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DON JON (COMO NÃO PERDER ESSA MULHER)

don-jon-poster04Uma comédia ácida (temática para adultos) e nada convencional que passou meio despercebida nos cinemas (a partir do final de 2013), mas que é uma revelação. Assim como também o é Joseph Gordon-Levitt, como roteirista e diretor, além de também protagonizar o filme – e com prestígio imenso, contando com duas grandes atrizes no elenco: Scarlett Johansson e Juliane Moore -, com um roteiro feito basicamente sob a ótica masculina. Sobre o título em português, embora seja reiterado meu comentário a respeito, é mais uma vez lamentável e neste caso mostra-se totalmente dissociado do enredo! Mas este filme, uma comédia satírica e que escracha com uma porção de valores, se visto no tom certo propiciará muita diversão. E no final fará pensar. O personagem de Joseph, um ítalo-americano que gosta do corpo, do carro, da família, dos amigos e das mulheres, é um sujeito viciado em sexo pela internet e que acha que isso é muito mais atraente do que as relações da vida real. A composição desse personagem é muito interessante e deve ter divertido bastante o ator (inclusive nas cenas com o pai, nas refeições de família, ambos gritando e gesticulando, cada um com a sua camiseta regata branca, no bom estilo “malandro-mafioso”…). O roteiro é excelente também nas entrelinhas, ao criticar/satirizar diversas instituições, como a própria família, o casamento, a Igreja, o culto ao corpo e por aí afora…Quanto mais sutilezas percebermos, mais nos divertiremos. Detalhe: a irmã – permanentemente pendurada no celular – é interpretada por Brie Larson, que recentemente ganhou o Oscar de Melhor Atriz (“Room”). Comédia à parte, entretanto, o mais importante do filme é que a sátira acaba prestando serviço a favor da reflexão, que se torna um elemento essencial na parte final, a partir dos diálogos de Jon com a nova amiga, que é a pessoa que verdadeiramente passa a questionar profundamente a respeito do vício do protagonista. O que temos, então, é uma mensagem que enaltece a verdade, como norte absoluto dos relacionamentos. O final é muito bonito e poderá para alguns parecer uma solução fácil ou até sentimentaloide. Eu não vi assim, porque achei que os fatos ocorrem de uma forma lógica e penso que a verdade é o que todos, afinal, buscamos ou deveríamos almejar.  9,0

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MON ROI

mon-roi_t92847_jpg_210x312_crop_upscale_q90Apesar do título – que carrega a inteligência e a sutileza francesa -, o filme é contemporâneo. Perfeito o nome do filme e nos mais variados sentidos, como a história vai mostrar. Trata-se de um drama que incomoda, porque relata uma difícil e neurótica relação de casal, um universo nada incomum mas complicado de administrar, onde conflita a expectativa de uma vida normal com a personalidade e os problemas individuais, quadro construído com maestria por um par de “atores” excepcionais: Vincent Cassel e principalmente Emmanuelle Bercot. Um maravilhoso desempenho de ambos, pode-se dizer que um trabalho perfeito dela, tanto, que ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes 2015 (maio), empatada com Rooney Mara (por Carol). É um drama forte, um relato pesado de uma relação explosiva, inconstante e com muitas decorrências psicológicas. Não é para todos os gostos, mas se trata de um filme muito bem feito e, como dito, extremamente valorizado pela interpretação do par central, que evidentemente foi muito bem dirigido por Maïween. É um filme realista e que mostra a complexidade de uma relação, que na visão de alguns pode ser tida como normal, mas na de outros como absolutamente doentia. Há instantes de muita emoção, de variados tons, como em uma relação maníaco-depressiva…De todo modo, cada um pode se identificar à sua maneira…ou não.  7,8

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A VINGANÇA ESTÁ NA MODA (THE DRESSMAKER)

