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UNA

O filme mergulha fundo em um tabu. Mas de forma crua e fria, como é característica do cinema nórdico. Aqui, porém, se trata de produção americana e a abordagem é diferente da trivial. Polêmico, vai despertar os mais variados sentimentos e gerar diferentes críticas, dependendo de quem o vê e da forma como será interpretado. Alterna-se força e fragilidade, é constante a perplexidade e a dúvida no julgamento dos fatos…Um drama que acaba sendo um filme de suspense. Rooney Mara faz esplendidamente a personagem adulta e Ben Mendelsohn também está ótimo. Parece em certas horas não haver vítima ou bandido, em outras sente-se o peso da civilização. O filme é frio nas cenas (note-se os espaços da fábrica…), como se estivesse tentando ocupar uma posição neutra – que a fotografia e os movimentos de câmera valorizam -, de todo modo poupando o espectador de violência ou de nudez e fazendo apenas sugestões e marcações sutis…Mas sempre com densidade. Difícil de digerir, incômodo, talvez desumanize demais a personagem…talvez faça referência proposital a Lolita. Talvez romantize o que não deveria…Mas merece ser visto por quem aprecia filmes desse estilo (pode-se dizer “filme de arte”). 8,5

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THE CHILD IN TIME

Este é um drama denso e sentimental, feito pela BBC de Londres para a televisão e baseado na obra de Ian Mc Ewan. Mas não tem nada de piegas. Ao contrário, é uma obra madura, extremamente bem realizada e com ótimo elenco, conduzido por Benedict Cumberbatch, famoso pela série Sherlock Holmes. É uma pequena joia na verdade, porque realizado com maestria e abordando vários temas a partir de um tema importante e real: o casamento e sua sobrevida após fato avassalador. Muitas reticências, sutilezas, em um filme extremamente bem interpretado e dirigido (Julian Farino) e que também conta com uma trilha sonora bastante apropriada e que acentua tanto a melancolia, quanto o suspense, que permeia a história toda. Um filme singelo, com pitadas de mistérios da vida (fantasia?), mas que atinge a sensibilidade – inclusive no paralelo que faz, na parte final, e que necessita de reflexão, entre o amigo e a filha – e  traz um fecho pungente e até inesperado, que legitimamente emociona. Em tempo: tenho até “medo” de aguardar pelo título brasileiro.  9,0

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GIRLS LOST

Este é um filme sueco de inegável qualidade, em termos de forma e conteúdo, mas deve agradar a um público específico. Porque não é cinema para divertir e sim algo denso, para sentir e refletir, apresentando dramas profundos e fragilidades em questões diversas (de gênero, buylling, falta de autoridade etc.). A fantasia/ficção/mágica criada pelo roteiro não atenua nem um pouco a realidade escancarada que nos é apresentada, servindo apenas de moldura e instrumento a ela. O filme tem cenas chocantes e discute a fundo inclusive a sexualidade, apresentando de forma original e talvez como em nenhum outro o universo de meninos e meninas, inclusive com todos os seus conflitos. O filme é tão bem e sensivelmente roteirizado e dirigido por Alexandra-Therese Keining, que sentimos em muitas cenas um grande impacto, como testemunhas de algo que se assemelha muito à realidade, sendo esse também mérito do excelente elenco. O final coroa o filme com o mesmo cuidado de todo o seu desenrolar, deixando um ponto de interrogação na derradeira cena, mas não só sobre o destino da personagem: o que significará o afastamento lento da câmera da cena e sua elevação sobre a paisagem? Simplesmente que a vida segue? Ou é um voto de esperança?  8,8

 

