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I AM ALI

i-am-ali-posterEle foi altivo, tagarela, insolente, provocador, sobretudo polêmico. Este documentário foi feito em 2014, quando Ali estava com 72 anos (e 9 filhos) e desde há muito sofria do Mal de Parkinson – desde que resolveu voltar ao boxe, com quase 40 anos. O filme faz um retrato do extraordinário lutador peso pesado falecido neste outono de 2016 – com depoimentos pungentes, sendo um deles de Mike Tyson, que se revela frágil perante o maior ídolo -, mas também apresenta um painel do ser humano, do homem que corajosamente adotou de um dia para o outro a religião muçulmana e se intitulou o representante da raça e de todos os irmãos e como rei do boxe. Que foi quando mudou o nome de Cassius Clay para Muhhamad Ali. Estilo canastrão, não revelava o ser humano que era por trás desse teatro todo, que incorporava misturando as brincadeiras com o jogo sério e que acabava desconcertando todos ao redor, como fazia com seus adversários no ringue, a ponto de Foreman dizer, semana passada, quando morreu o ídolo, que “foi embora a melhor parte da minha vida”. Pois a luta com Foreman foi uma das mais extraordinárias do boxe e a maior lição na vida de quem se considerava imbatível (e que ia ganhar fácil do falastrão Muhhamad), pois Ali apanhou muito durante os cinco primeiros rounds, para depois, pouco a pouco, mas inapelavelmente, derrubar o gigante e colocar à lona o perplexo adversário, que ficou sem forças de tanto bater e totalmente esgotado viu-se simplesmente esmagado. Admirável o depoimento desse lutador, assim como o do filho de um grande adversário: Frazier, entre outros, verdadeiros e por isso tocantes. Corajoso o ídolo, quando, convocado pelo governo americano, declarou que não iria para o Vietnã, mesmo perdendo seu título e correndo o risco de prisão civil: “Não vou viajar 16 mil quilômetros para matar inocentes”. Os momentos com a esposa e com a filha, porém, constituem grandes momentos, porque revelam a parte do  homem de família, do homem que chorava, daquele que era admirado apesar dos defeitos, justamente porque amava os seus, unia todos os familiares para que confraternizassem, tendo gravado em áudio valiosos documentos para a posteridade: inúmeras fitas, em gravador de rolo, registrando os momentos de crescimento de sua filha de 3 anos, em que se ouve a menina, a partir dos 3 anos ou menos, aprendendo e se divertindo com o amoroso pai. Um documentário que a par de manter elevado o grande esportista, revela muita coisa bonita, comovente e importante por trás do mito. 8,5

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ALL THE WAY

117232.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxMuitos filmes já foram feitos envolvendo a morte de John F. Kennedy e a vida e a obra de Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da Paz…mas parece que nenhum antes abordou os tempos que se seguiram imediatamente após a morte do Presidente, quando foi sucedido por Lyndon Johnson, que inclusive concorreu na eleição seguinte ao governo norte americano. Naturalmente os tempos já eram graves, porque convulsionados pelos movimentos negros, que até então sequer tinham direito a voto. E se tornaram mais conturbados ainda com o assassinato do presidente e as crises do governo, embaladas pelas costumeiras disputadas dos partidos republicano, democrata e liberal…E por fatos graves das disputas raciais, tendo como palco inclusive o célebre Estado do Mississipi: e justamente a discriminação racial era o objeto de uma lei pronta para ser votada e que iria justamente regulamentar os chamados direitos humanos. Baseado em fatos reais (que nos brindam com fotografias da época, ao longo do filme e nos créditos finais), o filme é extremamente cuidadoso na composição dos fatos e dos personagens – inclusive recomposição de época -, dirigido com muita competência por Jay Roach (Trumbo) e interpretado magnificamente pelo fabuloso Bryan Cranston (Breaking bad). Tem também o veterano e carismático Frank Langella, entre outros bons atores e atrizes. Aqui, o personagem central mostra o quanto a política pode ser sórdida e em tese tem que ser também flexível –, até mesmo por vezes deixando de se distanciar tanto do caminho que nunca deveria ter deixado de seguir.  8,2

