Um filme do ótimo cinema dinamarquês, com o excelente ator Mads Mikkelsen e dirigido por Thomas Vinterberg, que também dirigiu Festa de família e o elogiado A caça, este com o mesmo Mads. Trata-se de um drama com toques de comédia e de tragédia, baseado em peça escrita pelo próprio diretor e que também se inspirou nas histórias contadas pela filha Ida, que logo após as filmagens morreu tragicamente, tendo sido o filme inclusive dedicado a ela –e em razão de sua morte, parte do roteiro foi refeito e algumas cenas foram filmadas com seus colegas reais em sala de aula. A história do filme mostra uma crise de meia idade, existencial, porém concentra sua energia na teoria de um filósofo norueguês, que acabou sendo bastante propagada pelo ator Humphrey Bogart e até mesmo pertence ao rol de citações lendárias do poeta Vinícius de Morais (que teria dito –ou adaptado- que todos nós nascemos com uma dose a menos). É uma teoria que envolve o álcool e seu consumo moderado para integralizar as pessoas em sua capacidade, criatividade e energia (em outras palavras: despertar as pessoas para a vida), todavia também nos são mostrados os perigos do excesso e a dificuldade dos limites, com os riscos possíveis e latentes de uma real desagregação/desconstrução pessoal e familiar. O filme, que ganhou vários festivais (e iria estrear em Cannes 2020 não fosse a pandemia), diverte, porém nos seus momentos cruciais provoca sensações de puro impacto e o choque permanece, transportando-nos através de variados sentimentos, mesmo ao som da alegre música What a Life de Scarlet Pleasure, que emoldura a imprevisível e, afinal, memorável cena que fecha brilhantemente o filme. 8,7
