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OS DESAJUSTADOS (THE MISFITS)

Com título traduzido literalmente para o português, este filme de 1961 não é dos mais comentados. Mas acho que merecia. Primeiramente porque tem um diretor (John Huston), um roteirista (Arthur Miller) e um elenco de muito respeito, não só pela qualidade, mas também pela condição de mito hollywoodiano de alguns: Marilyn Monroe e Clark Gable basicamente, em escala menor Montgomery Clift e um não-mito mas muito bom e prolífico ator, Eli Wallach. Começando por este último, é conhecido em dezenas de filmes, como Três homens em conflito e Sete homens e um destino. Montgomery Clift também teve vários trabalhos importantes, como em Um lugar ao sol, A um passo da eternidade, Freud além da alma e participação em meia centena de produções, em muitas com sua imagem que sugeria rebeldia, à lá James Dean. Clark Gable neste filme embora com 60 anos, ainda mantinha a imagem de virilidade que sempre o distinguiu e já era mito e galã de Hollywood desde a década de 30, naquela época participando de filmes como Susan Lennox, Uma alma livre e, naturalmente, E o vento levou, que o tornou definitivamente um ícone do cinema a partir de 1939: Gable morreria dois dias após as filmagens de Os desajustados, de um ataque cardíaco. Marilyn Monroe, como um dos maiores símbolos sexuais do século 20 e suposta amante do presidente Kennedy, dispensa comentários, com seu jeito peculiar de falar e de se movimentar, muito bela, curvilínea, sexy e naturalmente voluptuosa e geralmente fazendo o gênero “inocente-tola, mas com lampejos”. Aqui não é muito diferente, mas esses “lampejos” são os responsáveis pelos grandes momentos dramáticos, emocionais/existenciais e impactantes do filme. Marilyn na época estava com 35 anos, vários trabalhos famosos (Os homens preferem as loiras, Como agarrar um milionário, O rio das almas perdidas, O pecado mora ao lado, Quanto mais quente melhor) e teria dito a respeito de Gable em razão deste filme: “nunca tentei tanto conquistar um homem”. Marilyn Monroe morreu no ano seguinte ao da produção, em 1962, por excesso de barbitúricos ou causas ainda totalmente desconhecidas. Arthur Miller foi um dos mais famosos dramaturgos americanos, casou com Marilyn Monroe de 1956 a 1961 (quando se divorciaram no início do ano) e foi autor de inúmeras peças, entre elas A morte do caixeiro viajante (vencedora do Pulitzer, do Tony e do prêmio dos Críticos de Teatro de NY) e As bruxas de Salem. E John Huston dirigiu praticamente meia centena de filmes, entre os quais Relíquia macabra, O tesouro de Sierra Madre, O segredo das joias, Uma aventura na África, O homem que queria ser rei, Chinatown. Também participa no começo do filme a atriz Thelma Ritter, que também é bastante conhecida e atuou em diversas produções. Este é um filme triste, melancólico, que se desenvolve lentamente, com a aridez do Estado de Nevada e também dos personagens, todos em busca de algo que na verdade todos buscam (!), mas que tem diálogos excelentes, belas imagens e interpretações e, como dizem, “a última meia hora vale o filme!”. Realmente, a parte final do filme é espetacular, em todos os sentidos, principalmente por ter vários e importantes significados. Grandes e inesquecíveis imagens, diálogos pungentes e mensagens existenciais efetivamente marcantes. Podemos chamar esses 30 minutos finais de “as cenas dos cavalos” e quem assistir ao filme não esquecerá delas facilmente, por tudo o que representam e pelas emoções que propiciam, ainda mais emoldurando a atuação de grandes ídolos do cinema. 9,0