito interessante o fato de que a falta de algumas respostas ou das costumeiras cenas explicativas ao espectador deixará dúvidas sobre a realidade que pode ser percebida. Há ótimas falas e excelentes diálogos envolvendo vários personagens e temas, inclusive relacionados ao direito dos jovens alunos, nesse particular lembrando obra recente do cinema alemão (A sala dos professores, igualmente de 2023) e a vida difícil dentro da geografia, com perspectivas limitadas quanto ao futuro, o que tornaria reduzido o sentido do próprio ensino. Absolutamente inesperada e impactante, a certa altura do filme, a chamada quebra da quarta parede, que alguns críticos justificam como uma forma de o diretor enaltecer a fantasia envolvendo a conduta do protagonista, mas que outros afirmam que na realidade se trata de uma resposta de Ceylan aos que o criticaram duramente por não assumir firmes posições sócio-políticas, deixando claro que seu papel primordial é o de cineasta e não o de um ativista político. Se assim for, nada menos do que brilhante! 9,0

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AMOR EXTREMO (THE EDGE OF LOVE)

Este é um drama de guerra britânico, de 2008, com toques de romance e biográficos, uma vez que também aborda fatos (e vários) textos vinculados o poeta Dylon Thomas (interpretado por Mattew Rhys), que foi, com sua escrita pungente e densa, um dos mais importantes nomes da Inglaterra do século 20 e que, apesar de ter morrido aos 39 anos, deixou uma obra bastante importante e influente. A época é da segunda guerra e há imagens fortes, inclusive da própria guerra e de suas consequências, assim como o filme é pesado na abordagem dos relacionamentos, na verdade pouco usuais, entre os personagens, interpretados pelo já citado Rhys (da série The americans) e também por Keira Knightley (Desejos oficiais, Desejo e reparação), Sienna Miller (Anatomia de um escândalo, Nem tudo é o que parece) e Cillian Murphy (Oppenheimer). Com destaque também para a trilha sonora, um filme bem produzido e dirigido por John Maybury (Camisa de força), embora em alguns momentos sejam sentidas algumas dessintonias de roteiro ou de edição e que comprometem um pouco tanto a harmonia, quanto a continuidade, como se fosse uma minissérie condensada. A tensão, inclusive sexual, e a essência da narrativa, porém, são alimentadas satisfatoriamente e a história prende o interesse até o final, inclusive pela complexidade das relações pessoais enfocadas e a imprevisibilidade dos acontecimentos. 8,7

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FIREBRAND

Drama histórico britânico de 2023, dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz (A vida invisível, Praia do futuro) e baseado em romance escrito por Elizabeth Fremantle em 2013. Apresenta excelentes interpretações, notadamente de seu par central, Alícia Vikander e um irreconhecível (fisionomicamente) Jude Law, enfocando a época do sexto e último casamento do rei inglês Henrique VIII (que governou de 1509 a 1547), no caso com Catarina Parr. Apesar de que esse monarca ficou muito conhecido pelas seis “esposas” e pela criação da Igreja Anglicana (rompendo, assim, a duras penas, com a Católica), sua importância foi muito além disso, envolvendo também profundas reformas políticas e sociais na Inglaterra, que tiveram grande repercussão no tempo. A filha de Henrique com Ana Bolena, conhecida como Elizabeth I, foi 11 anos depois da morte do pai rainha inglesa por 45 anos, tendo sido seu longo reinado conhecido como Era Elisabetana, porquanto fonte de expressivo incremento cultural e desenvolvimento marítimo. Quanto ao angligacionismo, seu surgimento foi motivado pela paixão do rei por Ana Bolena e o desejo de se divorciar de Catarina de Aragão, com o que a Igreja Católica não concordou, tendo o Papa da época inclusive (Clemente VII) expressamente negado a anulação do casamento. É um filme histórico com enfoques fortes e dramáticos e retrata a época de modo caprichado (incluindo cenários e figurinos), com elementos sombrios típicos, potencializados pela trilha tensa, além de enaltecer entre outros aspectos o lado musical (de compositor) do monarca. Entretanto, o desenvolvimento da ação não é “redondo” e há algumas falhas de roteiro e quebras de continuidade (como a rainha passar as mãos de sangue no rosto e segundos depois aparecer com o rosto limpo…), embora não se trate de pecados de grande monta. No geral uma bela obra e que inclusive acrescenta um novo e talvez inédito fato ao que a história conhece sobre o final do reinado de Henrique VIII. 8,5

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MERGULHANDO NO AMOR (FIND ME FALLING)

Filme simples, produção Netflix lançada em 2024, gênero comédia romântica, pode-se até dizer que no estilo “água com açúcar”. Sendo assim, é evidente que muitos já foram vistos com as mesmas características, com cenas parecidas, soluções de conflitos semelhantes, em suma, um enredo facilmente previsível. Entretanto, este aqui tem três diferenciais importantes e que fazem com que deixe de ser a “bobagem romântica” da maioria desses tipos de filmes: o roteiro com detalhes criativos e um ou outro fato inesperado, a diretora sul-africana (e Cipriota) Stelana Kliris que conduz tudo com rara competência (evitando cair em melodrama barato) e o elenco enfrenta os estereótipos com interpretações seguras e naturais e que dão credibilidade e nobreza à história, que, assim, acompanhamos com diversão, prazer e alguma emoção, ainda sendo brindados com um real (famoso e muito premiado) cantor/compositor como protagonista – e que compôs duas das músicas do filme: “Girl on the beach” e “Find me falling” -, Harry Conick Jr. e com belos cenários da ilha de Chipre (colonizada pelos gregos – razão do idioma falado em parte do filme – e situada no Mar Mediterrâneo). No fim das contas, um delicioso passatempo, mas que de modo algum agride a sensibilidade e o bom gosto espectador, apesar de ter recebido baixas avaliações de uma parte da crítica e também do público. 8,5