Shortlink

O VIOLINISTA DO DIABO

42962253Uma produção ítalo-germânica, de 2013 e estrelada por David Garrett, que interpreta Niccòlo Paganini, talvez o maior virtuose da história do violino. Na verdade, o grande achado do filme é esse, pois Garrett é um violinista conceituado na vida real, inclusive concertista, e esse fato acaba sendo decisivo para que o espectador receba toda a emoção das interpretações musicais, considerado ainda o fato de que a obra de Paganini – inovadora para a época – não é de fácil execução e exige muita agilidade e destreza do instrumentista. Como ator, Garrett infelizmente deixa muito a desejar, além de não guardar nenhuma semelhança física com o feio artista (a fim de favorecer obviamente o lado romântico do filme) e, de outro lado, igualmente existem algumas inconsistências e falhas do roteiro, que é também carente em diversas abordagens da vida e obra de Paganini. Entretanto, acabamos esquecendo de boa parte disso tudo quando entra em cena a mágica do violino! Embora haja uma ou outra parte boa no filme, com destaque para a terna e bela cena no quarto de Paganini (com a execução e o canto de IO TI PENSO), os trechos do filme em que o violino dá vida à obra do artista são realmente emocionantes. Até porque esse instrumento, por natureza, quando emite suas agudas notas, parece nos transportar às alturas e fazer vibrar a nossa alma! E aqui todas as cenas do violino são essenciais para retratar um artista que foi extremamente polêmico e escandaloso (notadamente para o início do século 19) e que causou tal furor na época – tanto com sua arte, como com o seu comportamento -, que até hoje permanece a lenda de que tinha um pacto com o diabo. Fato que o filme enaltece e não apenas no título…Esse talento todo, inclusive, faz com que após o filme tenhamos interesse em conhecer melhor a obra do artista, desafio que certamente motivou a evolução artística de Garret que – contam – teria utilizado no filme um legítimo Stradivarius de 1716. 8,0

Shortlink

O BATISMO

o-batismoCinema da Polônia e de qualidade (2010). Envolve o mundo do crime, mas seu olhar principal é o da vida das pessoas comuns e da tentativa de fuga daquele mundo. O tema do homem que tenta deixar a criminalidade para trás e viver uma vida normal – mas que é assombrado pelo passado ou pelo presente (no caso, a máfia polonesa) – é recorrente. Mas aqui tem um tratamento qualificado, pela direção, roteiro e elenco. Um filme com limitado número de personagens e que orbita em torno da amizade, da família e do dilema dos dois amigos – os quais inclusive têm uma relação cercada de mistério e inquietação, de reticências perigosas -, com um andamento lento, mas que agrada porque esse ritmo é proposital. Justamente porque a partir de certo ponto é acrescido o elemento “tensão”, que vai gerar angústia e fazer como que a cada cena seja acentuada a expectativa da violência (presente em alguns momentos – incômodos – do filme e iminente na sua parte final). Mérito em muito do diretor, havendo também riqueza na ambiguidade dos personagens e na indefinição do gênero, o que também contribui para aumentar a surpresa e a imprevisibilidade do – discutível e talvez moral (?)- desfecho.  8,5

