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NUNCA DEIXE DE LEMBRAR (NEVER LOOK AWAY)

Este é um daqueles filmes que trazem variadas emoções e que nos dão a sensação de minissérie (até poderia ser uma, por exemplo, com 9 episódios de 20min cada), pois abordam fatos dramáticos através da história (a Segunda Guerra, as duas Alemanhas…), e vamos acompanhando o destino das pessoas ao longo de vários anos, como uma verdadeira saga. E no seu final sentimos uma intensa emoção e que perdura por um bom tempo ainda, como se vivenciássemos nossa própria história, sendo essa uma característica típica das minisséries. E esse, por paradoxal, é justamente um de seus poucos defeitos, porque há alguns fatos que mereceriam um maior aprofundamento, o que nas minisséries não ocorre. E além disso há um outro problema, a meu ver, que é o desempenho apenas regular do ator Tom Shilling em um papel que se interpretado por um ótimo ator certamente faria o filme crescer bastante em intensidade dramática. Inclusive também não é ideal a química entre o personagem dele e o da parceira. Mas o restante do elenco é ótimo, a começar pela bela Saskia Rosendahl, que a partir do início do filme e de cenas memoráveis (a primeira, já no museu, com o guia discursando sobre a inutilidade da arte moderna – depois a da buzina dos ônibus e a da nudez e da nota Lá no piano) já prenuncia sua importância para toda a história, projetando sua presença com profundo significado em diversos momentos até o emocionante final. Muito boa atriz também a igualmente bonita Paula Beer (que fez Franz), mas o destaque maior fica por conta do ator Sebastian Koch, que faz com maestria o implacável e gélido médico da SS, cuja caneta tem o poder de determinar o extermínio de pacientes. Aliás, a cena da escrita em vermelho é uma das várias impactantes do filme, belo também na fotografia e na trilha sonora. São vários momentos ao longo da história que afetam o espectador, mostrando a destruição das pessoas, das cidades, das famílias, das esperanças, ao longo dos horrores da guerra e do domínio nazista, bem como de cenas importantes também sob outros aspectos, no caso vinculados à arte: a invasão aérea de Dresden, a paciente sendo levada à força para ser esterilizada, o aborto, o parto, o discurso do professor no ateliê do aluno em busca do caminho artístico, os discursos sobre a arte, a criação do estilo, afinal, pelo jovem pintor, a do médico enfrentando as pinturas e seu significado, a entrevista ao final, na qual o criador nega qualquer vínculo com a criatura, embora o espectador se emocione por saber da verdade. Pelos defeitos já citados, não é um filme totalmente arrebatador; mas pelas qualidades, igualmente descritas, é uma bela “viagem” pelos dramas humanos e de guerra. Dirigido pelo grande Florian Henckel von Donnersmarck (que dirigiu o magnífico A vida dos outros e é grande também na altura, com 2,05m), o filme concorreu no Festival de Veneza e foi escolhido para representar a Alemanha no Oscar 2019.  9,0