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A PAPISA JOANA

Talvez a pergunta surpreenda: a Igreja Católica já teve ou não uma Papisa em sua história? A resposta é insatisfatória, infelizmente: não se sabe ao certo. O que se conhece é que, embora não haja um registro oficial dentro dos escritos da Igreja (após ver o filme, todos dirão “obviamente!”), existem inúmeros relatos a respeito, feitos a partir do ano de 1200 e também muitas lendas espalhadas a partir da Idade Média, com diversas versões para os mesmos fatos. De qualquer modo, houve várias obras a respeito e uma delas foi escrita por Donna Woolfolk Cross (Pope Joan), na qual o roteiro deste filme de 2009 foi baseado, sendo uma produção teuto(alemã)-brítano-ítalo-espanhola, dirigida pelo cineasta alemão Sönke Wortmann. É um filme longo e que procura retratar com boa aproximação a chamada’ época das trevas” que foi a Idade Média, a história no caso concentrando-se no século 9, onde grassavam a miséria, as doenças, a violência sem contenção etc, a ponto de se imaginar hoje em dia como é que as pessoas conseguiram sobreviver à Idade Média, afinal. A história de Johanna aborda os tempos da época do seu nascimento e crescimento, principalmente os fatos aos que teve de se submeter sendo mulher, em uma época na qual as mulheres além de não terem qualquer “voz”, sequer podiam ser educadas ou mesmo aprender a ler e a escrever (sugere-se no filme que a cultura feminina provocaria uma redução do útero, até a infertilidade total). Para ela, que tinha sede de conhecimentos, poucas saídas existiam, a fim de conseguir sobreviver naquele mundo cruel, insensato, violento e masculino, onde era inclusive comum se castigar fisicamente, além dos filhos, a própria esposa. Johanna é interpretada muito bem pela atriz alemã Johanna Wokalek (O grupo Baader-Meinhof, Face Norte) e também trabalham no filme, de mais conhecidos, o australiano David Wenham (o Faramir de O senhor dos aneis) e o americano conhecidíssimo em muitos filmes John Goodman (O artista, Barton Fink, O Grande Lebowski), fazendo o papel do Papa Sérgio 2º. Após uma vida difícil mas voltada para o bem e para a caridade, Johanna teria sido papisa entre os anos de 856 e 858 DC, época em que os Vikings já estavam espalhando suas “conquistas” pelo mundo. É um filme que se desenvolve de uma forma bastante eloquente e interessante, sendo efetivamente superior à média das produções que enfocam temas da Idade Média. Há instantes de violência, alguns toques de aventura, suspense, até alguma leveza e romance, mas predominam os de horror e indignação para o espectador, não apenas ao contemplar como as pessoas viviam e se comportavam naqueles tempos, mas também diante dos complôs e das conspirações políticas, que certamente sempre existiram e em todas as esferas, não sendo obviamente a Igreja uma exceção: onde há poder, estão próximos a inveja, a ambição, a cobiça e o ódio…8,7