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VERSÕES DE UM CRIME

Geralmente os chamados “filmes de tribunal” são interessantes e este não foge à regra. É interessante, apesar de alguns problemas que pelo menos para mim apareceram. A história é boa e a razão do interesse aqui é que, além do suspense típico desses filmes, permanecem alguns fatos misteriosos e que despertam o espectador para tentar decifrá-los, sempre tentando adivinhar as surpresas que poderiam estar preparadas. Entretanto, há um problema grave: em várias partes do filme a gente se pergunta “Mesmo tendo uma história simples, sem maiores complexidades, como seria esse filme nas mãos de um ótimo diretor/montador? Como seria com um elenco melhor?” Porque em muitas cenas se sente a ausência de qualidade, de uma montagem e direção mais caprichadas, de uma dinâmica mais bem estruturada. Sobretudo a falta de um elenco mais competente. Não gostei da quase irreconhecível Renée Zellweger, mas o fraco e inexpressivo Keanu Reeves não serve para esse tipo de papel, embora tenha se dado muito bem com outros personagens. De todo modo, entre mortos e feridos, salva-se um razoável interesse que justifica a visão do filme. Porém cabe fazer a ressalva: como gosto não se discute, poderá haver quem adore o filme, como também os que o acharão uma total perda de tempo.   7,6

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BABY DRIVER (EM RITMO DE FUGA)

O título em português se justifica porque o jovem protagonista é um exímio motorista para fugas de assaltos. Com um problema peculiar no ouvido, que faz com que tenha que permanentemente ouvir som alto para afastar o zumbido. Mas embora essa modesta sinopse pareça descrever algo trivial, o que vemos na tela está longe disso. O filme é adrenalina pura. O começo já é arrebatador e vamos viajando de uma cena a outra, com a música e com a câmera alucinando. E o mais extraordinário: o ritmo e o interesse se mantêm do começo ao fim. Sem perder o charme e o espaço de cada personagem, há cenas de tirar o fôlego, outras inesperadas, outras até emocionantes. E a ação não para. O espectador não tem tempo para tirar os olhos da tela. E não quer. Porque vai perder a diversão. O diretor, Oscar Wright (Homem formiga, Scott Pilgrim, Chumbo grosso) assim define sua obra: “é um filme de perseguição de carros guiado pela música”. Mas não é só isso: tem ótimo e imprevisível roteiro, com senso de humor fino e inteligente e as peças todas muito bem encaixadas. E um grande elenco está afinado com a direção e a edição: Kevin Spacey, Jon Hamm, Jamie Foxx e o casal jovem formado por Ansel Ergort (A culpa é das estrelas, Divergente) e Lily James (Cinderela). Uma surpresa agradável, realmente uma delícia de filme. Imperdível.  9,0

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2:22 – ENCONTRO MARCADO

O protagonista é controlador de tráfego aéreo e coisas estranhas parecem acontecer de repente em sua vida. O ator que o interpreta é  Michiel Huisman (A estranha história de Adaline e Game of Thrones – no papel do segundo Daario Naharis) e o filme adota uma temática misteriosa, meio sobrenatural, com momentos de tensão e muito mistério permeando cada cena, valorizado pela trilha sonora. O filme não segue o padrão que se imagina pelo nome, de algo que se repete todos os dias no mesmo horário. Não é nada disso. Mas também não chega a criar algo inédito, embora alguns fatos sejam interessantes e criativos. Claro que há os clichês,  do moço bonito encontra moça bonita, a magia do encontro, câmera lenta com música romântica de fundo, entre outros. E que as interpretações podem perfeitamente ser questionadas, assim como a figura do “vilão”, a falta de química do casal etc. Mas há também qualidades no roteiro que escapam da rotina e criam momentos de ótimo entretenimento, com temas como o da influência dos astros sobre o destino, os fatos e as conexões envolvendo tempo e espaço, enfim, assuntos meio metafísicos, que se misturam com os terrenos e que criam alguma empatia e tensão. A proposta na parte final do filme é fantasiosa demais, mas se aceita pelo conjunto da obra e pelo fato de que no drama e no romance se encontra naturalmente inserida a ficção. Como virtudes, há um momento  de grande efeito holográfico no meio do filme e a construção cênica/de efeitos na principal cena final é bela e emocionante. Em suma, no geral, nada indispensável, mas uma boa diversão.  7,8

