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VERÃO ASSASSINO (L´ÉTÉ MEURTRIER)

A aparência inicial é a da mulher fácil, bonita e burra dos velhos clichês da vida (e do moço ingênuo e puro que se apaixona, a família ficando contra no início, etc). E de filme “datado”. Mas naquela aldeia –  e no passado de alguns –  fatos palpitam nos subterrâneos… E vemos, com o curso da narrativa, revelar-se a verdadeira personagem. E a trama, de começo insossa, vai adquirindo bastante interesse. Ótima atuação de Isabelle Adjani, que além de se mostrar totalmente desinibida (em todos os sentidos), também já demonstra, no início de carreira, ser uma grande atriz. Filme de 1983, com direito a músicas de Ives Montand, indicado em Cannes e vencedor do Cesar, oscar do cinema francês. Muito original a narrativa em off de diversos personagens e não apenas de um, como seria costumeiro. Poderia ser um filme mais curto, mas isso acaba não pesando tanto, porque vai ficando cada vez melhor.  8,5

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A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Tendo no elenco, Asa Butterfield, Chloe Moretz, Jude Law, Helen McCrory, Ben Kingsley, Emily Mortimer, Christopher Lee, Sacha Baron Cohen e Ray Winstone. uma maravilhosa homenagem à invenção do cinema e aos seus primórdios (e, com isso, na verdade à própria história da arte cinematográfica), feita de forma ágil, emocionante e com a competência de sempre pelo renomado Martin Scorsese, que se baseia em livro de Brian Selznick. A história se passa em Paris e o filme concorreu ao Globo de Ouro 2012 de Melhor Filme. Um filme juvenil, mas que agrada em cheio todas as idades, pois sabe dosar os ingredientes de mistério, drama e aventura, de modo a não tornar a história piegas e fazer com que o espectador vá mergulhando cada vez mais no mundo dos sonhos e da fantasia, típicos do próprio cinema. Uma homenagem tanto aos sonhos, quanto aos sonhadores.  PS – Martin Scorsese ganhou o Globo de Ouro 2012 como Melhor Diretor. PS2 – revi o filme em 3D e a viagem se torna maior ainda, pela técnica maravilhosa e também porque tive acesso (coleção Cultclassic, nas livrarias) aos curtas feitos por Georges Méliés, no início do século 20.  9,2

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ERA UMA VEZ NO OESTE

Após dirigir a trilogia “Por um punhado de dólares”, “Por uns dólares e mais” e “Três Homens em conflito” (“O bom, o mau e o feio”), Sérgio Leoni, quase no final da década de 60 dirigiu este, que é um dos mais belos westers/filmes do Cinema, com história escrita por Bernardo Bertolucci e Dario Argento e música composta pelo velho parceiro Ennio Morricone – aliás, para o diretor a música sempre foi muito importante nos filmes e a música da personagem Jill (interpretada por um dos ícones da época, Cláudia Cardinale) é fundamental no filme sendo uma das mais belas e tocantes de todas as trilhas cinematográficas (de encher o peito e até os olhos). É um filme lento, longo, de poucos diálogos, mas parece incorporar todos os faroestes já feitos, podendo ser visto como uma antologia dos westerns e de seus valores, porque provocou de certa maneira uma ruptura nesse estilo de filmes, demonstrando com outra visão e andamento que um far-west pode ser também um filme ótimo. Um filme realista, mostrando homens brutos, sujos, queimados do sol, em closes espetaculares (vitais para o diretor, os olhos azuis de Henry Fonda – que, aliás, venceu com maestria o desafio de interpretar um vilão, já que estava acostumado a papéis de “mocinho” em Hollywood), mas também um filme de visão romântica e universal, um “ópera-western” o definiria bem. Elenco fantástico, comandado por Henry Fonda, Jason Robards (já ótimo ator teatral), Claudia Cardinali (em papel feminino forte e importante para a época) e talvez o foco principal, Charles Bronson, que, misterioso, com sua harmônica  –  quase no final do filme é que se revela o segredo desse personagem solitário – entoa uma canção de agonia/horror, que,  assim como os personagens, a trilha sonora e as paisagens da vastidão do velho Oeste, permanece por muito tempo em nossa memória. E a imagem final da ferrovia (divisora do bem e do mal…), do “cavalo de ferro” simbolizando a chegada da tecnologia, dos negócios e do progresso ao Oeste selvagem, finaliza o filme como se completasse um ciclo, pelo qual a barbárie começasse a se transformar, enfim, em civilização. 9,5