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MAIS FORTE QUE BOMBAS

Mais-Forte-que-Bombas-723x1024Um drama forte, pesado em muitos momentos e que retrata uma família abalada pela perda da mãe e que já era de certo modo ausente, por ser repórter de guerra. A produção é de três países: Noruega, Dinamarca e França e o elenco é qualificado, capitaneado por Isabelle Hupert e Gabriel Byrne e com o brilho especial de Devin Druid (como o filho mais novo) – Jesse Eisenberg, entretanto, e como sempre, faz o papel dele mesmo. A história, que revela desde logo a morte da fotógrafa e correspondente de guerra Isabelle Reed, aborda a sua família e as consequências de viver e sobreviver com a mãe ausente, ela própria muitas vezes se considerando uma estranha em sua própria casa. Essas consequências passam pelo marido, pelas dificuldades até de comunicação deste principalmente com o filho mais novo, mas se concentram primordialmente no filho caçula e seus desajustes de toda ordem. A perda com a mãe temporariamente ausente se agravam com a mãe permanentemente ausente e cada um devendo se adaptar de seu modo. Mas há também outras questões interessantes abordadas no filme, relacionadas com o tempo, com o peso das expectativas – uma exposição da fotógrafa marcada..-, com a verdade das relações…  8,5

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A ÚLTIMA AVENTURA DE ROBIN WOOD

A Última Aventura de Robin HoodO filme retrata o final dos anos 50 e, dessa forma, o seu título obviamente não se refere ao herói propriamente dito, mas ao ator que o celebrizou no cinema: Errol Flynn, ator polêmico por seus gostos (e sexualidade) e que nos anos 30 e 40 era o herói dos filmes de capa e espada. Aqui, o foco é o escândalo provocado pelo seu último relacionamento amoroso. Em meio à loucura, à infelicidade – inclusive pelo mundo selvagem da busca à fama – ao glamour, costumes e moralidade da época, brilham Kevin Kline, quase como uma reencarnação do ídolo e Susan Sarandon, como a mãe…mas Dakota Fanning também está muito bem no papel da “lolita”. Falando nisso, um dos diálogos do filme envolve Flynn e o diretor Stanley Kubrick e por ele fica claro que o ator era uma das escolhas iniciais para fazer o “padrasto” em “Lolita”. 7,6

 

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RIFIFI (DU RIFIFI CHEZ LES HOMMES)

220px-RifififrenchposterEste é um dos filmes imperdíveis da década de 50, inclusive classificado por alguns como “noir”. Mas não é americano e sim francês, embora dirigido por um americano, Jules Dassin (que fugiu dos EUA nos tempos da “caça aos comunistas”). Na verdade, trata-se de um dos clássicos franceses e que até hoje tem muita força e brilho, com uma ou outra cena antológica – como a do assalto, onde não há diálogo ou música durante longos minutos ou da “agonia” da cena final, no retorno para a casa do menino. Os personagens são fascinantes, poderosos e pertencentes ao submundo parisiense, mas além deles e da excelente direção (premiada como a melhor em Cannes 1955), o filme é valorizado por outros fatores, como a trilha sonora, a fotografia (e os enquadramentos) e, claro, pelo ótimo roteiro.  8,8

