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A MULHER FAZ O HOMEM (MR. SMITH GOES TO WASHINGTON)

Frank Capra foi um dos mais prestigiados diretores de Hollywood de seu tempo e teve sucesso na repetição de fórmulas que deram certo. Tanto em relação ao elenco recorrente, como à própria filosofia de suas obras. Neste filme de 1939, por exemplo, Capra repetiu a dupla de protagonistas que fez sucesso no ano anterior com Do mundo nada se leva: James Stewart e Jean Arthur. A propósito, Capra também escalou em vários filmes os atores Edward Arnold e Thomas Mitchell. E foi galã também recorrente o ator Cary Grant. Quanto ao espírito das obras, sempre foi o do bem contra o mal, o Homem vencendo os desfios que vão aparecendo, o da virtude prevalecendo sobre o vício, no sentido amplo. A honra, a integridade, o patriotismo, o idealismo, a honestidade, são elementos comuns e enaltecidos em todos os filmes de Capra, que nunca abriu mão do sentido de família, de pátria, de lealdade. Temas universais e seus filmes têm muito ritmo e empatia. Aqui, o campo é fértil para se tratar desses elementos (e da chamada “perda da inocência”), pois o filme emvolve a política americana e se passa praticamente todo no ambiente do Senado. E nas cenas iniciais do filme já temos uma boa aula da história dos EUA e de alguns de seus vultos mais importantes, venerados pelos seus feitos e pelos seus mais altos ideais patrióticos (Jefferson e Lincoln principalmente). Depois, são muito instrutivas e bastante importantes as lições sobre o processo legislativo e o enredo se desenvolve em um ambiente onde claramente existe um costume já sedimentado de corrupção, favoritismos, conchavos, manobras etc, dentro de uma realidade da política americana mostrada há 80 anos mas que possui contornos atuais (a propina, explicada em detalhes, nos é muito familiar, infelizmente!). Muito oportuno o roteiro também quando expõe a imprensa e suas amplas influências, assim como são interessantes os meios encontrados para ocorrer o contraponto em face do jogo de interesses, na luz tênue da esperança que se instala, porque em certos momentos parece realmente impossível se vencer a “máquina”. Em um ou outro instante até aparecem saídas e é quando entendemos o título em português (a princípio limitado e sem conexão com o original e sua eloquência), mas após as impressionantes cenas que precedem o epílogo, parece realmente não haver mais uma solução possível para a vitória do bem e do justo. Em resumo, ao final do filme o espectador fica com o peito repleto de emoções e talvez com valiosas lições a serem apreendidas ou pelo menos pensadas. James Stewart mais uma vez demonstra a razão de ser o ator preferido do diretor, em uma atuação brilhante e repleta de significados. Em um ano em que E o vento levou polarizou boa parte dos prêmios (inclusive Melhor roteiro original), este filme ganhou o Oscar 1940 de Melhor história original (categoria que posteriormente foi extinta). 9,0