Shortlink

BAAHUBALI

bahubali_warrior_poster_p_15Por mais incrível que pareça, esta é uma superprodução indiana (do ano de 2015, com a segunda parte programada para terminar neste ano de 2016) e que deixa com inveja, em termos de majestade e efeitos especiais, até séries como “Game of Thrones”, por exemplo. O filme é surpreendente e impressiona desde o começo, com suas cores, danças, seus cantos, em uma miscelânia de referências acumuladas do cinema de todas as épocas, misturando até o bom com o mau gosto, mas nos deixando permanentemente em estado de perplexidade e espera. O cinema indiano, é certo, é o que mais produz no mundo todo, para surpresa de muitos. Mas neste caso chegou a um limite realmente notável, impressionante mesmo, trazendo momentos de artes marciais (com efeitos de câmera lenta), da tensão dos grandes westerns, dos heróis épicos e mitológicos, em um mundo de fantasia, cores fantásticas, cenários exuberantes e efeitos especiais que não deixam de primar pela violência, mas com grande criatividade e imaginação, em meio a experiências sensoriais inesquecíveis. A riqueza cultural está presente em um domínio que já se revela invejável da técnica e que mistura romance, ação, aventura, sensualidade, fantasias das mil e umas noites, intensas coreografias e uma explosão na tela de cenas que parecem cada vez mais atingir limites improváveis. É caso, então, de mergulhar na fantasia, de se deixar levar pela magia da aventura e das imagens, e pelos vários momentos de comunhão entre a ação, a fotografia e a trilha sonora, que criam emoções intensas, em magistrais cenas coreográficas… e quem já estiver surpreso com o ritmo e o desenrolar do filme, com seu acabamento primoroso, prepare-se para a parte final, quase inconcebível, e para ver no desfecho a definição superlativa sobre as diferenças que, afinal, vão definir e separar o homem que se forjou soldado, daquele que nasceu para ser rei. Uma viagem e tanto! 9,0

Shortlink

MRS DALLOWAY

Sra.-Dalloway-A-Última-Festa-1997Um filme “de época” como se diz: no caso, trata-se de fatos anteriores e posteriores à Primeira Guerra, principalmente os acontecimentos de cinco anos depois, contemplando Londres e a alta burguesia. E um jantar. O drama tem como foco principal a personagem de Vanessa Redgrave, Clarissa, casada com o nobre Dalloway e que no seu passado teve que fazer uma importante e decisiva escolha. E é em relação a essa opção que o tempo presente acabará sendo um palco importante para se exorcizar fantasmas e avaliar o poder da passagem do tempo, com ou sem arrependimento e perdão. O filme, que mostra o regime patriarcal vigente, em que as mulheres eram simplesmente passadas dos pais para os maridos, convive permanentemente com flash backs, mostrando a juventude dos personagens. Na verdade, é uma adaptação da notável obra de Virgínia Woolf e nisso residem suas principais hesitações (de enfoque e sequências), porque não é tarefa fácil adaptar um texto com tal riqueza e profundidade, tanto de romance, como de crítica social. E, como referido, é no presente que haverá alguns momentos pungentes, sobre as escolhas que fazemos e a passagem do tempo, emoldurados com alguns trechos da obra de Virginia (que já deixam clara a distância entre o livro e o filme), valorizados pela fotografia, pela narrativa suave e delicada e pelas ótimas interpretações de todo o elenco, com destaque para Vanessa, John Standing e Natascha McElhone e contando com a jovem (então) presença da bela Lena Headey (a rainha de Game of Thrones)… lembrando que este filme é de 1997.  8,0

Shortlink

NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA

nise-poster-630x936Este é um filme brasileiro muito bem realizado, com uma temática incômoda. Trata-se de um drama biográfico, que conta a história de uma médica psiquiatra que na década de 40 tentou implantar um método inusitado de tratamento nos doentes (esquizofrênicos, entre outros) em hospital psiquiátrico do subúrbio carioca…sabendo-se que inovações nem sempre eram bem recebidas, ainda mais em um ambiente médico masculino e que aplicava os métodos tradicionais (eletrochoque, lobotomia…). O filme tem cenas fortes, algumas que nos deixam indignados, outros emocionados, mas conta uma história importante, de uma personagem que merece destaque e sobretudo respeito pela filosofia de trabalho humanitário que tentou implantar. Na verdade, Nise de Oliveira pode ser tida como a precursora da terapia ocupacional no Brasil. A atuação de Glória Pires é excelente, mas a do restante do elenco não fica atrás. Na verdade, o trabalho dos atores é excepcional, porque é difícil acreditar estarmos vendo interpretações, quando parece estarmos diante de doentes reais de um manicômio. A mensagem do filme é ampla e toda relacionada com o ser humano, inclusive quando às possibilidades de resgate – através da arte – de quem aparentemente se encontra sem qualquer salvação. A verdadeira médica aparece no final do filme e é autora de inúmeros pensamentos que a definem, como o que encerra esta resennha: “O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com a outra. O que cura é a alegria. O que cura é a falta de preconceito”.  8,0