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OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES

Filme estilo “policial”, que no original sueco chama-se “Os homens que odeiam as mulheres”. Baseia-se no primeiro livro da Trilogia Millennium, escrito por Stieg Larsson e que em 2006 ganhou da Academia Sueca de Ficção Criminal o prêmio de “Melhor Romance Criminal” (os demais livros da trilogia e que também viraram filmes são “A menina que brincava com fogo” e “A rainha do castelo de ar”).  Trata-se de um filme de mistério e suspense, investigativo, denso, com clima e personagens fortes e fascinantes, em que inclusive a personagem feminina, Lisbeth Salander (Noomi Rapace), acabou tendo grande sucesso por seu exotismo e por ser uma habilidosa hacker na história. O mistério vai sendo revelado em pequenas doses e isso torna a trama extremamente  interessante. Sem contar o ambiente totalmente diferente do das produções americanas, pois o filme é de origem Sueca/Alemã/Dinamarquesa e a direção de Niels Arden Oplev. Recentemente, os americanos fizeram um remake do filme, estrelado por Daniel Craig (007) e Rooney Mara, a qual por seu desempenho está sendo indicada ao Globo de Ouro 2012. Na versão atual, o diretor é David Fincher, o mesmo que dirigiu “Aliens 3”, “Seven”, “Clube da luta”, “O quarto do pânico”, “O curioso caso de Benjamin Button” e “A rede social”, o que é um currículo e tanto. Mas o filme original é que está sendo criticado aqui e é bastante acima da média, valendo a pena ser visto pelos fãs do gênero e do cinema europeu.  8,7

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AS AVENTURAS DE TINTIM

Esta obra foi produzida por Peter Jackson (“O senhor dos anéis”) e dirigida por Steven Spielberg, o que já é garantia de qualidade, inclusive visual. Pode ser que com ela inclusive surjam novos fãs do personagem Tintim, criado em 1929 (sem esquecer do cãozinho Milou – in French – ou Snowy).  Trata-se de uma animação digital – com captura de movimentos semelhante a Avatar, criando os efeitos 3D. E é um deleite para os sentidos, visualmente maravilhosa, eletrizante, com aventura, mistério e ação, como os livros do personagem, criado pelo desenhista e ilustrador belga conhecido como Hergé, o “Walt Disney da Europa”. Spielberg em 1983 comprou da viúva todos os direitos sobre ele, porque essa era também a vontade de Hergé, que era fã de Spielberg e achava que só esse cineasta poderia em uma obra cinematográfica fazer justiça a Tintim. E fez. Porque Steven Spielberg virou fã de Hergé (como todos os realizadores deste filme), é perfeccionista também e homenageou o criador do personagem cuidando com carinho de todos os detalhes. Até os cenários são tratados milimetricamente, como Hergé o fazia nos seus álbuns, que com seus diversos personagens (e desenhos meticulosos) espalharam-se pelo mundo afora, traduzidos em mais de 40 línguas. Hergé teria certamente aprovado a obra de Spielberg e vibrado com ela. Com cenas belíssimas e poderosas (e que nos iludem muitas vezes, como se estivéssemos diante de um filme e não de um desenho) e algumas sequências de ação de tirar o fôlego  –  como a maravilhosa perseguição no Marrocos  -, trata-se de um brilhante trabalho: para fãs de animação e do gênero ação/aventuras é nota máxima. Para quem não é tão fã do gênero, mas certamente tira o chapéu para avanços tecnológicos tão maravilhosos e obras feitas com tanto capricho, competência e carinho, a nota é menor, mas de modo algum desrespeitosa.   8,5

