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O FILHO DE SAUL

saul_fia_ver2Existem dramas densos, chocantes, bastante incômodos de se assistir pela história humana que apresentam. Mas há outros, ainda, que ultrapassam esses limites, justamente por retratarem a pura realidade, que sempre é um inferno maior. São os filmes que causam em nós revolta, angústia, aflição, tristeza, abalando-nos com vários tipos de sentimentos, inclusive perplexidade diante de fatos que mais parecem vindos da ficção e não dignos da humanidade. Por esse motivo é extremamente pungente este filme, ainda mais por narrar um quase inconcebível e recente período da história (há sessenta e sete anos), em plena segunda guerra mundial, dentro de um campo de concentração. E tudo ainda mais se acentua, com o brilhante tratamento cinematográfico e a extraordinária direção do noviço László Nemes: o dinamismo e o ritmo das cenas e a filmagem com a câmera se concentrando durante todo o filme no personagem principal, conseguem acentuar o terror, transmitindo para a tela uma aguda e perturbadora percepção da realidade. Provavelmente este filme húngaro é a obra mais realista e corajosa feita pelo cinema sobre o tema, sendo, como dito, também extremamente original, embora saibamos que a realidade foi ainda mais cruel e visceral. O fato central, em meio a gemidos, gritos, ruídos de comboios chegando etc., é a “missão” que Saul (o grande ator e poeta, Géza Röhrig), toma para si, paralelamente às suas atribuições de sonderkommando. Esse termo o filme já de início explica, como referente àqueles prisioneiros com status especial, escolhidos como uma espécie de “coordenadores” dos demais e dos serviços gerais. Em meio a procedimentos “burocráticos” (com a obrigação de tratar como fato normal cadáveres empilhados, o “gado” humano em filas aglomeradas para o crematório, limpeza e desinfecção após os assassinatos) e ao medo permanente, o protagonista tem uma meta singela e comovente, enquanto seus companheiros tentam, no frenesi dos acontecimentos e nos segundos de distração nazista, planejar algo para tentar escapar do indescritível. É um filme realmente diferenciado, que merece todos os prêmios que já ganhou: Oscar, Globo de Ouro, Independent Spirit, ASC Award,  Satellite Award, Critics´ Choice Awards, entre outros…apenas em Cannes ficou com o “segundo lugar”, ganhando o Grande Prêmio do Júri, mas não a Palma de Ouro, que lamentável e surpreendentemente foi dada a “Dheepan”. No final, alguns podem perguntar se o menino de fato era filho de Saul…mas creio que a cena final do filme dá a devida explicação.  9,0