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NOMADLAND

Este filme acaba de receber o Globo de Ouro como Melhor filme de cinema (28/2/21) e sua diretora, Chloé Zhao, o de Melhor diretor(a), fato raro para uma mulher nessa premiação. Antes de falar do filme, imprescindível explicar que esta resenha serve também como veículo para que eu expresse os efeitos que os filmes me causam e dar a ele a nota coerente com sua qualidade e conforme atingiu os meus sentidos. Não dou nota, portanto, pelos comentários ou pela fama ou por outras circunstâncias que não sejam absolutamente pessoais. Mas este espaço também vale para que, independentemente da minha nota (fator ocasional), seja registrado o merecimento de certas obras cinematográficas, embora não tenham me atingido tanto, por um motivo ou outro. Este é o caso. Eu gostei apenas moderadamente deste filme, mas reconheço nele muitos méritos como obra perfeita e acabada e que tem a sua importância como registro de uma realidade americana, inclusive sob o ponto de vista histórico. Explico: o filme conta, por meio da personagem interpretada maravilhosamente por Frances McDormand (como sempre, aliás!), a trajetória de pessoas que inseridas ou não no mercado de trabalho (com todas as implicações decorrentes), de repente resolvem se aventurar e saem com sua Van pela América afora, descobrindo novas paisagens, encarando novos desafios e usufruindo de experiências diversas e do fato de conhecer novas pessoas. Passam a viver como ciganos. Como nômades, eis o título do filme. Esse estilo de vida é muitíssimo bem retratado aqui, com doçura e sensibilidade, porém também com as cores fortes do realismo que os fatos eventualmente exigem. Vemos imagens belíssimas e instantes que encerram grande beleza, alternando com outros que mostram que o nomadismo às vezes exige algumas provações e sacrifícios. É um filme muito bem realizado, transmite o que propõe e resgata uma realidade que já existe há muito no cenário americano e que parece a cada dia ampliar seus horizontes (e que seria a antítese do chamado american way of life), deixando talvez no espectador uma vontade de um dia também tentar essa opção. Parece que estamos vendo a realidade como espectadores e que o elenco não é de atores, embora também atue no filme, de mais conhecido, o excelente e carismático ator David Strathaim. Apesar disso – e agora vem o lado do conceito que dou ao filme neste blog -, nem sempre o espectador está a fim de ver em uma tela a realidade desfilar. Um dos papéis mais importantes do cinema é transportar o público para mundos de fantasia, mesmo que com isso não se afaste muito da realidade: o glamour da fantasia é uma das virtudes mais extraordinárias do cinema, muitos filmes tendo o mérito inclusive de mostrar a realidade, porém embalada com toques da magia que só o cinema possui, ao mostrar em cores vivas a própria imaginação. Desse modo, por mais bem feitos que sejam, filmes que poderiam ser até mesmo equiparados a documentários – pela sua excelente realização, apenas tendo um formato diferente-, não são digeríveis em todos os momentos e às vezes não agradam tanto ao coração, carente de outros voos. 8,5