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ENSINA-ME A VIVER (HAROLD AND MAUDE)

Ensina-me-a-Viver-1971-3Eu vi este filme no início da década de 70 (ele é de 1971) e lembro que o achei muito esquisito. Não gostei inclusive da velhinha interpretada por Ruth Gordon. Mas lembro que ele foi marcante para muitos amigos da minha idade e por isso o revi agora, quando a ocasião apareceu. E tive, claro, outra visão dele. Começando por notar a boa e agradável trilha sonora de Cat Stevens, que embala o filme todo. Em seguida, dando-lhe a feição de comédia, embora uma ou outra cena dramática. E com belas e agudas ironias (o militar, o psiquiatra e o padre são o retrato perfeito…). E achando os demais aspectos interessantes, à parte alguns exageros desnecessários (envolvendo os carros furtados pela senhora e os policiais, em duas cenas pelo menos). De fato, o personagem masculino (Bud Cort) é um rapaz de família rica, distante emocionalmente da mãe viúva (um abismo o nível de compreensão entre ambos) e vivendo uma existência absolutamente entediada e sem objetivos, o que dá origem a comportamentos mórbidos/antissociais. A velhinha, porém, é a vitalidade em pessoa: jovial, exótica, e cheia de sensualidade na comunhão com o universo. O par foi indicado no Globo de Ouro de 1972. E Hal Ashby dirigiria anos depois Amargo regresso e Muito além do jardim. Apenas não gostei do final do filme, que me pareceu totalmente ilógico, embora possa até haver a devida explicação. Mas, em suma, constato agora o valor do filme, que não se limita a mostrar uma bela, legítima, porém insólita relação, de um sujeito depressivo e estranho com uma velha meio fora da casinha…mas, sim – e principalmente – que é possível haver uma relação genuína entre gerações e que com o estímulo certo (ou a pessoa certa) é também possível despertar e sensibilizar as pessoas…para as artes, para a natureza, para tudo o que nos cerca e o sentido das coisas… para a própria vida, enfim.  7,8