373ce70afec992ca03c36c6a75fc920672f91e82Mais uma vez um título ridículo em português, mas deixemos para lá…Porque este filme é tão original, quanto fascinante e merece ser visto com atenção – com o aviso de que foge totalmente do trivial. Em alguns momentos nos deixa desconcertados pelo rumo da história e pela indefinição quanto ao seu gênero – aspecto que pode provavelmente render críticas à obra – e até podemos perguntar: “mas que diabo de filme é esse”? Será um drama? Uma comédia? Um conto de fadas? Uma fábula com acentuada crítica social? Pode ser a mistura de tudo isso, mas o fato é que diverte, surpreende e emociona com o seu lado – forte – dramático. Lembra até, por alguns enfoques, o cinema de Tarantino. Também por tudo isso é muito bom ver este filme australiano (baseado em romance) sem saber nada da história. O elenco está impecável, com destaque para a ótima Judy Davis, para o aqui espetacular Hugo Weaving – que certamente deve ter se divertido muito com seu papel – e para a maravilhosa Kate Winslet. Um texto extremamente criativo, muito capricho nos figurinos, na fotografia e na ótima direção da australiana Jocelyn Moorhouse, que também co-assina o roteiro. Quando termina, dá até vontade de aplaudir. E após o “the end” ainda ficam por um bom tempo algumas das emoções que proporciona, fato que referenda a qualidade da obra.  9,0

 

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THE PROGRAM

theprogramO Tour de France é a mais famosa competição ciclística de rua do mundo e o americano Lance Armstrong ali se tornou uma lenda, ganhando o primeiro lugar simplesmente em sete edições consecutivas (disputa por equipes e em etapas), um recorde inigualável (entre 1999 e 2005). Esse é o tema deste filme, quase um documentário, e que retrata a vida e os escândalos que envolveram esse “mito” do esporte. O diretor é Stephen Frears (O retorno de Tamara, Philomena…) e o ator Ben Foster tem um belo desempenho no papel do protagonista. Como curiosidade, após participar do Festival de Toronto de 2015, o filme foi ameaçado de não estrear na Itália em razão de uma ação judicial movida pelo médico do atleta, sob a alegação de que os fatos mostrados no filme não representam a verdade e que o caluniam. Como diria Oprah (rss), o choro é livre!… 7,8

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O PERFUME DA MEMÓRIA

221185.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxEste é o terceiro filme de Oswaldo Montenegro (que aqui é apenas o narrador), mas o segundo a que assisto (antes, Solidões). E novamente tenho uma surpresa muito agradável. O “menestrel” de fato aprendeu que uma forma importante de arte é justamente mesclar as variadas espécies de manifestação artística, sem preconceitos ou limites…O cinema neste caso funciona como uma ampliação da arte teatral e musical do grande artista, proporcionando ao espectador momentos de intensa emoção. Aqui, as cenas dramáticas são emolduradas pelas lindas músicas e a trilha sonora compõe com a história e com as protagonistas (atrizes escolhidas a dedo) um universo de magia e sensibilidade. As emoções acabam ficando à flor da pele e no final nos sentimos até fragilizados diante das verdades que experimentamos e também com as quais nos identificamos. A direção – e as necessidades artísticas – do sensível compositor/cantor e agora cineasta encontra a resposta precisa nas superlativas performances de Kamila Pistori e Amandha Monteiro – com um fundo cênico/musical de Madalena Salles na flauta e da filha Janaína no cello. Na verdade, ponto vital do filme é o fato de que Kamila e Amandha não são apenas boas atrizes: elas estão simplesmente espetaculares, dentro de um contexto onde o relevante é o ser humano e o estudo de sua alma, de suas fragilidades e de suas buscas. As simbólicas cores de sonho da poesia e da música de Oswaldo encontram agora um campo fértil no mundo real, de pessoas e de sentimentos, explorados com muita propriedade e delicadeza.  9,0

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TRUMAN

Truman_(Official_film_poster)Uma história simples, conduzida com toda a leveza possível (ares de comédia…portanto, uma comédia dramática) e que nas mãos erradas traria resultados possivelmente desastrosos: pela delicadeza do tema e das necessárias sutilezas… Entretanto, dirigido pelo competentíssimo Cesc Gay (O que os homens falam) e com um elenco magistral, o filme alcança seu objetivo e o supera até, pois temos aqui uma pequena grande obra: baixo orçamento, sem arroubos, sem efeito especial algum, uma história humana, de pessoas, de amigos, de laços importantes, muitíssimo bem contada…o próprio nome do filme é algo que o enobrece pela mensagem que traz implícita, pois “Truman” é o nome do cachorro do personagem interpretado pelo estupendo Ricardo Darín. Aliás, o elenco, que valoriza tremendamente o filme, é comandado por ele, o maior ator argentino e um dos melhores do Cinema, na ótima companhia de Javier Cámara, um dos grandes intérpretes do cinema espanhol (Fale com ela, Lúcia e o sexo, A vida secreta das palavras, O que os homens falam…). Tanto é assim, que há um mês, esse filme recebeu os principais prêmios Goya (Oscar espanhol): Filme, Roteiro, Ator (Darín) e Ator Coadjuvante (Cámara).  9,0