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A MENTIRA

No começo parece mais um filme teen corriqueiro, daquelas comédias envolvendo histórias de adolescentes colegiais americanos típicos. Mas não é. Só é assim na aparência e para os “distraídos”… Primeiro, pela excelente atriz e que dá vida ao filme (Emma Stone); segundo, pelo roteiro, surpreendente para filmes do gênero, inclusive pelas afiadas (às vezes sutis) pontas de crítica social. Muito inteligente, bem humorado e temperado, leve e profundo ao mesmo tempo, muito divertido. Os pais da garota são geniais (Patricia Clark e Stanley Tucci). O melhor filme teen dos últimos tempos, produzido em 2010.  8,5

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AS INVASÕES BÁRBARAS

Esse filme, canadense, “Les invasions barbares”, pode-se dizer, é a continuação de DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO, embora possa ser visto com independência do anterior, de 15 anos antes. A despeito de se passarem tantos anos entre um filme e outro, basicamente são os mesmos personagens, só que aqui em outro contexto: assim, o ideal é se assistir ao DECLÍNIO (para se conhecer os personagens em sua origem) e em seguida saborear INVASÕES.  Comparando os dois, acho que DECLÍNIO é muito bom, mas INVASÕES BÁRBARAS é maravilhoso. Um hino à amizade que acaba soando muito mais forte do que as conotações sócio-políticas a que alude o título (morre o amor, a civilização ocidental, ficam os bárbaros americanos, as drogas, a desilusão, o poder do dinheiro…), . Os amigos continuam intelectuais, mas as inquietações que aqui predominam a meu ver são bem terrenas. Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004 e Palma de Ouro em Cannes em 2003, dirigido por Denys Arcand. E quando ao fundo, no momento final, ecoa a voz de Françoise Hardy (citada pelo personagem principal como uma de suas deusas) cantando a música “A amizade”, é difícil ficar impassível.  9,5

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OS NOMES DO AMOR (LE NOM DES GENS)

Jacques Gamblin ótimo, como o quarentão conservador; Sara Forestier,  uma ativista de esquerda, com um jeito “peculiar” de conquistar os adversários, dá vida ao filme: além de bela, ganhou o “César”, Oscar francês, de 2011 como melhor atriz por esse filme, que também ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Original. Dirigida por Michel Leclerc, essa comédia com romance e drama, de 2010 (Festival do Rio de 2011), tirando pequenos exageros, tem qualidades que a distinguem dos filmes comuns: roteiro enxuto, rico, original, politizado na medida e no tom certos, inteligente…aborda tanto as relações pessoais, quanto temas como colonialismo, problemas étnicos, judeus, guerra de um modo leve e divertido, muitas vezes com humor ácido sobre temas sérios…saborosíssima, enfim.  8,8

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CORTINA DE FUMAÇA (SMOKE)

Uma obra prima  de Wayne Wang, feita em 1995 e que retrata dramas humanos do Brooklin de 1990. Direção impecável, elenco extraordinário e com personagens igualmente notáveis, reais, cada qual com sua personalidade e humanidade. Willian Hurt, Harvey Keitel e Forest Whitaker brilham como nunca, mas Harold Perrineau Jr. também se destaca (tem ainda Stockard Channing e Ashley Judd em papéis menores). Aliás, Harvey Keitel sempre foi um atorzaço, embora nem sempre atue em filmes comerciais e no papel principal, razão pela qual a maioria das pessoas não lembra de seu nome. Um filme que com rara felicidade sintetiza as diversas facetas do ser humano e das relações humanas, acentuando os valores da amizade, da generosidade, da nobreza de espírito, em meio à fumaça real e metafórica. Para ir se encantando aos poucos,  devagar ir absorvendo o especial roteiro e se maravilhando com a profundidade dos personagens.  9,5

