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O CIRCO

Mais uma obra de Charles Spencer Chaplin, neste caso datada de 1928. Este filme foi feito três anos antes de Luzes da cidade e três anos depois de Em busca do Ouro e é interessante assistir a ele após ver Luzes para verificar o quanto Chaplin evoluiu. Não que o filme seja ruim (ao contrário), mas Luzes é superior. Mesmo assim, era época do cinema mudo (Harold Lloyd e Buster Keaton aparecendo com destaque), pantomimas, cenas criativas, diferentes estilos de comédia, sentimentos, está tudo aqui, inclusive o personagem do Vagabundo e a “mocinha” indispensável (Merna Kennedy). Também algumas cenas de realização muito difícil e até complicadas de se explicar para a época, como a do leão, a do equilíbrio nas alturas e dos macacos (inclusive mordendo o nariz do ator), enfim, a genialidade presente, bem como os bons exemplos de decência, nobreza, de inocência até. As cenas na sala de espelhos do início também são memoráveis e no caso são magistrais (inclusive a sequência da dupla perseguição, com a câmera acompanhando a corrida dos dois, em paralelo, fugindo dos policiais). Em suma, é um filme muito acima da grande maioria produzida na época e só perde conceito se comparado com outros do próprio gênio Chaplin. Quatro curiosidades: a primeira é que Chaplin, que como sempre compõe a trilha sonora de seus filmes, aqui aparece cantando na introdução do filme; a segunda é nos créditos iniciais, ao invés de constar em algarismos romanos (como sempre era feito nos filmes para mostrar o ano da produção) o ano de 1928, constou erradamente o de 1968 (MCMLXVIII); a terceira curiosidade é que este filme sempre foi algo que Chaplin não citava muito, não mostrava orgulho e não falava sobre ele em entrevistas e na sua própria biografia: a explicação dada é a de que o problema são muitos acontecimentos ruins na vida do cineasta e que aconteceram justamente na época de um filme conturbado e que ao invés de 6 meses acabou demorando 2 anos para ser produzido: problemas de produção, incluindo desabamento de um circo, incêndio e problemas na vida pessoal de Chaplin (divórcio e receita federal), fora a imprensa “incendiária”; a quarta curiosidade diz respeito ao fato de que já no 1º Oscar da história, em 1929, havia “politicagens” e “favorecimentos”: o filme havia sido selecionado previamente para concorrer a quatro Oscars, mas após uma reunião a portas fechadas, comandada por Louis B, Mayer (chefão da MGM), foram retiradas as quatro indicações e Chaplin ganhou apenas um prêmio honorário, que mais tarde -conta-se- acabou virando peso de porta, já que ele ficou sabendo do complô contra ele e achou essa maneira de manter acesa a lembrança, ao mesmo tempo ironizando-a com o devido peso. 8,5