Shortlink

CIEN AÑOS DE PERDÓN

Cien_a_os_de_perd_n-503722289-largeO título do filme é a metade de um ditado popular que revela o seu enredo.  Quem souber o ditado, já mata a charada, se bem que logo no início já se fica sabendo do tema e com isso o espectador curioso já tenta adivinhar os acontecimentos. Alguns são previsíveis, mas outros não, pois embora a história não seja original no conteúdo aparente, aborda os fatos de um modo todo próprio e especial e apresenta enfoques e nuances muito interessantes. A produção é ótima, o roteiro coeso, a direção e fotografia de qualidade e o elenco excelente, incluindo atores argentinos e espanhóis (entre os quais Luis Tosar). Pode não ser nada muito extraordinário, mas é um filme muito bem realizado e que se constitui em ótima diversão, principalmente para quem gosta do gênero, aqui sendo ofertada uma boa dose de drama e suspense com pitadas de filme policial.   8,0

Shortlink

CORTINA RASGADA (TORN CURTAIN)

a1c2a2fc58fd9a21552ded9d3623d729_jpg_290x478_upscale_q90Este filme, de 1966, não está entre os mais famosos de Alfred Hitchcock. Mas certamente é um dos bons, com clima de guerra fria, mas se passando na Berlim Oriental, com muita ação, boas doses de policial/ espionagem e principalmente de suspense. E é notável como ao longo de todo o filme sentimos a mão do diretor, principalmente nas cenas repletas de tensão e de desfechos criativos – alguns até inimagináveis pelo espectador, que fica refém do enredo e dos seus desdobramentos. Duas ou três cenas são memoráveis, aliás. O roteiro foi bastante criticado na época do lançamento, com acusações de que era politizado demais, que o diretor estava em decadência etc. Mas alguns dos críticos reconhecem que um filme mediano do diretor ainda assim é melhor do que a maioria dos demais! Não o vejo assim como obra menor e também o considero muito acima da média do gênero, ainda mais que em belíssimo technicolor e com as presenças de Paul Newman e Julie Andrews comandando o elenco (embora a interpretação de ambos não seja espetacular, trata-se de um casal icônico). É bom sempre lembrar que um dos grandes momentos nos filmes de Hitchcock é identificar a cena em que o diretor aparece, sua marca registrada: no caso, perto do começo do filme, segurando um bebê no colo.  8,0

Shortlink

A CONSPIRACY OF FAITH (FLASKPOST FRA P)

a-conspiracy-of-faith-flaskepost-fra-p.49730Este é um policial bem diferente do padrão do cinema americano e por esse motivo pode ser bem prazeroso para quem aprecia o gênero. Trata-se do cinema dinamarquês e de um estilo que vai sem pressa e depois passa a ser de thriller quando o enredo toma corpo. O filme faz parte de uma série de vários envolvendo o chamado DEPARTAMENTO Q da polícia da Dinamarca e seus dois policiais investigativos, um deles bastante fora do normal/comum (com traumas e dificuldades de relacionamento). Dois filmes anteriores inclusive já foram comentados neste blog– este é o último, de 2016 -, quais sejam: THE KEEPER OF LOST CAUSES (O guardião das causas perdidas)  e THE ABSENT ONE (O ausente), sendo que o neste caso o filme vale não somente pelos personagens, ritmo/clima e roteiro, mas também pelas belas paisagens. 7,7

