CLEÓPATRA

Um filme monumental, com mais de quatro horas de duração (e ainda foi reduzido das seis horas iniciais) e que quase levou a 20th Century Fox à falência. Além de ser uma superprodução e dos seus vultosos gastos inclusive operacionais, houve vários problemas durante as filmagens (com mudanças de diretor, elenco, cenários etc e o escândalo do romance entre Elizabeth Taylor -casada na época- e Richard Burton, que se casariam somente algum tempo após o lançamento do filme). Mas realmente é uma produção fabulosa. E não apenas pela sua exuberância visual, fotografia, trilha, figurinos (há cenas extremamente marcantes, como as da entrada de Cleópatra em Roma, da galé egípcia real navegando, do banquete de mil e uma noites no barco etc), mas também porque é um dos filmes épicos que mais bem retrata a realidade da história, de Roma, do Egito e da trajetória de Júlio César e Cleópatra, como encontramos nos livros e nos relatos feitos. É um dos raros filmes que mostra um Júlio César humanizado, mas poderoso, corajoso mas sensato, inteligente e estrategista, enfim, um “quase Deus romano” dotado de sensibilidade e prudência ao agir, notadamente nos conflitos de poder/autoridade com Cleópatra, que renderam ótimos diálogos e momentos do filme. Além disso, o filme mostra que César tinha um problema recorrente de saúde, sujeitando-se a fortes ataques que os historiadores discutem se de epilepsia ou de uma fortíssima enxaqueca. A história do filme começa com a derrota da legião de Pompeu (e sua fuga) para a de César e depois a ida deste último ao Egito (país grande produtor de trigo e por isso essencial foco dos interesses romanos), passa pelo incêndio de parte da Biblioteca de Alexandria por volta de 46 a.C. (a cidade era a capital do Egito na época, na qual vemos o famoso Farol em uma ponta: uma das Sete Maravilhas do mundo antigo), pelo assassinato de César, a assunção de seu braço direito Marco Antonio, o comando do império pelo herdeiro de César, Otávio, até a invasão do Egito pelos romanos e as cenas finais que ficaram famosas na história, envolvendo Cleópatra e Marco Antonio (e a áspide). Todo o elenco está excelente, principalmente Rex Harrison/Júlio César (indicado ao Oscar de Melhor ator), Elizabeth Taylor/Cleópatra (que poderia ter sido indicada perfeitamente), Richard Burton/Marco Antonio e Martin Landau/Rufio. Roddy McDowall não compromete no papel de Otávio, mas eu acho esse ator sempre meio caricatural: isso à parte e de todo modo, ele foi, na vida real, talvez o maior amigo de Liz Taylor, desde a juventude e até a morte da atriz, curiosamente sendo além de ator também ótimo fotógrafo e tendo tirado a única foto em que Taylor aparece nua, quando tinha cerca de 20 anos de idade, sendo tal foto vendida a um colecionador e divulgada apenas depois do falecimento da diva. O diretor foi o celebrado e prolífico Joseph Mankiewicz (Quem é o infiel, A malvada, Júlio César, A condessa descalça…) e o filme foi indicado a 9 Oscars, ganhando os de Figurino, Fotografia em cores, Direção de arte em cores (essa não tinha como não ganhar!) e Efeitos visuais e perdendo nas categorias de Filme, Ator (Rex Harrison), Edição, Trilha sonora e Mixagem de som. 9,0