FÉ CORROMPIDA – NO CORAÇÃO DA ESCURIDÃO (FIRST REFORMED)

Um filme (de 2018) incomum, por sua seriedade e estranheza sombria. E por isso mesmo perturbador. Acompanhamos os fatos sem sabê-los inteiramente e com o desenrolar da história – que se passa em Snowbridge (NY) – é que vamos reunindo as informações sobre o protagonista e todo o seu entorno. Um pastor, uma comunidade, alguns segredos, situações que retratam uma vida aparentemente normal, mas já se intui de início que há muitas profundezas a serem exploradas, escondidas sob o verniz. Inclusive da Igreja e da própria fé (dos valores cristãos), muitas vezes indevidamente revestidas de política. E que, de fato, existem e vão sendo reveladas aos poucos e no final do filme de forma surpreendente e até assustadora. Duas cenas especialmente chamam a atenção e a final é simplesmente estarrecedora, daquelas de surpreender e ao mesmo tempo deixar o coração em situação de terror indefinido. Portanto, um filme destinado a públicos especiais, pesado, às vezes difícil de se entender de imediato, mas que revela muitas qualidades cinematográficas, principalmente do ator Etham Hawke e do diretor e roteirista Paul Schrader, embora a atriz Amanda Seyfried (igualmente em papel marcante da carreira) também esteja maravilhosa. Sobre Hawke, sua interpretação do reverendo Ernst Toller talvez seja o ápice de sua multifacetada carreira e alguns críticos, definindo muito bem, dizem que o personagem oscila, o tempo todo, entre a luz e as trevas. O filme é pessimista quanto ao futuro da humanidade, abordando também questões relevantes ambientais, tudo com muita competência em um texto inegavelmente rico, que concorreu a Melhor roteiro original no Oscar de 2019. O quanto pode a fé resistir à destruição dos dogmas, paradigmas, ideologias e talvez do próprio planeta? Segundo consta, este filme iniciou a trilogia, que teve continuação com O jogador (The card counter) de 2021 e com O mestre jardineiro (Master gardener) de 2022. 8,9