Shortlink

DEMOLIÇÃO

522c3c5bc8dd239318a642e8351a7007Este é um filme estranho, mas com um roteiro original e um desempenho vigoroso de ator. Essa estranheza decorre do comportamento do protagonista, muito bem interpretado por Jake Gyllenhaal. Ao mesmo tempo em que o filme estimula e deixa curioso o espectador pelos desdobramentos que vão ocorrendo, impõe a ele um desafio, que é o de convivência com fatos que contrariam a expectativa e o padrão social estabelecido. Sem aparentemente haver uma razão imediata que explique a conduta. Isso causa um certo mal estar que, entretanto, pode ser visto tanto como mérito, quanto como defeito. No meu conceito, dá-se a primeira hipótese, embora o filme tenha alguns “senões” que não o deixam plenamente satisfatório, como se tivesse faltado algum “elo” na história. Mesmo assim, no geral existe uma coerência no caos, que nos é apresentado a partir de uma surpresa inicial. Segura a direção de Jean-Marc Vallée (Clube de compra de Dallas, Livre…) e ótimo o restante do elenco, integrado principalmente pela excelente Naomi Watts e Chris Cooper. Talvez seja daqueles casos de se gostar ou detestar.  7,7

Shortlink

MANHATTAN NIGHT

Manhattan-NightUm thriller policial americano de 2015, com Adrien Brody, Jennifer Beals e a bela e sensual Yvonne Strahovski (Dexter). Na verdade, é um filme de detetive, com investigações, perigos à espreita e todo aquele clima de mistério típico. Inclusive narrado em primeira pessoa, como os bons exemplos do ramo. Só que o “detetive” é na verdade um repórter policial, estilo “foca de tablóide”. O problema é que a trama e toda a produção se assemelham muito com a de diversos outros filmes, cheirando, assim, coisas já vistas. Tem um certo charme nas imagens, bom ritmo, a trilha sonora imprime um suspense permanente…Mas, apesar da roupagem sofisticada, não tem especial originalidade no conteúdo, como se fosse realmente uma caprichada colagem de situações que deram certo, lembrando, vez ou outra, obras famosas, como Instinto selvagem, por exemplo…Também não achei Brody muito inspirado, apesar de se esforçar… Em suma, um filme até bom (porque caprichado e com algumas surpresas), mas que poderia ser – e aparenta  –  ótimo.  7,5

Shortlink

VIVER É FÁCIL COM OS OLHOS FECHADOS

Poster-de-VIVER-É-FÁCIL-COM-OS-OLHOS-FECHADOS-Vivir-es-Fácil-con-los-Ojos-Cerrados-Espanha-2013Um humilde professor de inglês e latim na Espanha de 1966 (época da ditadura de Franco) descobre que John Lennon vai filmar em uma cidadezinha no sul do país e para lá se dirige a fim de conhecer o ídolo e inspirador (para as aulas) e, para, entre outras coisas, dizer a ele o quanto é importante que os discos dos Beatles contenham também as letras das músicas. O roteiro é construído em torno de um fato verdadeiro, pois realmente John Lennon esteve em Almería naquela época, onde inclusive escreveu Strawberry Fields Forever. Nessa “empreitada” o protagonista vai dar carona a dois jovens que vão complementar o tempero deste filme simples, mas bem construído, cuja força reside em sua verdade, humanidade e naturalidade, mas também na harmonia dos seus elementos. Destacam-se o grande ator espanhol Javier Cámara (Truman, Fale com ela…) e a direção de David Trueba, que também assina o roteiro. O filme foi o candidato da Espanha ao Oscar 2015 de Melhor filme estrangeiro e ganhou o Goya 214 (Oscar espanhol) nas principais categorias: melhor filme, diretor, roteiro, ator, atriz revelação (Natalia de Molina) e trilha sonora (Pat Metheny).  8,0