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OS QUE CHEGAM COM A NOITE (THE NIGHTCOMERS)

Este é um filme de 1971, baseado na obra de Henry James, e que pelo estilo de filmagem denuncia que efetivamente é antigo: por exemplo, a câmera contempla os personagens ao longe e depois faz zoom…Além disso é inglês, o que revela aquele ambiente circunspecto e formal das casas de campo suntuosas com jardins, governanta, um administrador da herança etc. Mas as atrações aqui são três: primeira, o roteiro, que mostra ou questiona os efeitos do meio sobre a educação. Existirá uma pré-disposição para a bondade ou para a maldade, ou as ações serão definidas pelos exemplos, pela educação recebida? A segunda atração são as  crianças, em notável atuação. E a terceira atração é sem dúvidas Marlon Brando, fazendo um filme britânico e mais uma vez brilhante na composição de um personagem, no caso antissocial, totalmente irresponsável e sem amarras, justamente aquele exemplo em que se espelham os que ainda se mostram carentes de substância na formação de suas personalidades. Dirigido por Michael Winner (que dirigiu os filmes de Charles Bronson da saga “Duro de matar”), algo meio ultrapassado quanto à forma, mas quanto ao conteúdo ainda guardando bastante interesse. 8,5

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VANISHING TIME: A BOY WHO RETURNED

Esta é uma surpreendente produção coreana. Mas não apenas pela sua qualidade técnica, que envolve interessantes  efeitos especiais, a bela fotografia, a trilha sonora totalmente adequada e uma competente direção e edição – o que o cinema coreano já vem apresentando há tempos. E sim porque uma história a princípio juvenil, do gênero “fantasia” – embora com suspense, mistério, drama – mostra-se dotada de ingredientes tão bem dosados, de realismo e poesia, que acaba nos encantando, nos arrebatando e nos fazendo mergulhar de cabeça nessa viagem mágica e de final que provoca muita tensão e angústia. A preocupação com detalhes, a autenticidade das emoções, a qualidade do elenco, são elementos também de notável destaque. Um filme que desperta variados sentimentos, enternece, emociona, evoca referências cinematográficas importantes…Só não gostei da interpretação do padrasto. Os demais estão todos muito bem. E a menina é simplesmente maravilhosa e um dos trunfos do filme é sua fotogenia, além da belíssima interpretação que apresenta, com apenas 14 anos de idade!  9,0

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BLOOD ROAD

Baseado em fatos reais, um road movie, mas diferente. Primeiro, porque a jornada envolve Rebecca Rusch campeã de resistência em ciclismo, em terras difíceis, selvagens, matas, rios, cavernas…Segundo, porque o objetivo é seguir pela trilha Ho Chi Minh (conhecida como trilha de sangue, que dá título ao filme) e encontrar o local onde um avião americano foi abatido em 1972, durante a Guerra do Vietnã. O piloto era o pai da atleta, que tinha 3 anos quando da morte e não o conheceu, a não ser por relatos, pela música e pelas cartas, que inclusive valorizam várias cenas do filme (narradas e reproduzidas na escrita). Ela tem como objetivo encontrar o local exato do acidente, para prestar uma homenagem ao pai, na data precisa do falecimento. Por muitos anos o piloto foi dado como desaparecido e as duas irmãs criadas pela mãe e na angústia das respostas. Até que um dia os destroços do avião foram encontrados e com eles os restos mortais dentários que identificaram o heroico americano. Agora, a filha atleta, de 46 anos, e mais uma parceira vietnamita, com algum apoio logístico, embarcam nessa aventura, pedalando quase 2000 quilômetros e com muitos desafios pela frente. A frase, em meio à rota, diz tudo: ”talvez a parte de mim que perdi, eu encontre aqui”. É uma viagem física pelas terras do Vietnã, Camboja e Laos, mas também espiritual. E é um filme também histórico, relatando muitos fatos sobre a guerra do Vietnã, inclusive sobre as bombas que, por não terem explodido, ainda ameaçam as aldeias (MNDs), sobre as décadas que virão antes que todas elas sejam desarmadas (os EUA investem milhões de dólares nesse projeto), a respeito dos corpos que ainda não foram localizados dos militares que morreram em combate e sobre as razões das batalhas que houve, sabendo-se que o Laos foi a terra mais bombardeada da história do mundo. O filme é na verdade um documentário, mas também tem diálogos e as filmagens são muito realistas, com ótimo ritmo e sem nenhuma máscara ou disfarce. Inclusive quanto às crenças e costumes locais. Não é um filme visceral nas cenas do trajeto, mas tem conteúdo inclusive cultural e grande significado emocional.  8,5

