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PERFECT SENSE

Traduzido para o português (com a irresponsabilidade, imbecilidade e insensibilidade de sempre de alguns, como OS SENTIDOS DO AMOR), o filme é impactante e a princípio à feição dos que apreciam filmes de arte (cult). Mas pode servir a outros públicos também, porque o tema é universal e no final das contas conduz à simplicidade: qual o limite mínimo para a sobrevivência do ser humano? É possível sobrevida na solidão? Qual a real face do desamparo, qual a capacidade de superação, de adaptação do Homem? A que se reduz o ser humano na medida em que vão lhe faltando elementos básicos de civilidade, vitais para que se relacione com outros seres humanos? A partir de uma temática de ficção científica, o enredo se aprofunda e se desenvolve na plenitude de cada etapa da degradação exposta. O que é essencial, afinal? Pode haver esperança? Momentos de perplexidade e até de terror atingem o espectador. Aqui, com o sempre ótimo Ewan McGregor em mais um filme original que protagoniza, no caso juntamente com a bela, sensual, misteriosa e também ótima Eva Green. Baseado em roteiro de Kim Fupz Aakeson (possivelmente inspirado em Saramago, no seu “Ensaio sobre a cegueira”) e com a direção iluminada do escocês David Mackenzie, um filme original, diferente, perturbador e que no final leva à emoção, mas não à fácil e sim à de grandes momentos, de um especial estado de espírito. 9,0

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UMA SEPARAÇÃO (A SEPARATION)

O filme é iraniano e concorre ao Globo de Ouro 2012 de “Melhor filme estrangeiro”.  No início, tudo parece simplório demais e que não vai conduzir a nada. Mas basta um pouco de paciência para constatarmos que o enredo vai aos poucos sendo construído habilmente e que uma situação de absoluta rotina doméstica se desdobra para se transformar em outra complexa, de verdades e mentiras, envolvendo família, costumes (inclusive conflitos entre tradição e modernidade), ética e religião, muito bem explorada pelo diretor Asghar Farhini e pelo excelente elenco (ator e atriz premiados com o Urso de Prata), que dá total verossimilhança aos personagens. Muito interessante ver alguns aspectos da cultura muçulmana, inclusive em relação à figura do juiz e como se dá o julgamento que faz diante de um caso concreto. O filme ganhou o Urso de Ouro na 61ª edição do Festival de Berlim, em 2011. PS – o filme ganhou o Globo de Ouro 2012 como Melhor Filme Estrangeiro.   8,8

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COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO

Para comentar esse drama-comédia-romance, faço uma comparação dele  com GIGANTES DE AÇO (Real Steel), estrelado por Hugh Jackman e com Evangeline Lilly (da série Lost) – igualmente um lançamento (mas que não vai ser comentado com destaque, por ter conceito inferior) -, porque ambos são duas faces distintas mesma moeda. Essa “moeda” é a seguinte: trata-se de filmes de gêneros bem diferentes cujo enredo sabemos de cor desde a primeira cena. São filmes estilo “família”, típicos da “sessão da tarde” e após o início já sabemos tudo o que irá acontecer, em detalhes, da primeira à última cena, pois já vimos esse enredo  dezenas e dezenas de vezes. Hollywood tem há muitos anos todos os ingredientes da receita do sucesso, bastando saber misturar bem os ingredientes. Acontece que “Gigantes de aço” é só clichê, não tem nenhuma mensagem nova ou interessante ou proveitosa, por esse motivo tornando-se absolutamente irritante para o espectador exigente, que chega à exaustão com tanta banalidade. Não há mais paciência! É só para divertir alguns minutos (os das lutas dos robôs), em que mais uma vez se admira a técnica cinematográfica americana. Enquanto que “Compramos um Zoo” traz junto com o roteiro já previsível uma porção de virtudes, que tornam a visão do filme algo absolutamente prazeroso e emocional. Sabemos o que vai vir, mas queremos que venha…O filme é bonito, limpo, bem dirigido (Cameron Crowe), bem interpretado (Matt Damon, ótimo, Scarlett Johansonn, ótima…) e nos coloca diante de conexões diversas, de relacionamentos e do enfrentamento dos fatos da própria vida, como o destino, os desafios e a própria morte,  com belas lições (com também belos efeitos de memória) de como saber administrar uma grande perda…Nada extraodinário, mas muito bem feito,  a ponto de chegar fácil ao coração.   8,4

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HISTÓRIAS CRUZADAS

O filme concorre em diversas categorias no Globo de Ouro do próximo dia 15 (janeiro de 2012). E não sem razão, pois, com muita sensibilidade e competência conta histórias interessantes (algumas leves e engraçadas, apesar da época e dos fatos retratados), abordando uma época de intenso segregacionismo racial nos EUA, especificamente no seu Estado mais racista, o Mississipi, no final da década de 50, início da década de 60. Época de Kennedy e Martin Luther King. Excelente reconstituição de época,  sendo equilibrados todos os elementos de um filme, como direção de arte, fotografia, roteiro, direção (Tate Taylor, novato em direção e com algumas experiências como ator) e com interpretações maravilhosas de todo o elenco, notadamente do par central (Viola Davis e Octavia Spencer), acompanhado de uma atriz que começa a despontar como um grande talento de sua geração:  Emma Stone e que ainda vai dar muito o que falar. Pena apenas que a bela música THE LIVING PROOF (que também concorre a Globo de Ouro) só toca durante os créditos finais. aliás costume lamentável dos americanos, que já fizeram isso em muitos outros filmes, inclusive com a música mesmo assim recebendo prêmios (“Say you say me” é um exemplo, no filme “O sol da meia-noite”). Mas isso, é claro, não retira do filme sua força de obra bem acabada. Flui no tom certo e com muita emoção. 9,0