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UMA VIDA OCULTA (A HIDDEN LIFE)

Este é um filme indicado para determinado tipo de público. Aquele público que gosta do chamado cinema “de arte”. Há que se apreciar sobretudo filmes que contam uma história bem lentamente, desenvolvendo os detalhes, principalmente o lado emocional dos personagens, no caso  nas suas quase três horas de duração. Poderia ser mais breve? Certamente que sim, mas em mãos de outro diretor. Porque no caso é um filme de Terrence Malick e, ao que parece, o seu estilo tornou imprescindível a história se estender por tempo superior ao padrão. É um diretor de várias obras, algumas polêmicas (como “A árvore da vida”, por exemplo), extremamente competente e cuidadoso, mas nada convencional. Este filme mostra vários ângulos de câmera, tomadas que propositalmente dão conotações específicas em cenas determinadas, trilha sonora meio estranha, imagens de sonhos, cenas rápidas alternando com tomadas longas… Mas tudo isso identifica o cineasta e o valoriza, porque apesar de longo, o filme conta uma história que passa claramente as mensagens desejadas, levando o espectador a várias reflexões que emergem em meio à ocupação nazista da Áustria, na década de 40: até onde se pode defender princípios em meio a uma guerra?…até onde o idealismo pode/deve sobreviver contra o sistema? Quais as perdas de um homem se abandonar seus ideais, mesmo se eles nada significarem para o meio? Quais os sofrimentos para a família de quem resiste? A fé surge aqui também como um elemento poderoso, porém mais do que isso o amor que une o casal parece sobreviver acima de tudo e de todos, principalmente pela maneira como esse amor se manifesta na comunicação do casal, post que um decide poupar o outro de qualquer dor…e as imagens acompanham essa difícil sintonia com delicadeza e a necessária profundidade. Sobre a reflexão já referida, uma cena eloquente: na prisão alemã, o homem nega jurar lealdade a Hitler, em nome de suas convicções. O advogado diz então a ele que se mudar de atitude e concordar em assinar um documento será automaticamente livre. Ele responde, então, ao advogado: “mas eu já sou livre”.  8,0