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VIOLÊNCIA E PAIXÃO (CONVERSATION PIECE)

Violência-e-PaixãoDireção de Luchino Visconti (O leopardo, Morte em Veneza, Os deuses malditos, O inocente...) já é uma garantia de requinte: de roteiro, de cenários, de figurino, de trilha sonora…E também de elenco, aqui capitaneado de forma magistral por um já veterano Burt Lancaster (que na época da filmagem, em 1974, tinha 61 anos), acompanhado por Silvana Mangano e Helmut Berger, entre outros (com a participação inclusive de Dominique Sanda e Cláudia Cardinale – não creditadas). O tema envolvendo “declínio, mudanças e o tempo” sempre foi uma predileção do diretor, que aqui enfoca um requintado, solitário e maduro intelectual (professor), subitamente retirado de sua calma rotina pela vulgaridade e pelos claros sinais da mudança dos tempos e dos costumes. A perplexidade da cultura e da classe diante do vulgar, a solidão parecendo necessitar do abandono de um ombro qualquer…diversos enfoques mostrados com extremo bom gosto e cuidado e muitas vezes afiados diálogos, que provocam no espectador os mesmos sentimentos experimentados pelo protagonista…mais uma vez: graças ao notável trabalho de Burt Lancaster e à direção primorosa de Visconti. Por absolutamente verdadeira e síntese perfeita, cito parte da crítica feita ao filme por Miguel Barbieri Jr (a quem peço a devida licença): “Quando se vê uma fita como esta, percebe-se quanto o cinema perdeu da grandiosidade e do intimismo. Sente-se, é claro, algo démodé nos figurinos, nos hábitos e na decoração. Os diálogos desconcertantes, contudo, permanecem muito atuais, assim como se conservam intactos os sentimentos revelados. Quase um testamento, Violência e Paixão confronta o frescor da juventude com os dissabores da velhice. Em um round amargo e melancólico de duas horas, Visconti vislumbrava o início do próprio fim permeando a história de verdades avassaladoras”. O título do filme, em inglês, refere-se às pinturas estilo “retratos de família”, colecionadas pelo personagem de Burt.  9,0

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VODITEL DLYA VERY

Voditel-dlya-VeryA tradução para o português pode ser a mesma que foi feita para o inglês: “Um motorista para Vera”. Um filme que às vezes dá a sensação de que foi baseado em uma extensa obra literária ou que foi montado a partir de uma minissérie…porque parece que a edição ficou apressada em alguns momentos. Mas não deixa de ser uma obra interessante. Alguns personagens marcantes, dramas atraentes e que nos fazem acompanhar a trama com curiosidade e algum suspense, um filme de aventuras, mistério, romance, enfim, uma boa diversão, principalmente porque mantemos contato com uma cultura e um cinema totalmente diferentes do que costumamos apreciar: aqui, trata-se do cinema russo (co-produção ucraniana) e de uma história que se passa em 1962 filmada na Ucrânia e na Crimeia. Portanto, o tema envolve o regime comunista, o exército, a KGB etc. Mas a sinopse do filme pode ser ainda mais resumida em uma frase: “É sempre bom lembrar que é o Estado quem dá as cartas…”.  8,0

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O HOMEM NO TERNO CINZENTO

23361_posterAlguns filmes antigos nos dão essa sensação: de vários filmes dentro de apenas um. Eram roteiros complexos, que abordavam uma linha de ação e em seguida seguiam por outras vertentes paralelas, criando um universo rico e às vezes até inesperado. Mas a qualidade final, claro, não era automática, dependendo da riqueza e coerência do texto, da direção e da interpretação (e, óbvio, da montagem e trilha sonora). O roteiro desde filme de 1956, embora na época tenha sido impactante e faça algumas reflexões bem importantes (carreira, sucesso, família…), tem altos e baixos e Gregory Peck é um ator elegante, talhado para determinado tipo de papel, mas não o vejo como um grande ator e acho que o personagem exigiria alguém mais visceral. Já Jennifer Jones é o oposto do fleumático Gregory e fornece o drama que o roteiro pede. De todo modo, é uma obra interessante e que merece ser vista, com a participação de Fredric March.  7,7