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ALEXANDRA´S PROJECT

ysmiqiweUm filme de 2003, australiano, vencedor de alguns festivais de cinema e que foi selecionado para participar do Festival de Berlim daquele ano. Não sem razão. Trata-se de uma obra tão original, quanto surpreendente e visceral. Contar alguma coisa a mais será diminuir-lhe o impacto, mas é um dos filmes mais pungentes e crus (cruel?) envolvendo relacionamentos…A miséria das relações exposta de forma absolutamente corajosa, verdadeira e chocante. A experiência com o suspense e a curiosidade é tão intensa, que em certas cenas nos vemos tentados a acionar o “forward” do controle remoto, para anteciparmos logo o que virá… Como já dito, qualquer comentário poderá tornar menos impactante a trajetória – como espectador e expectador – e que certamente vale muito a pena pelo inusitado e pela profundidade da obra. Atuações marcantes de Gary Sweet e Helen Buday, ela realmente soberba. Filme estritamente destinado para adultos, de preferência com alguma experiência nas relações a dois.  8,5

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MINHA VIDA NA OUTRA VIDA (YESTERDAY´S CHILDREN)

556711Filme americano de 2000, com Jane Seymour e baseado em uma história real ocorrida com a escritora do livro (que fez um estrondoso sucesso), Jenny Cockell. É possível que alguém tenha memórias e as confunda com sonhos? Ainda mais sendo memórias de vidas passadas? O tema não é novo, nem o enfoque, mas como se trata de um filme muito bem feito, realiza seus objetivos, inclusive mantendo boa dose de suspense durante uma boa parte do tempo. Mesmo para quem não acredita em reencarnação e nesse tipo de assunto, o filme vai agradar e emocionar, porque envolve questões humanas e mistérios que sempre despertam o fascínio e no mínimo a curiosidade. A fotografia é bonita, a música tema absolutamente adequada e o filme na verdade apresenta apenas uma falha, que é perceptível, mas não contamina o seu lado positivo e o conjunto todo. Para não dar pistas e não estragar nada a quem não viu o filme ainda, pode-se dizer que essa falha tem a ver com a foto do final do filme e as reações que não ocorreram antes…  8,2

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ALÉM DA VIDA

20028717.jpg-r_160_240-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxEste é um filme americano de 2011, estrelado por Matt Damon e pela atriz francesa Cécile de France. Após anos de inegável sucesso protagonizando filmes que se tornaram clássicos do western e de reviver o gênero com o premiado Os implacáveis, Clint Eastwood acabou se firmando também como grande diretor. Entre outros, dirigiu Menina de ouro, Cartas de Iwo Jima, Sobre meninos e lobos, Gran Torino, O estranho sem nome, Bird…Filmes dirigidos por Clint invariavelmente passam pelo seu perfeccionismo, tanto no aspecto técnico, como na escolha do elenco. Fotografia, trilha sonora etc., tudo é muito bem cuidado em suas obras. Sem descuidar, é claro, da qualidade dos roteiros. Mas um dos maiores destaque do talento desse diretor é um plus de sensibilidade que possui e que invariavelmente acaba aparecendo em praticamente todos os seus filmes. Aqui, a abordagem é ousada, tratando do tema do “após a morte”, sob diversas perspectivas que acabam se entrelaçando…No início do filme cenas espetaculares de um tsunami. A partir daí se acompanha o enredo com interesse, o drama sendo acompanhado pelo suspense e os fatos atraindo curiosidade, embora às  vezes pareçam sem conexão…E é no final do filme, nas últimas cenas, que então desabrocha a referida sensibilidade em grau maior, guardando para um último momento, o desfecho, afinal, com reticências, sim, mas repleto de delicadeza…sutil, mágico!  8,5