Shortlink

AMOR EM SAMPA

Amor-em-SampaEste é um filme realizado por uma família que há muitos anos trabalha com cinema e literatura: dirigido por Kim Riccelli e pelo pai, Carlos Alberto Riccelli (que também atua), tem as canções feitas por eles e pela mãe, Bruna Lombardi, que igualmente protagoniza…O nome poderia ser “Amor por Sampa”, já que é uma homenagem a São Paulo, exaltando não somente suas qualidades, mas também seus defeitos, embora, como diz a maioria, o saldo seja positivo a favor do amor e da paixão pela cidade. Não é um musical, mas há várias canções interpretadas pelos personagens e muito bem cuidadas, sendo algumas melodias bastante bonitas ou interessantes e as letras ótimas e adequadas. Embora haja alguns altos e baixos, o filme diverte e tem conteúdo, passando algumas mensagens bastante importantes sobre as pessoas e suas buscas e a responsabilidade que todos temos pela preservação do ambiente que nos cerca. É um filme leve, que entretém e emociona, contando também com as participações de Eduardo Moscovis e Rodrigo Lombardi, entre outros.  7,8

Shortlink

I AM ALI

i-am-ali-posterEle foi altivo, tagarela, insolente, provocador, sobretudo polêmico. Este documentário foi feito em 2014, quando Ali estava com 72 anos (e 9 filhos) e desde há muito sofria do Mal de Parkinson – desde que resolveu voltar ao boxe, com quase 40 anos. O filme faz um retrato do extraordinário lutador peso pesado falecido neste outono de 2016 – com depoimentos pungentes, sendo um deles de Mike Tyson, que se revela frágil perante o maior ídolo -, mas também apresenta um painel do ser humano, do homem que corajosamente adotou de um dia para o outro a religião muçulmana e se intitulou o representante da raça e de todos os irmãos e como rei do boxe. Que foi quando mudou o nome de Cassius Clay para Muhhamad Ali. Estilo canastrão, não revelava o ser humano que era por trás desse teatro todo, que incorporava misturando as brincadeiras com o jogo sério e que acabava desconcertando todos ao redor, como fazia com seus adversários no ringue, a ponto de Foreman dizer, semana passada, quando morreu o ídolo, que “foi embora a melhor parte da minha vida”. Pois a luta com Foreman foi uma das mais extraordinárias do boxe e a maior lição na vida de quem se considerava imbatível (e que ia ganhar fácil do falastrão Muhhamad), pois Ali apanhou muito durante os cinco primeiros rounds, para depois, pouco a pouco, mas inapelavelmente, derrubar o gigante e colocar à lona o perplexo adversário, que ficou sem forças de tanto bater e totalmente esgotado viu-se simplesmente esmagado. Admirável o depoimento desse lutador, assim como o do filho de um grande adversário: Frazier, entre outros, verdadeiros e por isso tocantes. Corajoso o ídolo, quando, convocado pelo governo americano, declarou que não iria para o Vietnã, mesmo perdendo seu título e correndo o risco de prisão civil: “Não vou viajar 16 mil quilômetros para matar inocentes”. Os momentos com a esposa e com a filha, porém, constituem grandes momentos, porque revelam a parte do  homem de família, do homem que chorava, daquele que era admirado apesar dos defeitos, justamente porque amava os seus, unia todos os familiares para que confraternizassem, tendo gravado em áudio valiosos documentos para a posteridade: inúmeras fitas, em gravador de rolo, registrando os momentos de crescimento de sua filha de 3 anos, em que se ouve a menina, a partir dos 3 anos ou menos, aprendendo e se divertindo com o amoroso pai. Um documentário que a par de manter elevado o grande esportista, revela muita coisa bonita, comovente e importante por trás do mito. 8,5

