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TEMPOS MODERNOS

Muito antes de 1936 os filmes já eram falados, mas até para preservar o seu famoso personagem Carlitos (o vagabundo) e sua arte da pantomima, Chaplin resolver fazer este filme mudo. Foi produzido cinco anos após Luzes da cidade, seu último filme mudo e considerado um clássico do cinema. O som aqui é, portanto, apenas da música e dos efeitos, mas formando um belíssimo trabalho do próprio Chaplin, inclusive de edição. Curiosa e genialmente, apenas um personagem pode falar: justamente o dono da fábrica, o opressor e controlador de todos os fatos do trabalho de seus funcionários. Com esse filme Chaplin escancara as consequências dos avanços tecnológicos associados à busca incessante do lucro, apresentando uma sátira brilhante e uma contundente crítica social, ao mostrar como a industrialização pós depressão de 1929 afetou a vida das pessoas. Já no seu início, compara os trabalhadores a um rebanho de ovelhas e as consistentes cenas exibem não apenas o homem convertido meramente em uma peça da engrenagem, em atividades mecanizadas e repetitivas, mas enaltecem a tecnologia usada a favor do aumento da produtividade e do lucro, indiferente às necessidades e à própria existência do trabalhador explorado. Chaplin, uma vez mais, um gênio à frente de seu tempo! A cena da da máquina inventada para alimentar o trabalhador enquanto o mesmo continua trabalhando é absolutamente bizarra e poderosa! Aliás, o filme é tão impressionante na mensagem que passa, que foi proibido na Alemanha e na Itália, acusado de possuir “tendências comunistas”. E são múltiplos os seus elementos valiosos, muitos deles cômicos, como os da polícia combatendo manifestantes, do vagabundo sem querer assumindo a liderança da passeata, do desemprego, as cenas espetaculares no dancing (garçom, baseball, o pato com a bola…), de patinação na loja! E temos ainda a bela presença da atriz Paulette Goddard (com quem Chaplin viveu maritalmente por 10 anos), cuja personagem dá vida e estímulo ao operário, em muitos momentos sob os acordes da belíssima Smile, composição do próprio Chaplin para o filme e que se tornou imortal na história da música: é muito bela a cena em que a canção emoldura o sonho da casa própria, assim como é belíssimo o momento em que Ellen, também uma excluída, espera pelo Vagabundo na saída da cadeia e o conduz ao que para eles será o paraíso! E o filme fecha com outro momento também repleto de lirismo, que nos deixa uma mensagem permanente e inesquecível, de tenacidade e esperança. 9,5