Um longa-metragem de 2023 em idioma turco, ambientado na Anatólia (vasta região da Turquia), co-produzido por França, Alemanha e Suécia e dirigido pelo aclamado cineasta turco Nuri Bilge Ceylan (Sono de inverno – Palma de Ouro em 2014). A história é baseada no diário de Akin Aksu, que durante três anos foi professor justamente na referida região. Este filme concorreu a representante da Turquia no Oscar 2024 e também em Cannes de 2023, onde a atriz Merve Dizdar acabou sendo escolhida como a Melhor Atriz do festival (na realidade, o elenco todo é maravilhoso). Trata-se de um “filme de arte”, daqueles que desafiam o espectador em diversos sentidos, exigindo paciência – inclusive em razão de sua longa duração – e reflexão, e desde logo tornando obrigatório o distanciamento das obras cinematográficas de fácil ou rápido consumo e o degustar lento e progressivo – na medida do aprofundamento principalmente dos personagens, com foco principal no protagonista, muitíssimo bem interpretado por Erdem Senocak e intrigantemente multifacetado (em seus atos e em seu caráter). Essencial também a compreensão de que há muitas lacunas a serem preenchidas, mas também, dentro de um conteúdo social, político e filosófico, reticências que não serão esclarecidas. Um dos elementos importantes do filme é o clima, que se harmoniza com o distanciamento local e das pessoas, inseridas em um contexto que exige apropriadas condutas morais e éticas, elementos essenciais do enredo e que orbitarão principalmente em torno da relação professor-alunos (aluna) e professor-escola e ensino. Muito interessante o fato de que a falta de algumas respostas ou das costumeiras cenas explicativas ao espectador deixará dúvidas sobre a realidade que pode ser percebida. Há ótimas falas e excelentes diálogos envolvendo vários personagens e temas, inclusive relacionados ao direito dos jovens alunos, nesse particular lembrando obra recente do cinema alemão (A sala dos professores, igualmente de 2023) e a vida difícil dentro da geografia, com perspectivas limitadas quanto ao futuro, o que tornaria reduzido o sentido do próprio ensino. Absolutamente inesperada e impactante, a certa altura do filme, a chamada quebra da quarta parede, que alguns críticos justificam como uma forma de o diretor enaltecer a fantasia envolvendo a conduta do protagonista, mas que outros afirmam que na realidade se trata de uma resposta de Ceylan aos que o criticaram duramente por não assumir firmes posições sócio-políticas, deixando claro que seu papel primordial é o de cineasta e não o de um ativista político. Se assim for, nada menos do que brilhante! 9,0