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O SEQUESTRO DO VOO 375

Em primeiro lugar, não há como deixar passar que mais uma vez os imbecis continuam a dar nomes aos filmes que entram no mercado. Porque o título traz um “spoiler” e no caso seria totalmente desnecessário se revelar já antes do filme que haveria um sequestro, até porque a maioria das pessoas desconhecia esse fato. No caso, porém, o mal é menor porque tal fato vai acontecer na parte inicial do filme (mas mesmo assim, sempre há que se lamentar essa insensibilidade e que ocorre apenas para fins comerciais). O título poderia ser, por exemplo, “Voo 375”, simplesmente, ou acompanhado de outro adjetivo mais inteligente. Mas deixemos isso para lá, porque tirando esse aspecto de pouca relevância, o filme é daqueles que pode ser chamado de “filmaço” e a partir de seu lançamento, no Festival do Rio de 2023 (e nos cinemas no final do ano), passou a ter grande sucesso e ser alvo (merecidamente) de muitos elogios. Porque é realmente uma produção nacional de alta qualidade, caprichada em todos os seus aspectos e baseada em fatos reais datados de 1988, época em que o país era governado por José Sarney e enfrentava enorme instabilidade econômica-financeira e institucional, havendo relevantes movimentos sociais e que não passam ao largo do roteiro, muito bem construído, por sinal, em todos os seus elementos (até mesmo bem cuidado nas ligações telefônicas, cabe notar). É notável a reconstituição da época, ainda mais que se trata de acontecimentos envolvendo a empresa Vasp e a aviação da época, mas o forte do filme são seu dinamismo, suspense, direção (leia-se também edição) e atuações, com destaque para Danilo Grangheia (o comandante do avião) e Roberta Gualda (a funcionária da torre de comando). O diretor é Marcus Baldini (Os homens são de marte e é pra lá que eu vou, Bruna Surfistinha) e o filme realmente confirma, com seu elevado nível, o status que atingiram algumas produções brasileiras, sendo um retrato empolgante, impressionante e emocionante de um fato histórico relevante, mas que acabou sendo divulgado com muita parcimônia pela mídia e principalmente pelo governo, que teria omitido o reconhecimento oficial de aspectos fundamentais do caso: nesse particular, recomenda-se com veemência a leitura das informações postas no final do filme, na parte dos créditos finais. Se tudo ocorreu realmente conforme se passa na tela, tratou-se de eventos extraordinários e que mereceriam um (re)conhecimento global, além de efetivamente tornarem absolutamente verossímeis todas as citadas informações que fecham com mais impacto ainda o roteiro bem engendrado. 9,1