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REMEMBER (MEMÓRIAS SECRETAS)

remember_ver4Quando a gente pensa que já viu tudo a respeito da II Guerra e dos dramas de Auschwitz, surge um belo filme como esse para mostrar que para a criatividade, sensibilidade e inteligência ainda resta um campo fértil: não é à toa, portanto, que o roteiro, de Benjamin August concorreu a prêmios em diversos festivais. Não que seja um roteiro sem falhas: há algumas inconsistências, mas é daqueles casos em que o “todo” compensa alguns “pequenos deslizes” – embora não seja essa a opinião de parte da crítica. Esse roteiro é realizado de modo perfeito pela direção de Atom Egoyan e pela extraordinária performance de dois atores magistrais do cinema: Christopher Plummer e Martin Landau. Principalmente o primeiro – notadamente pelo problema de saúde do personagem central –, faz com que o filme seja emocionante e nos envolva também em um suspense muito atraente, na medida em que a história nos conduz por caminhos misteriosos e investigativos. Também trabalha nesta produção canadense lançada em 2016 o ótimo Dean Norris (de Breaking Bad), entre outros. Um filme forte, marcante e que guarda para o seu final imagens de extraordinário impacto.  9,0

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HYENA ROAD

75_Zj_Jo_RFugindo ao cinema trivial americano (dentro do gênero), este filme de guerra tem o mérito de trazer para a tela diversas situações de tensão muito bem costuradas dentro da imprevisibilidade das batalhas envolvendo os talibãs e os soldados canadenses posicionados em pleno território afegão. Situações tensas, o perigo rondando em cada esquina, dinamismo das cenas, temos aqui um roteiro consistente e que mantém o suspense com a força da direção e a individual dos personagens, bastante bem interpretados. O filme se passa na região de Kandahar, onde os tiroteios ocorrem em meio à população civil e as cenas são bastante realistas, inclusive envolvendo bastante o espectador. Interessantes também alguns conflitos de pontos de vista em situações importantes e limite. O título do filme se refere à estrada que na visão do exército canadense é estratégica no combate aos talibãs, sendo permanentemente monitorada por franco-atiradores. Produção canadense lançada no final de 2015, participou, entre outros, do Festival Internacional de Cinema de Toronto.  8,8

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VISÕES DO PASSADO (BACKTRACK)

026661.jpg-r_160_240-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxO roteiro desta produção australiana de 2015 não apresenta elementos muito originais, mas o filme tem uma boa interpretação de Adrian Brody (O pianista) – um psicólogo/psiquiatra atormentado – e muito clima de suspense o tempo todo, acentuado pela trilha sonora. Também apresenta, en passant, a participação do conhecido ator Sam Neil (Jurassic Park) e a partir de sua metade, quando o enfoque muda e os fatos passam a ter alguma conexão ou pelo menos há um indício de que tudo vai fazer sentido, o filme cresce bastante e tem um final bem bom. Nada também muito original, mas muito bem feito, com alguma poesia até, embora se trate daqueles filmes para quem gosta de “assombrações” e “fantasmas” – que propiciam alguns momentos de terror em meio à trama policial -, o que pode não agradar a todos os gostos.  7,5

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SECRET IN THEIR EYES (OLHOS DA JUSTIÇA)

Secret_in_Their_Eyes_posterLançado nos EUA no final de 2015, escrito e dirigido por Billy Ray (Capitão Philips, Jogos Vorazes…) e baseado no excelente filme argentino de mesmo nome (com Ricardo Darín), talvez por isso mesmo não seja um drama policial para ficar na história, mas é um ótimo filme, inclusive no gênero sendo muito acima da média. Esquecendo que é um remake, o filme é realmente uma ótima diversão, com muito suspense, embora uma falha do roteiro que eu percebi, mas acredito que não seja vista pela maior parte das pessoas, porque se trata de um detalhe. Direção, edição, trilha, tudo funciona muito bem, inclusive pela força do elenco de primeira: Chiwetel Ejiofor (12 anos de escravidão), Kicole Kidman, Julia Roberts – excelente! -, Dean Norris (Breaking Bad), Michael Kelly (House of cards) e Alfred Molina (Homem aranha 2), entre outros. O ritmo traz com ele muita energia, tensão e dramas paralelos atraentes. No final, algumas surpresas. Se filmes policiais forem do gosto do espectador , trata-se do chamado “filmaço”.  8,7

