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A FILHA DE RYAN (RYAN´S DAUGHTER)

David Lean dirigiu filmes notáveis, como Grandes esperanças, A ponte do Rio Kwai, Oliver Twist, Doutor Jivago, Lawrence da Arábia, Passagem para a Índia, mas este filme está certamente entre as suas obras-primas. Da primeira à derradeira cena, um filme perfeito, já chamando a atenção inicial pela exuberante fotografia (que predomina durante todo o filme) e consolidando sua qualidade por um roteiro consistente e de notável riqueza e pelas interpretações superlativas. A cena da sombrinha no início (a do cartaz aqui publicado) daria certamente uma bela tela de Monet. Apesar de ter ganho apenas os Oscars de Melhor ator coadjuvante (para o extraordinário John Mills) e de Melhor fotografia, mereceria muito mais, pois todas as atuações são memoráveis, o roteiro é espetacular e complexo e há diversos personagens que se destacam de um modo absolutamente marcante, interpretados por Sarah Miles, Trevor Howard (magistral como o padre irlandês) e Robert Mitchum, entre outros. Fora a singular e bela música-tema. Inesquecíveis as performances e os variados personagens em uma história ricamente construída, embora se passe em uma minúscula aldeia à beira-mar na costa da Irlanda –  no tempo da Primeira Guerra Mundial, em 1916, quando a população simpatizava com os rebeldes e até com os alemães, tal a aversão que sentia pelos dominadores ingleses: há cenas espetaculares a respeito desse tema, aprofundado também de uma forma proverbial. Como exuberante é a natureza que o filme mostra, inclusive em cenas inesquecíveis, tanto de cenários paradisíacos, como das facetas selvagens da natureza, envolvendo águas bravias e implacáveis, castigando homens e coisas em um momento fundamental do enredo. O filme tem vários enfoques, trazendo romantismo, lirismo, beleza, poesia, mas também crueldade, realismo, pincelados por inesperados momentos de lucidez e tudo se desenvolve com maestria, embora geralmente sem pressa. Extraordinária a forma inteligente e sutil pela qual o “bobo” revela para todos o segredo do casal! Os temas se entrelaçam e se dissolvem, se misturam e parece que se resolvem, provocando toda a gama de emoções no espectador, que ao final ainda ficará com um dilema ou um ponto de interrogação, como se já não fossem suficientes todos os momentos intensos experimentados ao longo de uma metragem inclusive acima do padrão. Britânico, produzido em 1970, cinema de altíssima qualidade, um filmaço, simplesmente inesquecível. 10,0