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MARGUERITE

501497Que filme diferente! E o “pior” é que consta que baseado em história real! Um drama com humor, mas meio cáustico. Se fosse nos dias de hoje, poder-se-ia dizer que a personagem é uma “sem noção”. Mas seria cruel demais com a sua inocência! Há um filme americano, bem antigo, com o Peter Sellers, em que o personagem que ele interpreta está totalmente alheio à realidade, à maldade do mundo e na cena final anda sobre as águas…Muito além do jardim…Aqui é outro o contexto, mas a simbologia é a mesma, inclusive permitindo muitas metáforas…Até onde vai uma farsa? Até onde ela existe, afinal? E qual a sua definição? A inocência pode ser punida? Há o momento certo de cair o pano? O filme, com ótimo roteiro, fotografia, trilha sonora dos clássicos e atuações excelentes, passa-se na década de 1920 e é uma produção franco-belga-checa, recebendo dez indicações para o César 2016 (o Oscar francês): melhor filme, melhor diretor (Xavier Giannoli), melhor atriz (a excelente Catherine Frot), melhor ator coadjuvante (Andre Marcon), melhor roteiro, melhor som, melhor fotografia, melhor edição, melhor figurino e melhor design de produção. Realmente é algo original e muito bem realizado. Para entreter, emocionar e surpreender.  8,5

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AS CINCO PESSOAS QUE VOCÊ ENCONTRA NO CÉU

dvd-as-cinco-pessoas-que-voc-encontra-no-ceu-jon-voight-8459-MLB20004660660_112013-OUm filme de 2004, estrelado por Jon Voight (com Ellen Burstyn e Jeff Daniels), em boa atuação  – não achei, porém, ótima…-, baseado no famoso livro de Mitch Albom (que escreveu, entre outros, A última grande lição). Consta que o escritor se baseou na história real, contada por um tio que lutou na segunda guerra mundial, nas Filipinas. O filme apresenta uma interessante concepção de pós-vida e provoca algumas reflexões, passando também uma mensagem bastante interessante, a respeito das conexões existentes entre as pessoas e da importância que cada uma tem no próprio curso da sua vida, apenas desempenhando o seu papel, além de mostrar o quanto às vezes passa despercebido o quanto uma pessoa afeta a vida das outras, em menor ou maior grau de importância.  7,7

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O VENDEDOR DE PASSADOS

PosterCinema-Vendedor.indd-9Este é um filme nacional, de 2015, livremente baseado na obra de José Eduardo Agualusa. Dirigido por Lula Buarque de Hollanda (À beira do caminho), tem uma temática atraente e realiza diversos momentos de suspense junto com o drama e tem pelo menos um momento bastante emocionante, envolvendo uma questão social relevante. A atuação é satisfatória de Lázaro Ramos e Alinne Moraes (apresentando também Odilon Wagner, entre outros) e existe a qualidade da leveza na condução da história e a da curiosidade que desperta no espectador, tanto com relação a seu desenrolar, quanto quanto ao seu desfecho. Mesmo assim e apesar de algumas ótimas “sacadas”, o que se sente é a falta de uma estrutura melhor de ritmo e roteiro, talvez de edição, conjugada com os demais fatores (trilha etc.). É um bom filme, mas deixa em seu final a forte sensação de que poderia ter sido muito melhor, talvez em outras mãos, que soubessem aproveitar de maneira mais proveitosa o seu potencial e o de seus integrantes de qualidade. 7,7

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O DESCONHECIDO (EL DESCONOCIDO)

maxresdefault1Um thriller espanhol de 2015, com muita qualidade, eletrizante e emocionante, apresentando mais uma bela atuação do grande ator Luis Tovar. O ritmo envolve totalmente o espectador e é daqueles exemplos do quanto a forma é importante no cinema, além de referendar a qualidade do cinema da Espanha no panorama cinematográfico atual, aqui realizando um filme que não fica nada a dever a qualquer similar americano, embora esse gênero nunca tenha sido a especialidade espanhola. Mas o conteúdo também não é desprezível, pois o roteiro apresenta aspectos bastante interessantes e até inesperados, abordando inclusive um tema muito atual, envolvendo o sistema financeiro e a busca desenfreada por lucros. Excelente trabalho de elenco e do diretor Dani de La Torre, que – embora não por este filme – foi indicado ao prêmio Goya 2016, de “Melhor diretor revelação”. Diversão garantida para quem gosta de drama com suspense e muita adrenalina.  8,5