Shortlink

ALL THE WAY

117232.jpg-c_215_290_x-f_jpg-q_x-xxyxxMuitos filmes já foram feitos envolvendo a morte de John F. Kennedy e a vida e a obra de Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da Paz…mas parece que nenhum antes abordou os tempos que se seguiram imediatamente após a morte do Presidente, quando foi sucedido por Lyndon Johnson, que inclusive concorreu na eleição seguinte ao governo norte americano. Naturalmente os tempos já eram graves, porque convulsionados pelos movimentos negros, que até então sequer tinham direito a voto. E se tornaram mais conturbados ainda com o assassinato do presidente e as crises do governo, embaladas pelas costumeiras disputadas dos partidos republicano, democrata e liberal…E por fatos graves das disputas raciais, tendo como palco inclusive o célebre Estado do Mississipi: e justamente a discriminação racial era o objeto de uma lei pronta para ser votada e que iria justamente regulamentar os chamados direitos humanos. Baseado em fatos reais (que nos brindam com fotografias da época, ao longo do filme e nos créditos finais), o filme é extremamente cuidadoso na composição dos fatos e dos personagens – inclusive recomposição de época -, dirigido com muita competência por Jay Roach (Trumbo) e interpretado magnificamente pelo fabuloso Bryan Cranston (Breaking bad). Tem também o veterano e carismático Frank Langella, entre outros bons atores e atrizes. Aqui, o personagem central mostra o quanto a política pode ser sórdida e em tese tem que ser também flexível –, até mesmo por vezes deixando de se distanciar tanto do caminho que nunca deveria ter deixado de seguir.  8,2

Shortlink

MAIS FORTE QUE BOMBAS

Mais-Forte-que-Bombas-723x1024Um drama forte, pesado em muitos momentos e que retrata uma família abalada pela perda da mãe e que já era de certo modo ausente, por ser repórter de guerra. A produção é de três países: Noruega, Dinamarca e França e o elenco é qualificado, capitaneado por Isabelle Hupert e Gabriel Byrne e com o brilho especial de Devin Druid (como o filho mais novo) – Jesse Eisenberg, entretanto, e como sempre, faz o papel dele mesmo. A história, que revela desde logo a morte da fotógrafa e correspondente de guerra Isabelle Reed, aborda a sua família e as consequências de viver e sobreviver com a mãe ausente, ela própria muitas vezes se considerando uma estranha em sua própria casa. Essas consequências passam pelo marido, pelas dificuldades até de comunicação deste principalmente com o filho mais novo, mas se concentram primordialmente no filho caçula e seus desajustes de toda ordem. A perda com a mãe temporariamente ausente se agravam com a mãe permanentemente ausente e cada um devendo se adaptar de seu modo. Mas há também outras questões interessantes abordadas no filme, relacionadas com o tempo, com o peso das expectativas – uma exposição da fotógrafa marcada..-, com a verdade das relações…  8,5

Shortlink

A ÚLTIMA AVENTURA DE ROBIN WOOD

A Última Aventura de Robin HoodO filme retrata o final dos anos 50 e, dessa forma, o seu título obviamente não se refere ao herói propriamente dito, mas ao ator que o celebrizou no cinema: Errol Flynn, ator polêmico por seus gostos (e sexualidade) e que nos anos 30 e 40 era o herói dos filmes de capa e espada. Aqui, o foco é o escândalo provocado pelo seu último relacionamento amoroso. Em meio à loucura, à infelicidade – inclusive pelo mundo selvagem da busca à fama – ao glamour, costumes e moralidade da época, brilham Kevin Kline, quase como uma reencarnação do ídolo e Susan Sarandon, como a mãe…mas Dakota Fanning também está muito bem no papel da “lolita”. Falando nisso, um dos diálogos do filme envolve Flynn e o diretor Stanley Kubrick e por ele fica claro que o ator era uma das escolhas iniciais para fazer o “padrasto” em “Lolita”. 7,6

 

Shortlink

RIFIFI (DU RIFIFI CHEZ LES HOMMES)

220px-RifififrenchposterEste é um dos filmes imperdíveis da década de 50, inclusive classificado por alguns como “noir”. Mas não é americano e sim francês, embora dirigido por um americano, Jules Dassin (que fugiu dos EUA nos tempos da “caça aos comunistas”). Na verdade, trata-se de um dos clássicos franceses e que até hoje tem muita força e brilho, com uma ou outra cena antológica – como a do assalto, onde não há diálogo ou música durante longos minutos ou da “agonia” da cena final, no retorno para a casa do menino. Os personagens são fascinantes, poderosos e pertencentes ao submundo parisiense, mas além deles e da excelente direção (premiada como a melhor em Cannes 1955), o filme é valorizado por outros fatores, como a trilha sonora, a fotografia (e os enquadramentos) e, claro, pelo ótimo roteiro.  8,8

