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EN GUERRE

De tão enxuto e bem acabado, este filme parece quase um documentário. Aliás, tem muito disso nos enfoques que faz, nos closes, nas cenas sem som e sem diálogo…É sólido e preciso e vai na jugular, sem excessos ou sobras. O roteiro é extremamente bem acabado, o ritmo é jornalístico, tenso o tempo todo, alternando a trilha sonora conforme os momentos de ação ou menos incisivos, em suma um filme de alto nível. Concorreu inclusive à Palma de Ouro em Cannes em 2018 e causou efeitos perturbadores onde foi exibido. Porque é uma belíssima obra sobre as relações entre capital e trabalho, talvez o melhor filme jamais feito sobre esse tema, que aborda a paralisação de uma fábrica situada na França, diante da ordem de fechamento, pela matriz alemã e a reação dos trabalhadores (e do sindicato), porque a princípio não haveria motivo para o encerramento das atividades -afinal, houve boa distribuição de lucros/dividendos aos acionistas- e ainda existia uma garantia de emprego que perduraria ainda por alguns anos. As circunstâncias todas, as negociações, os efeitos dos fatos no âmbito pessoal e familiar, tudo é muitíssimo bem explorado pela excelente direção de Stéphane Brizé (O valor de um homem, A vida de uma mulher…), coadjuvado pelo notável elenco, que é composto por profissionais misturados com muitos amadores, sob o comando do ótimo ator Vincent Lindon (O valor de um homem, Rodin, Augustine). O filme é pungente, forte, vibrante, perturbador e envolve todas as questões de mercado, de globalização, de interesses corporativos e patronais, embora ponha na mesa os argumentos de ambos os lados, em discussões o quanto podem ser civilizadas (educação europeia, que naturalmente também tem seus limites). A obra propicia muitas reflexões em diálogos inteligentes e que expõem os pontos nevrálgicos, inclusive quanto aos efeitos do tempo em uma greve, que podem inclusive provocar nocivos conflitos internos. Ótima edição e exploração com extrema competência – e de forma singularmente dinâmica- de um tema que já foi alvo de diversos filmes anteriormente. A belíssima cena do bebê no colo da mãe e depois do avô (estaria ele pensando no que seria o futuro daquela criança?) constitui um momento de extrema importância, parecendo querer mostrar a menor  importância de toda aquela luta, diante do que é fundamental na vida. Mas também mostra o futuro. E a cena final é tão inesperada quanto impactante…assim como angustiam os fatos que a sucedem.  9,0