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CADA UM VIVE COMO QUER (FIVE EASY PIECES)

Um filme de 1970 do qual não gostei muito, achando muito deprimente, aborrecido em muitos trechos e aspectos e sem uma coerência aceitável em determinados detalhes, além de datado, apesar de tratar justamente de um personagem perdido e à procura de algo que nem mesmo ele parece saber, despido de sonhos, de sentimentos e até de caráter. Mas o filme pode e deve agradar alguns (e até bastante, principalmente os intelectuais e os que gostam de filmes de arte – porque há um conteúdo a ser discutido) e tem algumas relevâncias, embora caiba a advertência de que são qualidades artísticas e de obra cinematográfica e não exatamente relativas a uma boa diversão. O filme efetivamente não é divertido. É seco e estranho, como o personagem de Jack Nicholson, que aqui sem dúvidas é um dos pontos positivos: o ator tinha 33 anos nessa época e já interpretava com destaque, principalmente um personagem difícil, como é o de Robert. Com ele inclusive há várias cenas no mínimo interessantes, como a do piano em cima do caminhão, a do acesso de histerismo/raiva dentro do carro e, claro, a cena final, que efetivamente tem total sentido dentro do contexto. Ele estava praticamente iniciando no cinema de sucessos que viriam depois em doses bem maiores (com Ânsia de amar, Chinatown, Um estranho no ninho, O iluminado, Batman etc) e antes deste filme havia participado apenas de seis ou sete produções, embora algumas importantes como A pequena loja de horrores, O corvo e Sombras do terror, mas principalmente Sem destino, de 1969, onde fez grande sucesso embora em papel secundário. Neste filme o personagem vive em conflitos, com mil mundos habitando sua cabeça e em permanente crise existencial, o que de fato passa certa angústia ao espectador, mérito também do diretor Bob Rafelson (Sem destino, O destino bate em sua porta, Sangue e vinho (todos com Jack), A última sessão de cinema, Despedida em Las Vegas, entre outros). É um drama melancólico, com tons deprimentes, todavia todo o clima que passa é evidentemente proposital, de modo que devem ser reconhecidas suas qualidades também nesse aspecto, sendo talvez a mais perturbadora a relação de Robert com Rayette, personagem esta que escancara a miséria humana da submissão feminina: apenas ela parece não perceber o absurdo e a infelicidade na qual vive com o companheiro opressor (e desinteressado por ela verdadeiramente) e agressivo, mendigando carinho e prostrando-se na inércia de quem não ter outra alternativa a não ser seguir sendo humilhada e tratada como objeto. Nesse sentido, palmas também para a atriz Karen Black, que faz Rayette e que foi indicada ao Oscar de Atriz coadjuvante pelo papel. O filme teve outras três indicações: Melhor filme, Melhor ator e Melhor roteiro original. Também trabalha no filme, entre outros, Susan Anspach, com quem, dizem, Nicholson tinha um relacionamento amoroso à época. Por fim, outro fator positivo é a trilha sonora, que mistura músicas clássicas (Chopin…) com as bem típicas dos anos 60/70, começando com Stand by your man -que inicia o filme e já antecipa as escolhas de Rayette…nesse sentido, seria a plácida submissão, mas existem os que defendem o sentido do amor verdadeiro! Essa canção (que alavancou a carreira de Tammy Wynette) e algumas outras são da própria Tammy e no caso de Stand by your man, é considerada uma das melhores músicas country de todos os tempos. 7,6