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DEATH NOTE

Produção americana da Netflix, baseada nas histórias de quadrinhos japonesas (série em mangá de 2003), no anime (desenho em vídeo) e no filme afinal produzido no Japão, todos de grande sucesso: venderam mais de 30 milhões de cópias no mundo todo e o anime serviu de base para games, novelas etc., sendo transmitido para o mundo todo. Totalmente adaptada para o cinema dos EUA a história envolve o mundo teen em primeiro plano, mas também o adulto e é permeada pelo fantástico, bem ao estilo Além da Imaginação. Um thriller bem produzido e bem mais elaborado do que os filmes do gênero envolvendo adolescentes, inclusive com a trilha sonora recheada de qualidade (Chicago etc). A crítica que o filme tem recebido diz respeito aos problemas de adaptação das histórias e da cultura oriental, ainda mais com o elenco integrado exclusivamente por atores do ocidente. Muitos dos que viram o anime e boa parte dos fãs, inclusive, acharam o filme medíocre. Sim, porque a obra original é poderosa na discussão de temas altamente filosóficos e relevantes. Entretanto, dentro do pensamento da livre criação e adaptação cinematográfica – ou seja, a obra deve ser analisada por ela mesma -, o filme tem várias surpresas e em seu conjunto se revela um ótimo entretenimento.  7,8

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NA MIRA DO ATIRADOR (THE WALL)

Embora o título ridículo em português, trata-se de um filme interessante, porque praticamente envolve um personagem apenas (interpretado por Aaron Taylor-Johnson) e uma situação específica de alto risco, mas com ações comedidas. Final da guerra no Iraque, quase todas as tropas sendo retiradas mas há um foco de ataque e um inesperado acontecimento que vai testar todos os limites de um soldado: físicos, diante do castigo da guerra e do deserto e psicológicos, frente ao inimigo à espreita. Embora o filme acabe ficando até meio monótono em alguns momentos (apesar da tensão constante), o final principalmente vai fazer tudo valer a pena porque se ainda há espaço para heroísmos, também há para surpreendentes estratégias.   7,8

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EL BAR

Uma co-produção Espanha-Argentina, aliás como muitas que têm chegado aos cinemas, embora não propriamente ao cinema comercial. É mais algo para apreciadores de filmes diferentes do trivial. Neste caso, um filme com fatos e cenas bizarras, de suspense e terror, mas que ao mesmo tempo apresenta algumas abordagens surpreendentes, assim como ótimas interpretações. A primeira metade do filme, apesar do início promissor, acaba ficando difícil de digerir e em alguns momentos hesita entre o drama e o pastelão. Entretanto, a trama não desvia de seu fio condutor e se firma, apresentando na parte final aspectos muito interessantes, envolvendo o lado psicológico dos personagens e a reação humana frente a situações inusitadas, de medo ou perigo. Como reagem as pessoas diante de situações-limite? No conjunto, uma obra diferente, com toques de humor negro e bastante tensão, o que se neste caso não a destaca para a história do cinema, de outro confirma a criatividade e a qualidade técnica do moderno cinema espanhol e argentino, obviamente tendo como artífices seus roteiristas, diretores e atores/atrizes. Direção de Álex de la Iglesia (Enigmas de um crime…), com Mario Casas e Blanca Suárez.  7,7