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A CONFISSÃO DE THELMA (THE FILE ON THELMA JORDAN)

5edd39c1e9cb71f929f78a13081e1894_jpg_210x312_crop_upscale_q90Filme americano de 1950 (na verdade produzido em 1949), estilo noir, dirigido por Robert Siodmak, com drama, romance, suspense, crime, tribunal…Daqueles com roteiro, bela fotografia e que parece mais longo do que os de hoje, mas isso em razão de  ter  conteúdo e sobretudo mistério em seu desenrolar e principalmente a respeito de seu desfecho (inclusive o espectador não tem certeza do veredito antes que seja pronunciado). O elenco é muito bom, mas quem brilha realmente é a estupenda Barbara Stanwyck, que, aliás, teve grande destaque nos anos 40 e 50 em filmes do gênero. Vale a pena se deixar levar pela trama, pelo belíssimo preto e branco e pelo ritmo sem sobressaltos, embora o filme não se compare, por exemplo, com clássicos do cinema noir, como Pacto de sangue, protagonizado pela mesma Barbara seis anos antes (dirigido por Billy Wilder).  7,8

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HORAS DECISIVAS (THE FINEST HOURS)

the-finest-hours-posterUm filme baseado em fatos reais, retratando uma grande tempestade no mar, a nordeste de Massachusetts, dois grandes navios com problemas em alto mar e paralelamente aos dramas vividos por um deles, os dramas experimentados por um barco de resgate que corajosamente rumou ao encontro do navio quase a pique (da guarda costeira). Esse tipo de filme o cinema americano faz com maestria. Seus defeitos são sempre os mesmos: evocam invariavelmente o mesmo tipo de emoção, baseados no heroísmo que enaltece os valores da pátria, da própria América, a honra, a generosidade, o cumprimento da missão e do dever acima de tudo…Suas qualidades, porém, também se repetem: mexem com valores comuns de todos nós, com nossas emoções básicas e primárias, típicas dos seres humanos, relacionadas com a humanidade, com a sobrevivência, mas também com o heroísmo, a generosidade…e isso provoca grande emoção, principalmente em se tratando de obra baseada em fatos reais. Portanto, um clichê, mas que emociona e nos faz grudar na tela durante todo o filme, que naturalmente tem a preocupação de mostrar, antes dos fatos dramáticos, a história por trás dos personagens e que os precede, construindo algo palpável para dar maior intensidade aos acontecimentos. Diversão garantida, com Chris Pine, Casey Aflleck e Eric Bana.  7,8

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RUA CLOVERFIELD, 10

ten_cloverfield_laneNão achei um filme excepcional, mas ele tem méritos por ser diferente e apresentar muita tensão – como os fatos se desdobrarão? – e algumas surpresas, que o excluem inclusive do rótulo de mera sequência. Uma delas é o ator John Goodman, visto geralmente em papéis cômicos e que aqui apresenta – e, como sempre, muito bem – algo totalmente inédito em sua carreira. No desenvolvimento, o filme mantém um bom suspense, muito mistério e na parte final deixa o espectador rendido, por ficar realmente sem poder prever o seu desfecho. Embora na maior parte da história os fatos ocorram dentro de um contexto já conhecido, os aspectos acima mencionados fazem com que o filme valha a pena, principalmente para os fãs de suspense/terror/ficção científica. Na verdade, o filme pode ser enquadrado como sendo do gênero mistério, ou ficção ou simplesmente um thriller, classificação que talvez seja mais adequada, porque mais abrangente. Importante ressaltar que na avaliação da crítica e do público, o filme tem ganho muitos elogios, sendo também destaque a atuação de Mary Elizabeth Winstead, a direção de Dan Trachtenberg (estreia) e o fato de que a produção toda custou cerca de 100 milhões de dólares.  7,6