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FUGITIVE PIECES

Não sei se esse filme tão especial, de produção canadense e grega, passou nos cinemas. Sei que volta e meia é exibido nos canais HBO. Talvez seja daqueles casos em que um filme significa muito para algumas pessoas e para outras nem tanto, não sei: mas já o vi 3 vezes e em cada ocasião senti as mesmas sensações e emoções. Um drama extraordinário, que, com equilíbrio e delicadeza, conta fatos relacionados com a guerra, mas principalmente fatos da alma. Um belo e emocionante roteiro, filosófico, repleto dos valores do ser humano em sua busca pelo encontro com o outro, com a vida, com o resgate de seu passado, com o seu próprio sentido de existir. Na verdade, uma história de amor, no mais amplo sentido da palavra e em várias de suas facetas, o amor verdadeiro, o amor da perfeita entrega, o amor incondicional, da paz sem sobressaltos. Estrelado por Stephen Dillane e Rade Serbedzija, foi baseado no romance de Anne Michaels e roteirizado pelo próprio diretor, Jeremy Podeswa. “O mistério da madeira não é ela queimar e sim flutuar” (cada coisa tem seu lado bom e seu lado destrutivo, cabendo a nós a escolha do olhar correto).  9,5

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ACONTECEU NAQUELA NOITE

Comédia romântica de primeira linha e produzida em 1934, foi o primeiro filme a ganhar, no ano seguinte, os 5 Oscar principais: melhor filme, melhor roteiro, melhor diretor (Frank Capra), melhor ator (Clark Gable) e melhor atriz (Claudete Colbert). Roteiro e direção brilhantes, comédia, aventura e drama na medida certa, assim como os demais elementos, característicos do diretor: humanidade, família, bondade, personagens de má índole com chance para se redimir etc. Sintonia ótima e levemente apimentada entre Clark e Claudette, ritmo perfeito, culminando num final que para a época deve ter ruborizado alguns.  Curiosidade: em 1996 o Oscar ganho por Clark Gable por sua atuação neste filme foi leiloado e comprado anonimamente por Steven Spielberg, que, para evitar que a estatueta fosse utilizada para fins comerciais, entregou-a à Academia de Los Angeles.  9,0

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MAN FROM EARTH

Um filme inovador, construído de forma brilhante a partir de uma ideia bastante original. Praticamente desde os primeiros minutos já se fica surpreso e fascinado com a história, magnetizado pelos diálogos, pelo clima. O espaço é um só, mas o grupo que o ocupa é do mais alto nível cultural  e intelectual. Exatamente o adequado para o tema e para a sua credibilidade: as pessoas certas para ouvir e para argumentar, dentro de uma história que vai  crescendo e se enredando por caminhos os mais diversos, da pilhéria à perplexidade. E os pontos de interrogação vão surgindo e se acumulando e dando lugar à reflexão. E à emoção. Inclusive pela simplicidade das coisas. Passa a ser relativo aquilo em que se acreditava: a fronteira do possível e do improvável, uma tênue linha. “O que me ensinaram”? “O que tive de assimilar mesmo sendo um paradoxo”? A ideia toda é genial, muitíssimo bem concebida e a cena quase no final, com o velho, permite, enfim, que a emoção reprimida aflore.  Um filme independente, de baixíssimo orçamento para os padrões americanos (pelas informações, gastou-se menos de 300 mil dólares), que não teve a divulgação merecida quando lançado (os próprios autores disponibilizaram downloads do filme pela internet)  e que tem o grande mérito de  fazer o espectador efetivamente pensar!!! Baseado em recente obra de um dos mais aclamados escritores de ficção científica, Jerome Bixby, “Man from Earth” é mais do que um ótimo filme: acaba sendo uma bela lição sobre a própria história da humanidade. 9,0