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Z – A CIDADE PERDIDA

Competentemente dirigido por James Gray (Hitchcock-Truffaut) e muito bem interpretado por Siena Miller e Charlie Hunnam, entre outros, um fascinante drama de aventuras, que nos mostra a coragem e a perseverança dos exploradores ingleses no final do século 19/início do século 20. Alguns aventureiros buscavam novos mundos em nome do império, mas havia também os outros, os sonhadores…O filme é baseado em obra literária e com um roteiro conciso nos faz acompanhar o personagem em suas buscas, tornando atraente e misterioso cada passo do percurso, sem deixar que saibamos se tudo aquilo vai levar ao sucesso ou o fracasso…O mais importante parece ser realmente a viagem. É um filme de aventuras qualificado, inclusive pelo aprofundamento em diversas questões políticas e ideológicas da época, abordando também o conservadorismo acadêmico britânico e o preço a pagar no âmbito pessoal do protagonista. Vemos também o habitat de culturas primitivas sendo desbravadas e as amplas possibilidades que se descortinam para novas descobertas….enfim, um universo bastante amplo, mostrando a vanguarda britânica nas explorações geográficas. Como bem observa Marcelo Gleiser (professor titular de física, astronomia e filosofia natural no Dartmouth College), em seu excelente texto traduzido para a Folha de São Paulo, “Com fotografia grandiosa, o filme levanta temas que dominavam o mundo antes e durante a Primeira Guerra Mundial, quando os grandes impérios europeus e suas colônias na África, Ásia e na América entravam em colapso…o filme é um tributo ao espírito desbravador”.  8,8

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VALERIE

Este é um faroeste de 1957. E consta na internet como um “Clássico esquecido”. Tanto, que assisti ao filme no youtube (legendado, apesar de dizer que era dublado). Nunca havia ouvido falar nele e me surpreendi favoravelmente. Embora talvez não tenha os elementos para ser um clássico, é de fato um filme muito interessante, até porque um faroeste diferente do trivial. Ainda mais dos que eram feitos naquela época, de grandes westerns. Talvez por isso tenha passado despercebido. Mas é um filme que vale a pena, tem uma história muito interessante, que desvenda a verdadeira face das pessoas e aborda questões mais psicológicas do que ações propriamente (bang-bang). Mesmo assim tem todos os elementos do velho Oeste, inclusive um julgamento de crime. O ator principal, Sterling Hayden, é conhecido em diversos filmes, (O segredo das joias, Johnny Guitar, O grande golpe…) e a atriz, a bela Anita Ekberg, acabou virando sex symbol anos mais tarde, por sua aparição em La dolce vita, de Fellini8,2

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O CIDADÃO ILUSTRE (THE DISTINGUISHED CITIZEN)

Premiado filme argentino, co-produção espanhola, que trata de um tema já abordado em outras produções, mas aqui apresentado com muito realismo, impregnado de inteligência, humor e ironia e rico inclusive em referências literárias. Oscar Martínez é o excelente ator que interpreta o personagem que volta para a sua fictícia terra natal, Salas, após receber o prêmio Nobel de literatura. A partir daí, somos brindados com um saboroso retrato do reencontro com o passado – o qual só faz sentido agora como bagagem de vida – e que traz naturalmente lembranças, mas também expectativas de parte dos que ficaram, diante do retorno de um “filho” que ganhou fama e dinheiro. E desfila junto com os personagens, também a vida simples do interior, muitíssimo bem retratada e que pode evocar lembranças também nos espectadores. O filme ganhou muitos prêmios, entre os quais o de Roteiro Original (Andrés Duprat) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina, o de Melhor Filme Iberoamericano (Prêmio Goya), o de Melhor Filme Estrangeiro no Festival Internacional de Cinema de Haifa e o de Melhor Ator para Oscar Martínez no Festival de Cinema de Veneza. E concorreu pela Argentina ao Oscar 2017. Um belo filme, com um final muito interessante também. 8,8

