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VIVER DUAS VEZES (VIVIR DOS VECES)

O título se justifica pela descoberta do professor de matemática de meia idade, de que está com Alzheimer. Todo o processo é descrito pelo médico, a filha e a neta tomam conhecimento e quem tem ou já teve um doente na família com esse problema vai se identificar perfeitamente pelo menos em algumas partes do filme, bastante realista. O veterano e excelente ator Oscar Martinez deve ter inclusive convivido com doentes para poder interpretar tão bem os sintomas, pois está simplesmente perfeito. Com esse tema, naturalmente o filme é em determinados momentos bastante tocante, principalmente no final, quando toda a sensibilidade é exposta –e aqui o espectador possivelmente não resistirá às emoções, muito embora as fantasias do roteiro. Contudo, o tom predominante -felizmente- é de comédia, pois tudo é conduzido de forma leve, digerível, com um ritmo maravilhoso (direção e edição perfeitos) e com uma sintonia extraordinária e extremamente natural entre o elenco, apesar das diferenças de idade. Porém o ponto crucial do filme é o vai ocorrer a partir do momento em que o professor, com a doença já se manifestando, expressa o desejo de fazer algo antes de perder a memória de vez. sem spoiler, mas é algo lírico, emocionante e que parece estar naturalmente inserido em cada um de nós, independentemente da felicidade conquistada (a nostalgia residente…). E nesse ponto o filme nos traz, além de diversão e risos, ótimas lições. Um exemplo: a filha pergunta ao pai não “por quê” deseja fazer aquilo, mas “para quê”, coisa bem diferente. Cinema espanhol de ótima qualidade -o que tem sido trivial nos últimos anos-, com um elenco impecável, constituído basicamente pelo já citado Oscar, por Inma Cuesta (a filha) e pela excelente promessa Mafalda Carbonell (a neta de 11 anos), que também traz à tona o tema que envolve a limitação física das pessoas e a capacidade de serem felizes a despeito disso. Um filme ágil, todo bem construído e delicioso, dirigido por Maria Ripoll, que no faz rir e nos deixa embargados em vários momentos, predominantemente no seu final. Na cena derradeira, após a surpresa e à vista de uma bela praia, ouvimos a belíssima e eterna Perfídia, cantada pela atriz principal, que também nesse ponto é muito competente. Produção Netflix e que deve fazer (ou estar fazendo) grande sucesso, considerando sua condição de cinema de primeira linha.  9,0