RADIOACTIVE

Produção britânica (Netflix) de 2019, que apresenta um importante conteúdo histórico-biográfico, mostrando tanto a vida científica, quanto a pessoal da laureada cientista polonesa-francesa Marie Curie, aqui interpretada pela ótima Rosamund Pike (atriz que brilhou recentemente no filme “Eu me importo”). Marie e seu marido Pierre (Sam Riley) ganharam juntos o Prêmio Nobel de Física em 1903 (mas só ele foi na cerimônia sueca), descobrindo elementos da radioatividade e ela continuou nas pesquisas, sendo novamente vencedora do Nobel em 1911, dessa vez em Química, fato raro inclusive para uma mulher. Aliás, a condição de mulher cientista é mostrada no filme como um desafio pessoal, em um mundo e um tempo de predomínio masculino, sendo no final do filme exibida uma foto em que a cientista está cercada de dezenas de homens e só ela de mulher: mas a emoção dessa foto não reside apenas nesse fato e sim também na presença de um personagem muito especial! O filme mostra Marie como uma cientista inovadora, corajosa e que tinha um  temperamento às vezes difícil, mas a exata noção de suas capacidades e pioneirismo, mostrando as dificuldades que ela teve de enfrentar, mesmo após o seu reconhecimento científico, bem como as contribuições de suas descobertas, não apenas nos tratamentos do câncer (inclusive modernos), mas desde a Primeira Guerra Mundial, quando uma quantidade inacreditável de soldados foi beneficiada pelos raios-x móveis manuseados pela própria Marie nos campos de batalha, com a ajuda da filha (que crescida é interpretada pela também notável atriz Anya Taylor-Joy (O gambito da rainha) – entretanto, vemos que não foi tão fácil assim conseguir o orçamento para a compra das ambulâncias e de todo o material imprescindível para evitar amputações desnecessárias na frente da guerra. Mas há instantes bastante chocantes e até comoventes quando o filme demonstra na prática o perigo que o próprio casal Curie previu (ao contemplar o lado negativo das suas descobertas), fazendo um paralelo entre os acontecimentos do início do século na vida da cientista e os os relacionados com Hiroshima e mais tarde Chernobyl. Um filme muito bem interpretado e muito bem dirigido por Marjane Satrapi (iraniana e autora do romance gráfico que resultou na premiada animação Persépolis), cuja maneira de contar a história e andamento podem não agradar a todos, pois os fatos são relatados de um modo que muitas vezes não permite que as emoções se manifestem com toda a profundidade e com um ritmo que eventualmente parece rápido demais. Seja como for, um filme bastante interessante e o suficientemente fiel à realidade para mostrar aspectos desconhecidos do grande público a respeito da vida profissional e também particular de uma das maiores cientistas que o mundo já teve e que de certa forma já no início do século 20 impactava o mundo masculino com seu intelecto e sua produção científica que beneficiaria toda a humanidade. 8,6