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O DIA DO ATENTADO

Em abril de 2013 houve um atentado a bombas durante a maratona mais antiga dos Estados Unidos, a Maratona de Boston. Este filme reconstitui os fatos, incluindo as investigações imediatas e a perseguição aos suspeitos. É aquele estilo de filme que parece na verdade uma bela reportagem, por se tratar de uma história baseada em fatos reais. Cenas rápidas, bem editadas, para dar um ritmo de thriller, o que se conseguiu com eficiência. No final, o depoimento dos personagens reais envolvidos nos fatos. O filme não tem novidades, são aquelas abordagens bem típicas “americanas”, com muitos clichês, mas na conclusão dos acontecimentos não há como negar que as soluções apontadas contra o terrorismo, embora frágeis sob certo ponto de vista (preventivo), são as únicas que a população tem como recurso. Com grande elenco: Mark Wahlberg, Kevin Bacon, John Goodman, J.K. Simmons, Michele Monaghan etc.  7,7

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DUNKIRK (DUNQUERQUE)

Cinema de primeira, um épico de guerra poderoso, principalmente pela qualidade da reconstituição histórica, fotografia, direção, montagem, trilha sonora (tensão do início ao fim do filme) e som magnífico – e que por isso tudo reclama a telona. E tem como uma de suas virtudes, também, a de mostrar, em cenas sequenciais e muito bem editadas, três frentes diferentes de ação, dentro de um mesmo contexto. Dunquerque é uma região da costa norte da França – a poucos quilômetros da Bélgica -,  onde em 1940 ocorreu um episódio muito importante da Segunda Guerra Mundial, quando franceses e britânicos ficaram acuados/cercados pelas tropas alemãs e tinham como única salvação contra um inevitável massacre a saída pelo mar, no caso o Canal da Mancha – mediante a evacuação de mais de 300.000 soldados. Apesar de o filme retratar apenas uma parte do que foi a realidade (principalmente as batalhas aéreas, nas quais houve dezenas e dezenas de baixas), a história é levada a sério e procura mostrar em cenas cruas (algumas de um realismo perturbador) toda a situação desesperadora que envolveu o isolamento, a necessidade de fuga e a espera pelo socorro, por milhares e milhares de aliados, com frio, medo e fome. O “Milagre de Dunkirk” (termo de Winston Churchill) somente ocorreu porque surpreendentemente Hitler (ou à sua ordem) resolveu diminuir os avanços das divisões panzer (blindados), que já vinham em várias frentes de ataque, fato que ainda hoje é discutido e tido como um grande erro histórico, pois – defendem os historiadores – se tivesse sido sanguinário como deveria (e como sempre), o Kaiser teria conseguido com o avanço impiedoso  uma vitória de efeitos avassaladores. A conclusão é de que muitos dos soldados que poderiam ter sido mortos acabaram ajudando a invasão aliada da Normandia, quatro anos mais tarde (Dia D). Direção de Christopher Nolan (Amnésia, Insônia, A origem, Batman, Interestelar…), uma co-produção, americana, francesa, germânica e holandesa e que tem pedigree para Oscars.  9,0

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TO THE BONE (O MÍNIMO PARA VIVER)

Claro que com alguma “maquiagem”, o filme trata com delicadeza e qualidade sobre o difícil problema da anorexia. A ótima atuação de Lily Collins é um dos fatores que valorizam a produção, que apresenta também Keanu Reeves (ator que a partir de certa época me parece ser apenas razoável – eu o vejo como pouco à vontade em cena). Ótima direção e elenco, trilha e fotografias adequadas, bate de frente na temática incômoda e nas possibilidades discutíveis de tratamento. Mas a certo momento, apresenta uma cena de grande poder dramático e emocional, que talvez, afinal, sintetize tudo…Em alguns instantes do filme ficamos chocados pelos tênues limites entre a normalidade e a doença, da qual se tem consciência mas não se consegue superar…Parece que um detalhe genético acaba sendo responsável por uma consequência de tamanha gravidade para o ser humano. Um doença que talvez ainda não tenha sido explorada com a profundidade merecida. Mérito do filme, então. E muito para se discutir na área médica…Tem na Netflix.  8,2