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HEADHUNTERS

Este é um drama de ação/suspense (estilo policial ou thriller), mas norueguês e que fez grande sucesso em sua região de origem, passando a ter o mesmo êxito em diversos países do resto do mundo. O título tem origem na profissão do protagonista, que é uma espécie de “recrutador” de RH (o termo também designa os chamados “caça-talentos”), mas todo o encanto do filme reside principalmente na vida dupla e excêntrica que esse personagem adota, no ritmo e imprevisibilidade do roteiro e também na sua diversidade em relação ao cinema americano. Fosse feito nos EUA, esse filme provavelmente seria mais um “enlatado” televisivo e previsível do início ao fim. Sendo europeu, são outros os costumes e também a visão sobre as coisas, o que torna o filme um ótimo passatempo, inclusive pela qualidade da produção, da direção e do elenco, liderado pelo talentoso Lars Mikkelsen. 8,5

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JEAN DE FLORETTE/A VINGANÇA DE MANON

São dois filmes, na verdade, embora feitos simultaneamente, em 1986, e em duas partes. “A vingança…” é a continuação de “Jean…”.  Baseados em obra do então já falecido acadêmico francês Marcel Pagnol (que também escreveu “A glória de meu pai”, “O castelo de minha mãe” etc.), narra magnificamente uma saga de traições, ambições, disputas, onde se encontram maravilhosamente retratadas diversas facetas da natureza humana, passando pelo amor e generosidade e desaguando na inveja, na cobiça, na ambição, no ódio, na zona rural da França das décadas de 20/30. Elenco magnífico, capitaneado por Ives Montand, Gerard Depardieu, Daniel Auteuil (quase irreconhecível na caracterização física) e Emmanuelle Beart (esses dois últimos casados na vida real e vencedores do Oscar francês, o César, em 1987). Grande filme, música-tema tocante e melancólica, grande sucesso, na época o filme mais caro do cinema francês (120 milhões de francos). Vale a pena ver os extras no DVD.  9,0

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ANOTHER EARTH

Um misterioso e fascinante filme que mistura drama com ficção científica. Pode ser classificado até como “filme de arte”, mas passada a estranheza inicial o roteiro se torna bem mais claro, embora sempre denso e imprevisível, outras qualidades, aliás.  A partir da descoberta de um outro planeta, os fatos e personagens acontecem e se entrelaçam.  A última cena é bastante interessante, para alguns certamente enigmática. Vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Sundance, estreou nos EUA em julho de 2011, sendo produzido e dirigido por Mike Cahill. 8,5

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SERPENTE DE LUXO (BABY FACE)

Drama americano de 1933, com Bárbara Stanwyck já mostrando grande estilo, personalidade e sensualidade na interpretação de uma moça que resolve usar determinadas (e antigas) “armas” para subir na vida. O filme teve de ser alterado várias vezes na época, até se adequar às exigências da censura, mas mesmo assim manteve sua força e surpreendente ousadia (em plena época do código de censura Hays), principalmente graças à protagonista. A música do filme também ficou famosa. A “pontinha”, rara, do jovem John Wayne também vale o registro. 8,5

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A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (IT´S A WONDERFUL LIFE)

Este pra mim é um dos filmes que merecem a nota máxima: uma obra-prima produzida em 1946 e que não ganhou nenhum Oscar, embora indicado para Melhor Filme, Ator, Roteiro, Montagem e Som. Como dizem, “coisas de Hollywood”! É o trabalho mais perfeito do grande diretor Frank Capra, em um filme tecnicamente perfeito, com um elenco afinadíssimo, na maior interpretação da carreira do fabuloso James Stewart e um roteiro ágil e maravilhoso desde o primeiro minuto de filme: emocionante ao extremo e repleto de valores dos quais o homem não pode nunca se dissociar, como o caráter, o otimismo e principalmente a generosidade, o amor e a amizade. Mas o roteiro não é simples, reunindo elementos de grande criatividade, embora flua com leveza e permanente interesse. Cenas desse filme ficam na memória para sempre. E nunca haverá mensagem maior de Natal e de filosofia de vida como a da última e inesquecível cena! 10,0

