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VERGONHA

Filme sueco em preto e branco, escrito e dirigido por Ingmar Bergman em 1968 e que destoa um pouco da abordagem da maior parte de suas obras, embora mantenha a excelente fotografia (aqui em tons cinzas para mostrar a opressão da guerra), a exploração psicológica dos personagens e de suas relações na intimidade crua, os closes (que revelam o âmago dos sentimentos e a qualidade da interpretação), a capacidade de contar com competência uma história e um elenco de alto nível, com sua atriz e seu ator favoritos: Liv Ullmann e Max Von Sydow. Um casal de ex-músicos de orquestra e que vive em um local que parece um sítio – mas que é, na verdade, uma pequena propriedade em uma ilha -, nos transmite sua rotina, seus sonhos e conflitos, um pouco de seu passado e ao mesmo tempo vê chegar bem próxima a eles a guerra civil que eclode no Báltico, com todo o poder de sua força malévola e destruidora. A partir daí o filme faz um estudo profundo das mudanças provocadas pela guerra, das tragédias que pode ocasionar nas relações e ao transformar os indivíduos, tornando-os irreconhecíveis até para os mais próximos: a doença moral tirando a dignidade/integridade e revelando o melhor e o pior de cada um. Realmente é algo bastante contundente e há situações surpreendentes no filme e que aos poucos vão inclusive impactar, pelo que se imaginava de início, em relação a atributos como coragem, sentimentos, ideais e valores. Um grande trabalho do diretor e de toda a sua equipe, incluindo o elenco (integrado também por outro ator habitual nos filmes do cineasta, Gunnar Bjornstrand) e o habitual diretor de fotografia Sven Nykvist. Interessante que em um dos seus livros autobiográficos Bergman contou não ter ficado totalmente satisfeito com o filme, considerando o roteiro irregular, principalmente em sua primeira parte. O perfeito entendimento do título exige que se preste atenção em algo que Eva diz no início e complementa no fecho do filme, o que também impõe ao espectador uma boa reflexão antes do perfeito entendimento. 8,9