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ELE ESTÁ DE VOLTA (Er ist wieder da)

er_ist_wieder_daO título desta comédia alemã, repleta de sarcasmo, mas também de ineditismo e inteligência, diz respeito a Adolf Hitler. E aqui vem o elemento de fantasia da história, pois a “mágica” que impulsiona o filme é Hitler ter aparecido na Alemanha em pleno ano de 2014, vindo, sem ninguém sabe como, diretamente do bunker. A partir daí (e esse fato ocorre no começo do filme) os fatos se desdobram e na verdade o filme se vale da comédia como veículo para abordar temas mais sérios e profundos, não apenas discutindo a figura de Hitler, mas também a situação atual do mundo moderno, a manipulação fácil da população, inclusive pela mídia – além da própria mídia -, a violência sem controle etc. Há momentos no filme que são inclusive bastante marcantes, espetaculares até. Como Hitler se portaria hoje em dia? E como as pessoas veriam um Adolf Hitler, com suas ideias – que a princípio não teriam mais cabimento na ordem do mundo atual…-, pensando tratar-se de um ator, mas chegando a ter dúvidas em alguns momentos? Baseado no livro de Timur Vernes, eis um filme diferente e que vale a pena ser visto. Para muita diversão e também reflexão.  8,8

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A BRUXA (THE WITCH)

a-bruxa-cartazSe o filme for examinado apenas sob a ótica do gênero, é dos melhores realmente. Porque oferece até mais do que inicialmente se espera dele: não só pela ambientação do século 17 e da locação repleta de reticências, mas pelo clima de permanente mistério, suspense e terror implícito que perdura ao longo de toda a história, com uma trilha sonora que não deixa o espectador relaxar. O elenco é ótimo e a atriz e modelo Anya Taylor-Joy, de apenas 20 anos, traz um desempenho bastante eloquente. O diretor e roteirista Robert Eggers, aliás, ganhou o prêmio de direção em Sundance. Entretanto, a minha sensação foi de que faltou alguma coisa para o filme se tornar uma obra acabada…principalmente senti alguns problemas na montagem/edição: apesar de haver sequências e planos cortados propositadamente, fiquei insatisfeito com algumas cenas, algumas “ligações” entre uma e outra cena…fora o fato de que achei totalmente inverossímil o lugar onde a família passou a morar ter sido construído do nada por apenas uma pessoa. De todo modo, um filme que foge do padrão do terror usual, tem um final memorável e cumpre com o objetivo de manter, quem assiste, tenso o tempo todo, realizando a melhor experiência do horror, que é sempre a que fica por trás do que se mostra…fora talvez algumas mensagens que podem ser lidas por quem tiver boa vontade, enfocando o fanatismo religioso, feminismo, entre outros temas.  8,0

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LA NOVIA

LanoviacartelCinema espanhol de primeira qualidade, baseado em Bodas de sangue, de Federico Garcia Lorca. Um drama exótico, com alguma sensualidade, suspense, música, um pouco de sobrenatural, muita poesia e locações que inspiram o mistério e a fantasia (Monegros e Capadocia turca). Direção excelente de Paula Ortiz – que também assina o roteiro -, maravilhosas trilha sonora e fotografia, impecável atuação de todo o elenco. Aliás, o filme teve inúmeras indicações ao Prêmio Goya 2016 (Oscar Espanhol): melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor atriz (Inma Cuesta), melhor ator (Asier Etxandia), melhor ator revelação (Álex Garcia), melhor atriz (Luisa Gavasa), melhor trilha sonora, melhor som, melhor direção de arte, melhor fotografia e melhor maquiagem. Uma obra que não é para todos os gostos, principalmente pela forma que a diretora adotou para contar a história – um desafio na adaptação livre de Bodas de sangue, porém mantendo em muito o “clima” e o texto literal do poeta -, mas que vai agradar bastante aos fãs de Lorca e do cinema espanhol, principalmente aos que apreciam “filmes de arte”.  8,7

