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AS BESTAS

Um drama hispano-francês de 2022 de estilo tenso, ritmo lento, que se passa em tempos contemporâneos mas na zona rural do interior da Espanha: locais rústicos e homens rudes. Não é algo para todos os momentos, nem para todo tipo de público, mas quem apreciar seu estilo, degustará algo extremamente saboroso em termos cinematográficos. Em línguas francesa, espanhola e galega, mostra costumes duros, envolvendo trabalho de sol a sol, mas também muito orgulho e muitas mágoas que a ignorância não ajuda a curar, inclusive de guerras antigas contra estrangeiros, o que acentua o preconceito e faz aflorarem os instintos primitivos. Onde o que é justo ou injusto é meramente intuitivo, apesar de haver autoridade local e alguma tecnologia sendo utilizada. A direção de arte, a montagem e a caracterização dos personagens, o excelente elenco e a firme direção de Rodrigo Sorogoyen (O candidato, Que Dios nos perdone) constroem uma obra de fôlego e um clima permanentemente pesado e de suspense, acentuado pela perturbadora trilha sonora. Todos os elementos de produção são harmônicos em qualidade. O filme inicia com uma cena inusitada e chocante – e que mais tarde terá sentido pleno -, nos apresentando os “aleitadores”, que são profissionais que dominam e imobilizam, com as próprias mãos e em trabalho conjunto, animais de porte (no caso, cavalos). Questões sociais e de vizinhança são incendiárias aqui e vários fatos vão se sucedendo na sequência de um roteiro forte e bem costurado. Há vários diálogos contundentes ao longo do enredo, chamando a atenção os do bar, um especial entre mãe e filha e o da compra das ovelhas, onde a cena efetivamente mexe com nossas emoções de forma inesperada e desconcertante. A própria ambientação contribui para o clima do filme e permite muitas cenas densas e misteriosas, cercadas de elementos selvagens, tudo enaltecido pela competente fotografia. Um filme intenso, com personagens bem delineados, a tal ponto de nos transmitirem um medo real, o que muito se aplica na performance dos atores Luis Zahera e Diego Anido. Por outro lado, Denis Menochet e Marina Fôis nos embalam e emocionam em momentos dos mais diversos, inclusive um ou outro – por exceção – de ternura. Mas na verdade o elenco todo é estupendo. Um filme cru, que não tem nada de divertido ou de alegre, mas representa um cinema de alto nível e certamente a realidade de épocas e lugares distintos. Existem críticas pelo seu desfecho, mas discordo delas, porque são os fatos que frustram e não o encaminhamento dado a eles, que, afinal, dentro do contexto, não poderia ocorrer de modo diverso. Concorre a 17 prêmios nas seguintes 16 categorias do Oscar espanhol, o Goya, cuja cerimônia acontecerá no próximo dia 11 de fevereiro: Filme, Diretor, Montagem, Roteiro original, Ator, Ator coadjuvante (nominados Zahera e Anido), Atriz, Atriz coadjuvante (Marie Colomb), Fotografia, Direção de arte, Figurino, Som, Efeitos especiais, Maquiagem, Direção de produção e Música original. 9,0