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CARNAGE

Embora seja um filme para um público especial – que gosta de filmes de arte -, é efetivamente um espetáculo: Roman Polanski tem o mérito de dirigir dois casais de atores em um espaço único (a sala de um apartamento) e ali se trava toda a “batalha”. Mas assim como o diretor não é qualquer um, o quarteto é extraordinário, com destaque um pouco maior, na minha opinião, para as mulheres: John C. Reilly (grande ator, embora eterno coadjuvante) e Jodie Foster (também ótima diretora) e Christopher Waltz (o oficial nazista, “oscarizado”, de “Bastardos Inglórios”) e Kate Winslet (também dispensa comentários !). O filme é baseado em peça de teatro magnificamente concebida pela dramaturga francesa Yasmina Reza (Le Dieu Du Carnage) e é notável o conhecimento da autora sobre a natureza humana, sobre a relação inter e intra casais, sobre as reações possíveis e verossímeis a cada etapa dos “duelos” (há momentos em que os dois homens parecem “conspirar” e assim por diante).  Cinema como se fosse teatro, em uma adaptação realmente feliz: de um fato corriqueiro, descortina-se um universo imprevisível e  fascinante sob os aspectos tanto psicológico, como sociológico. 9,0

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CAVALO DE GUERRA

Pelo propósito inicial de somente comentar filmes com nota acima de 7,5/8,0, faço esta exceção pelo fato de concorrer ao Globo de Ouro 2012 e principalmente como uma reverência à contribuição ao Cinema prestada por esse notável cineasta, que é Steven Spielberg (de obras memoráveis), que dessa vez contempla a Primeira Grande Guerra – pena que parece não ter mais pretensões de inovar… Imagino que a grande parte das pessoas vá gostar muito do filme, mas após 40 anos de cinema, confesso não ter mais muita paciência para ver sempre a mesma coisa. O filme cheira épico, com cenas grandiosas, música ufanista, histórias de coragem, superação etc. Entretanto, é mais um dos já vistos e reprisados dezenas e dezenas de vezes, feito neste caso na medida para manipular as emoções do espectador. É um daqueles que passava na “Disneylândia”, com roupagem moderna. Com direito a ótimas cenas de guerra e uma cena magnífica quase ao final do filme, do cavalo galopando em meio à guerra, mas a que se segue, lamentavelmente, outra cena digna de pastelão, simplesmente ridícula, da confraternização dos soldados inimigos. No final das contas, mais um filme-família para provocar lágrimas, emoldurado ao final pela cena clássica das sombras dos personagens tendo por detrás o crepúsculo. A virtude é que, como todo filme de Spielberg, é tecnicamente perfeito. O que não é pouco (junto com os elementos já citados), embora pelo que poderia ser, também não seja muito. 7,0

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RESTLESS (INQUIETOS)

Um filme belo e que se destaca principalmente por sua delicadeza. Delicadeza essa evidenciada pela sensível interpretação de Mia Wasikowska (que fez “Alice” no filme com Johnny Depp), em equilíbrio com Henry Hopper. A mensagem é de coisas boas, sobre a beleza e a simplicidade da vida, das relações, da importância de que os momentos sejam vividos intensamente mesmo que fugazes…E de que um casal possa existir como um par mesmo sem ter perfeita sintonia com o mundo (tratando-se de pessoas diferentes e que não se ajustam às regras estabelecidas), bastando que exista sintonia de um para com o outro. O tema não é novo, mas não são tão comuns abordagens poéticas como essa, do diretor Gus Van Sant, que dirigiu também “Elephant” e “Milk”, entre outros. 8,0