Imprimir Shortlink

SOBERBA (THE MAGNIFICENT AMBERSONS)

Um filme de 1942, roteirizado e dirigido por Orson Welles que, um ano depois de Cidadão Kane, novamente trabalha com o ator Joseph Cotten, aqui acompanhado de Agnes Moorehead (a Endora de A feiticeira) –que ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este filme-, Anne Baxter, Dolores Costello e Ray Collins, entre outros. Realmente o toque de Welles na direção é algo que se destaca, trazendo algumas das técnicas cinematográficas que aplicou em Cidadão Kane, incluindo efeitos diversos, luz e sombra, ângulos de câmera etc. Não é à toa que o filme foi indicado aos Oscar de Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte em 1943, embora não tenha ganho o prêmio (assim como não ganhou o de Melhor Filme, sendo também indicado nessa categoria). É um filme original, que conta de uma forma diferente uma história passada em Indianápolis no final dos anos 1800 e começo dos anos 1900, mostrando diversas transformações sociais (com grande destaque para o desenvolvimento do automóvel) e a tradição familiar resistindo a elas, com as consequências decorrentes, no caso bastante gravosas, sendo a respeito bastante pertinente o título do filme em português. Pena apenas que o personagem masculino, ao qual o nome do filme se adapta perfeitamente, não seja um ator melhor, porque o personagem foi feito para um brilho que não conseguiu atingir. Assim como o roteiro, com pontos brilhantes, também apresenta outros frágeis. Mas aqui há um fato altamente relevante e que deve ter contribuído decisivamente para as falhas do roteiro (inclusive quanto ao relacionamento mãe e filho): por exigência dos produtores, em razão da fraca bilheteria do filme, tanto o seu final foi modificado, como foram cortadas diversas cenas, totalizando a impressionante soma de 40 minutos de cortes! Evidentemente o resultado seria outro se os cortes não existissem. Mesmo assim, sentimos em todos os momentos a mão forte e original de Welles, que também inovou, não apenas por narrar o filme in off, mas pela forma como apresenta os fatos e ao final, quando apresenta a equipe técnica, o elenco e por fim a si mesmo. Um diretor espetacular (e que ainda escrevia as histórias que conduzia!) e em altíssimo posto na história do cinema. O roteiro de todo modo é interessante ao apresentar o retrato pontual de uma época, muito embora determinados fatos e comportamentos apareçam hoje diante de nossos olhos como algo quase inacreditável, a despeito da força universal da sociedade e principalmente da maternidade. Certamente se não tivesse sido tão mutilado, o filme poderia apresentar uma harmonia maior, principalmente para justificar as atitudes que precipitaram as maiores tragédias na trama. 7,7