OS MELHORES ANOS DAS NOSSAS VIDAS
Um belo filme, acumulador de prêmios, mas é bom se saber desde logo que é de 1946, em preto e branco e longa metragem (2h 45min, mais ou menos, de projeção). Dito isso, o filme tem ótima fotografia, trilha sonora, edição, um roteiro consistente, uma direção competente e um elenco extremamente afinado e com grandes atores e atrizes da época. O diretor é William Wyler, que entre outros dirigiu Ben Hur, Rosa da Esperança, A princesa e o plebeu, Jezebel, O morro dos ventos uivantes, Da terra nascem os homens e O colecionador, portanto um craque, diretor consagrado com um currículo de meia centena de filmes. O elenco deste filme também só tem qualidade, com o detalhe de que são muitos os personagens e todos brilham quase que por igual, porque a história acompanha o retorno para casa de três homens/militares, cada qual com sua história, seus dramas e seus vínculos. Assim, a trama envolve diversos personagens, com suas próprias características e muito bem desenvolvidas pelo diretor e por cada ator e atriz. O filme é longo porque contempla com paciência e detalhes os diversos momentos do retorno de soldados para seu lar, após muitos anos de ausência em razão da Segunda Grande Guerra. Podemos ver e analisar aqui todas as dificuldades da volta, desde os primeiros momentos em que a incerteza, a ansiedade e outros sentimentos habitam os corações de quem enfrentou a crueza de uma guerra e estava retornando para a vida dita como normal. E a partir daí as várias facetas e os vários caminhos, dependendo de cada personagem, com as dificuldades de seguir a vida e de se readaptar, agravadas pela própria época pós-guerra que os EUA enfrentava. Tudo isso o filme mostra muito bem, tendo além disso um personagem que lembra a todo o momento a crueldade física da guerra, portanto com uma carga maior a ser suportada do que os outros, para retomar a dita vida rotineira da pré-guerra (o que para uma pessoa amputada é tarefa das mais difíceis, certamente). O ator que desempenha esse personagem inclusive ganhou –merecidamente- o Oscar de 1947 de Melhor ator coadjuvante: Harold Russel. Detalhe: Harold não era ator antes desse filme! O filme também ganhou os Oscar de Melhor filme, Melhor diretor, Melhor roteiro adaptado, Melhor edição, Melhor trilha sonora e Melhor ator (Fredric March). Mas poderia perfeitamente ter ganho também o de melhor atriz, porque Teresa Wright é excelente, embora também sejam ótimos Dana Andrews, Mirna Loy e Virginia Mayo. Talvez o melhor filme já realizado com essa temática, de readaptação à vida civil dos “veteranos” de guerra. O filme apresenta também um final muito bonito e emocionante e fez um grande sucesso na época, batendo recordes de bilheteria, sendo que ainda hoje, no Reino Unido, permanece como um dos dez filmes mais vistos em todos os tempos. Como curiosidade, embora o diretor Wyler tenha tido a preocupação durante todo o filme de ser o mais realista possível, temos que na parte final do filme os fatos apresentados em relação aos ex-aviões de combate que virariam sucata são absolutamente verdadeiros, contabilizando-se cerca de 2.000 aviões que efetivamente foram desmontados e sucateados (a cena que aparece foi rodada em uma antiga instalação de treinamento militar, em Ontário, Califórnia). 8,8