Shortlink

ALEXANDRA´S PROJECT

ysmiqiweUm filme de 2003, australiano, vencedor de alguns festivais de cinema e que foi selecionado para participar do Festival de Berlim daquele ano. Não sem razão. Trata-se de uma obra tão original, quanto surpreendente e visceral. Contar alguma coisa a mais será diminuir-lhe o impacto, mas é um dos filmes mais pungentes e crus (cruel?) envolvendo relacionamentos…A miséria das relações exposta de forma absolutamente corajosa, verdadeira e chocante. A experiência com o suspense e a curiosidade é tão intensa, que em certas cenas nos vemos tentados a acionar o “forward” do controle remoto, para anteciparmos logo o que virá… Como já dito, qualquer comentário poderá tornar menos impactante a trajetória – como espectador e expectador – e que certamente vale muito a pena pelo inusitado e pela profundidade da obra. Atuações marcantes de Gary Sweet e Helen Buday, ela realmente soberba. Filme estritamente destinado para adultos, de preferência com alguma experiência nas relações a dois.  8,5

Shortlink

MINHA VIDA NA OUTRA VIDA (YESTERDAY´S CHILDREN)

556711Filme americano de 2000, com Jane Seymour e baseado em uma história real ocorrida com a escritora do livro (que fez um estrondoso sucesso), Jenny Cockell. É possível que alguém tenha memórias e as confunda com sonhos? Ainda mais sendo memórias de vidas passadas? O tema não é novo, nem o enfoque, mas como se trata de um filme muito bem feito, realiza seus objetivos, inclusive mantendo boa dose de suspense durante uma boa parte do tempo. Mesmo para quem não acredita em reencarnação e nesse tipo de assunto, o filme vai agradar e emocionar, porque envolve questões humanas e mistérios que sempre despertam o fascínio e no mínimo a curiosidade. A fotografia é bonita, a música tema absolutamente adequada e o filme na verdade apresenta apenas uma falha, que é perceptível, mas não contamina o seu lado positivo e o conjunto todo. Para não dar pistas e não estragar nada a quem não viu o filme ainda, pode-se dizer que essa falha tem a ver com a foto do final do filme e as reações que não ocorreram antes…  8,2

Shortlink

ALÉM DA VIDA

20028717.jpg-r_160_240-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxEste é um filme americano de 2011, estrelado por Matt Damon e pela atriz francesa Cécile de France. Após anos de inegável sucesso protagonizando filmes que se tornaram clássicos do western e de reviver o gênero com o premiado Os implacáveis, Clint Eastwood acabou se firmando também como grande diretor. Entre outros, dirigiu Menina de ouro, Cartas de Iwo Jima, Sobre meninos e lobos, Gran Torino, O estranho sem nome, Bird…Filmes dirigidos por Clint invariavelmente passam pelo seu perfeccionismo, tanto no aspecto técnico, como na escolha do elenco. Fotografia, trilha sonora etc., tudo é muito bem cuidado em suas obras. Sem descuidar, é claro, da qualidade dos roteiros. Mas um dos maiores destaque do talento desse diretor é um plus de sensibilidade que possui e que invariavelmente acaba aparecendo em praticamente todos os seus filmes. Aqui, a abordagem é ousada, tratando do tema do “após a morte”, sob diversas perspectivas que acabam se entrelaçando…No início do filme cenas espetaculares de um tsunami. A partir daí se acompanha o enredo com interesse, o drama sendo acompanhado pelo suspense e os fatos atraindo curiosidade, embora às  vezes pareçam sem conexão…E é no final do filme, nas últimas cenas, que então desabrocha a referida sensibilidade em grau maior, guardando para um último momento, o desfecho, afinal, com reticências, sim, mas repleto de delicadeza…sutil, mágico!  8,5