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SUPREMA (ON THE BASIS OF SEX)

Se o roteiro deste filme – com lamentável título em português – for escrito de uma forma rápida e genérica, ele já terá sido visto dezenas de vezes. Os americanos seguem fórmulas padrão, aquelas de patriotismo, superação, ufanismo etc. Esse fato é enfadonho e às vezes até provoca repulsa, como um desrespeito à inteligência do espectador. Os clichês proliferam e parecem não cansar os realizadores dos filmes ianques. Entretanto, o truque é justamente o seguinte: a maneira de contar o filme, aliada à alta qualidade técnica e a experiência manipuladora (a música na hora certa, a heroína e o herói bonitos etc), fazem com que esqueçamos dos clichês em nome da emoção. E é o caso aqui, razão pela qual o filme – baseado na vida real – fica de fato interessante, emoldurado pelo carisma da atriz britânica Felicity Jones (A teoria de tudo, Sete minutos depois da meia-noite…). Constatar épocas de atraso da humanidade no que se refere à discriminação dos sexos, nas quais as mulheres só podiam, por exemplo, ter cartão de crédito em nome do marido, sendo figuras raras nos cursos de direito (e até mal vistas ou discriminadas nas rodas sociais) e a luta para modificar esse estado de coisas é algo que faz bem à alma. Nos indignamos com os fatos e ao mesmo tempo nos inflamamos com a luta. E é disso que trata o filme: a luta pela mudança da mentalidade e da própria lei vigente. Quebrar paradigmas como se diz modernamente. No caso, em cortes superiores dos EUA, onde precedentes orientam todo um comportamento ao longo de décadas, às vezes até de séculos. E, nesse contexto, a partir de certo ponto o filme empolga, quando traz à tona a beleza do Direito, o idealismo que alimenta os corações… e nesse sentido apela aos mesmos sentimentos de todos os demais filmes do gênero e comuns a todos nós: o ideal do bem e do justo, os ideais de justiça. Como não poderia deixar de ser, a parte do tribunal é ótima (quase todo filme que tem tribunal é bom!), com argumentos sendo muito bem expostos e contestados, inclusive pelos próprios membros da Corte, o que eleva o tema e deixa várias interessantes questões no ar. Ao final das alegações, principalmente quem milita no ramo jurídico vai sentir o peito estufar. E, nos créditos finais, a aparição da verdadeira Ruth e a história real dos personagens completa o impacto emocional do filme, nesse instante já totalmente bem recebido e assimilado.  8,7