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O CADÁVER DE ANNA FRITZ (THE CORPSE OF ANNA FRITZ)

1-85Um filme que será apreciado por pequena porção do público – em geral por homens e que normalmente gostam de cinema de arte -, porque é muito forte em seu tema, sendo além de bastante tenso, também mórbido, patológico: um terror moderno e que foge do trivial, pode-se dizer. O clima é valorizado pela direção, trilha, fotografia e pela interpretação do reduzido elenco. Produção espanhola de 2015, muito bem dirigida por Hèctor Hernández Vicens (em seu primeiro longa), apresenta as interpretações seguras de Alba Ribas (maravilhosa), Albert Carbó, Bernat Saumel e Cristian Valencia. É um thriller psicológico que sai do convencional e que será degustado por quem se afina com coisas exóticas, embora a temática não seja exatamente original. Mas fala do ser humano, de suas excentricidades, de seus limites envolvendo ética, amizade, medo e até mesmo o ódio. Pode-se até perceber pequenas inconsistências de roteiro, mas são mínimas frente ao conjunto, que redunda em uma boa diversão…embora com a advertência, uma vez mais, a respeito de não conter horror explícito, mas mesmo assim não ser daqueles filmes facilmente digeríveis. A derradeira cena pode ou não surpreender, mas tem forte aroma de polêmica. 7,8

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O FILHO DE SAUL

saul_fia_ver2Existem dramas densos, chocantes, bastante incômodos de se assistir pela história humana que apresentam. Mas há outros, ainda, que ultrapassam esses limites, justamente por retratarem a pura realidade, que sempre é um inferno maior. São os filmes que causam em nós revolta, angústia, aflição, tristeza, abalando-nos com vários tipos de sentimentos, inclusive perplexidade diante de fatos que mais parecem vindos da ficção e não dignos da humanidade. Por esse motivo é extremamente pungente este filme, ainda mais por narrar um quase inconcebível e recente período da história (há sessenta e sete anos), em plena segunda guerra mundial, dentro de um campo de concentração. E tudo ainda mais se acentua, com o brilhante tratamento cinematográfico e a extraordinária direção do noviço László Nemes: o dinamismo e o ritmo das cenas e a filmagem com a câmera se concentrando durante todo o filme no personagem principal, conseguem acentuar o terror, transmitindo para a tela uma aguda e perturbadora percepção da realidade. Provavelmente este filme húngaro é a obra mais realista e corajosa feita pelo cinema sobre o tema, sendo, como dito, também extremamente original, embora saibamos que a realidade foi ainda mais cruel e visceral. O fato central, em meio a gemidos, gritos, ruídos de comboios chegando etc., é a “missão” que Saul (o grande ator e poeta, Géza Röhrig), toma para si, paralelamente às suas atribuições de sonderkommando. Esse termo o filme já de início explica, como referente àqueles prisioneiros com status especial, escolhidos como uma espécie de “coordenadores” dos demais e dos serviços gerais. Em meio a procedimentos “burocráticos” (com a obrigação de tratar como fato normal cadáveres empilhados, o “gado” humano em filas aglomeradas para o crematório, limpeza e desinfecção após os assassinatos) e ao medo permanente, o protagonista tem uma meta singela e comovente, enquanto seus companheiros tentam, no frenesi dos acontecimentos e nos segundos de distração nazista, planejar algo para tentar escapar do indescritível. É um filme realmente diferenciado, que merece todos os prêmios que já ganhou: Oscar, Globo de Ouro, Independent Spirit, ASC Award,  Satellite Award, Critics´ Choice Awards, entre outros…apenas em Cannes ficou com o “segundo lugar”, ganhando o Grande Prêmio do Júri, mas não a Palma de Ouro, que lamentável e surpreendentemente foi dada a “Dheepan”. No final, alguns podem perguntar se o menino de fato era filho de Saul…mas creio que a cena final do filme dá a devida explicação.  9,0