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HEIST (O SEQUESTRO DO ÔNIBUS 657)

filmes_10346_heist6Como o título em português já indica (sem sutileza alguma, como sempre!), trata-se de um filme de ação e suspense (com um drama de fundo). Um thriller, portanto. Entretanto, embora sejam retratadas diversas situações clichê e vistas dezenas de vezes em outros filmes, aqui existem alguns diferenciais que tornam o filme atraente. Personagens, diálogos, um ou outro fato imprevisível. Interessante como o ator Jeffrey Dean Morgan tem aparecido mais no cinema e em filmes importantes nos últimos anos, provavelmente fruto de seu personagem em The good wife. Mas aqui ele tem o carisma e a força de Robert De Niro ao seu lado, interpretando um personagem “mafioso” ao estilo dos que sempre gostou de fazer. Scott Mann dirige muito bem e mostra claramente a grande força do cinema – nas imagens, nas interpretações realistas, na trilha sonora e principalmente na montagem (edição) -, pois certamente a história escrita no papel não passa de lugar-comum, estando seu mérito exatamente na forma pela qual é mostrada, causando boas emoções.  7,6

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GRANDMA (APRENDENDO COM A VOVÓ)

Aprendendo-com-a-Vovó-Dublado-233x300Uma situação específica causa uma forte e inesperada aproximação entre avó e neta, gerando diversos fatos interessantes, inclusive pela urgência da situação e considerando a personalidade, temperamento e opção sexual da avó. Trata-se de uma comédia dramática americana, de 2015, bem dirigida por Paul Weitz, mas cuja força motriz reside na belíssima interpretação de Lily Tomlin, veterana atriz e que por esse trabalho foi indicada no Globo de Ouro 2016 (Melhor Atriz em Comédia). Ela imprime à personagem todas as nuances de fortaleza, independência, mas ao mesmo tempo de fragilidade, fazendo um papel inesquecível em sua carreira. Graças a ela e a alguns pontos do roteiro que fogem do trivial (e procuram olhar para temas importantes com neutralidade e até leveza), temos aqui uma simples e boa diversão e que ainda pode gerar algumas reflexões. O título em português nem vale a pena comentar… 7,7

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A WAR

MV5BMjA1ODY3NjQzNV5BMl5BanBnXkFtZTgwNjEzNTUxNzE@._V1_UX182_CR00182268_AL_1O filme – que concorre ao Oscar 2016 de Melhor filme estrangeiro – se passa no Afeganistão, onde a missão de uma companhia do exército dinamarquês é fazer patrulhas a partir da base, para garantir a integridade dos civis da região contra os ataques talibãs – havendo minas espalhadas por toda parte, inclusive. Nesse cenário, alguns fatos importantes acontecem, porém o mais relevante é o que acaba desencadeando um consistente conflito de ordem moral e ética envolvendo o comandante da tropa, que de repente passa a enfrentar delicada acusação de crime de guerra, o que poderá gerar sérias consequências não apenas em nível pessoal, mas também sobre a família que dele depende (esposa e filhos). A parte final é bastante tensa e foca com intensidade o referido conflito, o qual podemos perceber de uma perspectiva bastante clara, pela maneira verdadeira como o filme conta a história: o realismo das interpretações, do próprio tribunal (o rito, o respeito, a ordem…), tudo é natural, autêntico, aumentando nossa percepção para os gestos, atos e reações dos vários personagens (promotora, juíza, advogado de defesa, esposa…)…e também para o terrível conflito íntimo do acusado, que vez ou outra se mostra quase à flor da pele. E que persiste até a última cena, quando, junto com ele, terminamos o filme com um forte aperto no peito.  8,5

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SOLIDÕES

21054098_20131030160016207Este é um filme escrito, dirigido, musicado e em parte estrelado por Oswaldo Montenegro. E é um filme tão surpreendente e original quanto seu criador, que sempre foi um artista independente, vibrante e inquieto, com sede de aprender, criar, brincar… perfeccionista, ótimo instrumentista, cantor e compositor e que também aprendeu que a tendência das várias formas da arte é a sua miscigenação. E mais uma vez derivando para o cinema (o seu primeiro filme foi “Léo e Bia”), Oswaldo apresenta sua poção mágica: cinema, teatro, música, circo…preto e branco, colorido, efeitos psicodélicos, diversos tipos de câmera e de películas, histórias episódicas que se misturam…mas tudo dentro de um contexto muito bem coordenado. E que sensibiliza e faz pensar. Com destino certo, portanto, o pungente texto se aprofunda, inteligentemente, e aborda, sob diversos ângulos, a matéria difícil da solidão. E o faz com muita felicidade e maestria. Vemos depoimentos, entre sérios e engraçados, um Oswaldo que claramente se diverte fazendo o papel de diabo, atores e atrizes totalmente compenetrados em seus papéis (fruto dos ensaios e do método…), relatos dolorosos e abordagens que mostram a matéria humana dissecada, muito embora fique claro que o objetivo é também tentar não perder de vista a leveza. Tudo isso embalado por lindas e pungentes músicas. No elenco, não dá para deixar de citar uma das maiores promessas entre as atrizes da nova geração: Vanessa Giácomo. Como, da mesma forma, não dá para não reconhecer, por fim, o enorme e multifacetado talento do “Menestrel”! E após “viajarmos” por diversos caminhos, “bebermos” das mais variadas experiências humanas – algumas das quais absolutamente tocantes e emocionantes (as imagens de “A lógica da criação” são simplesmente espetaculares, em comunhão com letra e melodia)-, e termos talvez no afeto a única e derradeira resposta para tudo, vemos no encerramento do filme cenas com uma das mais belas músicas do repertório de Oswaldo e que aqui soa como uma verdadeira bordoada dentro do contexto: “A lista”. E então não se precisa dizer mais nada. 8,5

