M O VAMPIRO DE DUSSELDORF
Plagiando alguém: depois deste filme de 1931, a música In the hall of the mountain king (composta por Grieg em 1875) jamais será ouvida da mesma maneira! Porque neste filme, o primeiro falado do aclamado cineasta alemão Fritz Lang (de Metrópolis, de 1927), a música durante toda a história é associada ao assassino de crianças conhecido como “M” (que nos é mostrado como alguém doente mentalmente), que a assobia praticamente em cada cena que aparece. Aliás, este que não é um filme de vampiros (apesar do título em português – não confundir com “Nosferatu”, de 1922), foi também a primeira obra cinematográfica a tratar do tema “serial killer”. Mas não se trata aqui apenas de um thriller policial e que arranja magistralmente tanto o som, quanto a imagem (fotografia, ângulos e movimentos de câmera, inclusive com vários significados…): existe aqui uma manifestação sócio-política poderosa, em época de pré-nazismo. Nesse sentido o filme apresenta cenas longas – talvez o seu maior defeito – para mostrar a ineficácia da polícia diante de um assassino que deixa recados eloquentes, as instituições em polvorosa em meio a gritos, discussões e muita fumaça de cigarro e ainda a exploração de outros temas, como a improvável milícia de criminosos e mendigos à caça do assassino, a paranoia popular, o caos e a convulsão social e finalmente, em um final memorável, o eterno conflito entre o legal e o justo. Além de momentos desnecessariamente extensos, há também vários personagens caricatos, mas se trata aqui de uma obra em que suas grandes virtudes (principalmente para a época) prevalecem com sobras sobre os quase imperceptíveis defeitos. Entre os méritos também está o caprichado acabamento, digno de nota em cada detalhe, a tensão que nos mantém interessados durante todo o enredo e a investigação dos fatos, no início inclusive deixando o criminoso em misterioso segundo plano e imerso em sombras. Temos também um Peter Lorre em grande atuação (inclusive mostrando muito bem o sofrimento de seu personagem, fato que pode parecer paradoxal mas não é) e um uso do som com grande competência, embora incipiente no cinema, além de o belo roteiro mostrar as lacunas do sistema e formular diversas perguntas, deixando, de forma magistral, a derradeira para que o próprio espectador responda, após tirar conclusões sobre o bem e o mal e sobre o que é correto e o que é legal: pois, afinal, não se deve abstrair o fato de se tratar de um assassino de crianças e fazer prevalecer o devido processo legal, mesmo sobre contra a vontade e o clamor geral, inclusive evitando a histórica e selvagem “justiça pelas próprias mãos”? 9,0