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O CORCUNDA DE NOTRE DAME (THE HUNCHBACK OF NOTRE DAME)

Uma imponente produção de 1939, com bela reconstituição de época (para logo após a Guerra dos Cem Anos – que na verdade durou 116 anos, entre França e Inglaterra), belas cenas e falas (a que encerra o filme, por exemplo!), mas que, sob o ponto de vista de prêmios, levou o azar de ter sido feita no mesmo ano de E o vento levou, O morro dos ventos uivantes, A mulher faz o homem, No tempo da diligência e O mágico de Oz. O resultado é que o filme teve duas modestíssimas indicações para o Oscar e não ganhou nenhum: Mixagem de som e Trilha sonora, parecendo até indicações de consolação. Naquela época não existia ainda Oscar para maquiagem, porque certamente o filme seria merecedor, já que a caracterização do Corcunda está perfeita e impressionante! Aliás, a interpretação de Charles Laughton mereceria certamente uma indicação. Esse excelente ator, com 40 anos à época, já tinha renome e algumas referências importantes em seu currículo, como O grande motim de 1935. Maureen O´Hara, por sua vez, a “mocinha” do filme e que trabalharia nos anos seguintes em várias produções de John Ford (e com John Wayne, inclusive), estava então com 19 anos e foi o seu segundo ano no cinema: dois anos depois faria o inesquecível Como era verde o meu vale. Aqui, essa bela atriz irlandesa fez o papel nada mais nada menos do que de Esmeralda, a cigana que rouba corações e provoca conflitos desde a plebe até a nobreza e o clero! O filme tem uma excelente fotografia e direção de arte, mostrando de forma crua e muitas vezes chocante o submundo -e as sombras- de Paris, em meio à convivência de classes e ao mesmo tempo à ignorância e miséria de uma época na qual estava no início a chamada Idade Moderna (a história se passa em 1482). Mas o filme não beira a perfeição. Existem personagens mal desenvolvidos (como Gringoire e Fleur-de-Lys) e algumas lacunas de roteiro que comprometem um pouco a unidade, além de cenas mal acabadas ou insatisfatórias, como as dos assassinatos de Phoebus e de Frollo; mas no todo é um bom filme, embora fique devendo bastante, obviamente, à monumental obra de Victor Hugo (sob o título “Notre-Dame de Paris”), que a escreveu no início do século 19 e com a intenção inicial de um romance histórico sobre a Paris medieval e a necessidade de preservação da Catedral de Notre-Dame. Muitas adaptações da obra viriam depois, inclusive sob o nome de “O corcunda de Notre-Dame” (que se popularizou) e até mesmo em desenho animado, bem como no grande sucesso musical que estreou em Paris em 1998, com o nome original do livro, estrelado por Garou, Lavoie e Flori e que ganhou enorme notoriedade por décadas, tal a sua força dramática e a qualidade de suas músicas e intérpretes.  8,3