O SOPRO NO CORAÇÃO

O cineasta francês Louis Malle entregou ótimos filmes ao Cinema, antes deste dirigindo Ascensor para o cadafalso e depois Adeus meninos (que lhe rendeu muitos prêmios em 1988), Menina bonita (Pretty Baby) e Perdas e danos, por exemplo. Entretanto, este filme de 1971 na minha opinião é superestimado, já tendo sido produzidos outros muito melhores sobre a adolescência dos 14, 15 anos de idade e os hormônios efervescentes e ritos de passagem (que incluem festinhas, as primeiras experiências com o sexo oposto, fumar e beber escondido etc). O filme parece ter pressa para mostrar um grande número de fatos de uma época e acaba ficando superficial, deixando de emocionar e de ter o envolvimento que poderia, apesar de tamanha matéria prima à mão. Mostra aspectos com os quais muitos irão se identificar, da difícil fase de descobertas e incertezas, mas fica sem desenvolver temas importantes, como a política, a pedofilia na Igreja e as próprias relações familiares, exceto a relação mãe (Lea Massari) e filho, que acaba sendo seu foco principal. Em alguns instantes peca pela falta de ritmo, de unidade e parece até mesmo algo amador. Mesmo o protagonista, provavelmente selecionado pelos seus trejeitos físicos, não tem um desempenho carismático, ficando muito longo do memorável. Além disso, existe uma falta de cuidado com alguns detalhes como, por exemplo, com o tabuleiro de xadrez, que foi montado de forma inaceitavelmente incorreta. Em que pesem tais irregularidades, o aroma de incesto que perdura durante todo o filme tem um interessante desenlace, que parece redimir um pouco os desacertos anteriores, ainda mais somando-se à cena final, extremamente criativa e de rico e contundente significado. 7,8