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A CLOSED BOOK (INTENÇÕES OCULTAS)

74b4fcc71e8dbec40dfbbfef4415f54c_jpg_210x312_crop_upscale_q90O filme – britânico, produzido em 2010 e com lamentável título em português – tem basicamente dois personagens, interpretados por Tom Conti (Shirley Valentine…) e Daryl Hannah (Splash, Blade Runner, Kill Bill…). E se passa em apenas um local: uma mansão, onde um escritor cego deseja escrever sua autobiografia. A partir daí, o roteiro vai nos amarrando e nos deixando curiosos, com sutilezas, estranhezas que fazem surgir diversos pontos de interrogação. Quem são realmente os personagens? Que ligação possuem, afinal? Está acontecendo algo estranho realmente? O quê? Por quê? O roteiro, escrito pelo próprio autor do livro, Gilbert Adair, demonstra que uma boa história não depende de diversas locações, elenco numeroso, efeitos especiais…embora nada especialmente marcante, aqui temos uma boa diversão, com instigante enredo e que consegue nos prender até o apagar das luzes… 7,7

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EU, VOCÊ E A GAROTA QUE VAI MORRER

eu-voce-e-a-garota-que-vai-morrer_t72187_Z3kCkhP_jpg_210x312_crop_upscale_q90Um daqueles filmes sobre adolescentes americanos que escapa dos padrões de mesmice. Uma comédia dramática (mais drama) inteligente, com ótimos diálogos, mensagens interessantes e que, de fato, envolve aquela fase clichê na qual os americanos estão no último ano antes de tentarem as vagas nas faculdades – mostrando aquelas escolas com os tradicionais armários, a diversidade, as “tribos”etc.-, mas o diretor Alfonso Gomez-Rejon consegue dar um tom leve e imprimir um ritmo, que fazem com que o filme seja gostoso de se assistir, contornando os momentos tristes e deixando uma mensagem otimista. Com ótima trilha sonora e elenco, o fato que faz com o filme seja diferente na verdade começa no personagem masculino, interpretado por Thomas Mann, que é inclusive o narrador em alguns momentos. E um toque muito especial e bastante interessante são os vídeos caseiros, que na verdade acabam homenageando os cinéfilos e a própria sétima arte.  7,7

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SUBURRA

23066967Uma recente produção ítalo-francesa, forte, realista na medida do possível e na maior parte mantendo o perigo no ar, porque enfoca a máfia italiana, as famílias e diversos fatos criminosos e conflitos, inclusive envolvendo políticos e até o Alto Clero. Um thriller baseado em livro, no qual o tempo todo não se sabe quem será a próxima vítima, tal o nível de frieza, surgindo em cada esquina a violência de uma maneira feroz e implacável. O poder criminoso e suas facetas cruéis residem na capital italiana e são até paradoxais à vida familiar dos personagens: “…enquanto o cão devora o homem, as crianças brincam na sala e o crucifixo brilha na parede…” O elenco é perfeito – bem como a direção de Stefano Solimma -, com destaque para Pierfrancesco Savino e Greta Scarano, mas a interpretação do “samurai”, pelo ator Claudio Amendola, é impressionante: ele não pisca e não mexe sequer um músculo, nos “delicados” e tensos diálogos que trava, enquanto, impassível, antecipa mentalmente a próxima ação necessária para manter o equilíbrio e realizar os propósitos das “famílias” que tenta proteger. 7,8