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WAKEFIELD

Wakefield é o sobrenome do personagem principal, interpretado pelo excelente Bryan Cranston. A esposa dele também é ótima atriz, Jennifer Garner (Alias). O filme é bem feito, tem algumas “passagens” extremamente interessantes e por isso está aqui no blog. Porque na minha visão há dois fatores que contribuem bastante para diminuir sua qualidade: a primeira é o fato de termos de abstrair a realidade, em nome de uma situação fictícia difícil de acreditar/sustentar, mas imprescindível para que a história aconteça. Um total isolamento dentro do contexto mostrado, é inverossímil realmente. A segunda, é o desfecho do filme. Achei péssimo. Mas talvez para alguns seja algo que produza justamente o efeito contrário e o final seja apreciado. Mas isso, juntamente com aquele primeiro fator, tirou muito do sabor do filme para mim. De todo modo, como disse antes, é um trabalho bem feito, com elenco especial e que apresenta algumas questões muito interessantes para serem objeto de reflexão. Acho que vale por esses pontos.  7,7

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O PEQUENO GRANDE HOMEM

Este filme americano de 1970, com Faye Dunaway, Dan George e Martin Balsam, ficou muito famoso na época e tornou mais conhecido ainda o grande Dustin Hoffman, que estava no começo da carreira (havia feito A primeira noite de um homem e Midnight Cowboy). Por isso quem viu o filme naquela época tem um grande carinho por ele. Um drama, misturado com comédia e até umas cenas de pastelão. O roteiro tem várias falhas, algumas cenas são ruins (o sangue é ridículo), alguns personagens muito caricatos, mas no todo é um filme de protesto contra as atrocidades praticadas contra índios, incluindo mulheres, crianças e até os cavalos. E esse é um dos seus valores. Talvez essa forma menos séria venha realmente a calhar, uma vez que um filme mais profundo sobre o tema seria de muito difícil digestão. Porque mesmo com esse tom menos pesado sentimos bastante revolta pelas bárbaras covardias que são mostradas, chegando a dar asco presenciar o “heroísmo” de Custer, ao som daquela musiquinha clássica do exército americano. E o filme vai num crescendo, tornando-se mais sério e crítico à medida em que avança. Claro que há uma boa dose de maniqueísmo aqui, mas certamente não se pode contar a história do lado mais fraco de forma muito diferente. O filme é interessante ao mostrar o mundo do branco e do índio, sob a ótica do personagem, que participa tanto de um, quanto de outro mundo. E é grande o mérito do roteiro em aproveitar a longevidade do personagem principal (centenário) para retratar a história do Velho Oeste mostrando diversos fatos, enfoques e personagens ao longo dos anos, como os mitos do western White Bill Hicock, Buffalo Bill (que acabou se tornando o Beto Carreiro da época!…) e o próprio General Custer (mostrado no filme como um poço de ego). E sua parte final é dedicada à derrota do vaidoso Custer na famosa batalha próxima do rio Litle Bighorn (em Montana, em junho de 1876) e que acabou conhecida por esse nome, na qual o sétimo regimento da cavalaria do exército dos EUA foi massacrado pelos Cheyennes e Sioux unidos. Ótima direção de Arthur Penn e o filme concorreu ao Oscar de Ator Coadjuvante (Dan George, como o chefe indígena). Na época não havia ainda a categoria de Maquiagem, senão a que deixou Dustin Hoffman idoso seria uma forte concorrente.   8,5