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SWEET VIRGINIA

Uma grata surpresa este thriller policial americano-canadense, rodado no Alaska. É daqueles casos em que a história, se analisada apenas no papel, não parece nada fora do comum e do já visto algumas vezes, mas a “forma” escolhida supera as expectativas e se revela como um grande achado. E com isso algumas variantes aparecem, imprimindo qualidade ao filme. Grande mérito do diretor (e roteirista) Jamie M. Dagg (River), que com o auxílio da fotografia e da maravilhosa trilha sonora (com destaque para as cordas)  faz do filme algo singularmente claustrofóbico, tenso, angustiante e com um potencial de violência em cada cena, deixando o espectador fascinado e refém, com o desenrolar imprevisível e inteligente da história. Christopher Abbot está realmente brilhante como o assassino sociopata, sendo o grande destaque do filme, que tem também ótimas atuações de Rosemarie DeWitt e Jon Bernthal.  8,8

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ON BODY AND SOUL (CORPO E ALMA)

Este filme pode ser enquadrado como “filme de arte”, ou seja, é mais adequado para gostos especiais, embora não fique distante da sensibilidade popular. Para começar é um filme húngaro, o que já significa língua diferente, costumes diferentes, enfoque fora da rotina. Mas não há dúvidas quanto à sua qualidade, pois ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano (2017) e vai representar a Hungria na concorrência do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para o ano que vem. E é realmente uma história original e bastante interessante, muito bem conduzida e protagonizada. Lentamente vemos os personagens a que somos apresentados interagirem em um ambiente de trabalho, convivemos com a rotina absolutamente normal de todos, só que a partir de certo momento um fato insólito romperá de certo modo o equilíbrio, pelo menos para dois deles. Algo especial e extremamente poético. E aí serão inclusive compreendidas as imagens que aparecem no início do filme e que irão se repetir até o final, com algumas diferenças de enfoque, embora no mesmo ambiente selvagem. Existe muita riqueza nos detalhes, nos silêncios, na delicadeza da história, que vai possibilitar o (re-) nascimento de dois personagens aparentemente dessensibilizados para a vida, cada qual com suas marcas e suas motivações, em um encontro absolutamente surpreendente. Um filme para ser degustado aos poucos, revelando ótimas interpretações e uma excelente direção. 8,8

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ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE (2017)

Na minha opinião, este é um dos melhores filmes baseados em livros de Agatha Christie (1890-1976), a escritora de romances policiais mais famosa do mundo, traduzida para mais de 100 países e que vendeu mais de 2 bilhões de livros. Já houve versões anteriores do “Murder in Orient Express”, mas esta é a melhor de todas. A grande dificuldade para os fãs é de adaptação à nova figura do detetive Hercule Poirot, aqui interpretado pelo próprio diretor do filme, o irlandês Kenneth Branagh. Principalmente depois da série da TV britânica e da maestria da interpretação de David Suchet. Contudo, há lugar para mais um e à medida em que o filme vai passando, as virtudes do ator-diretor aparecem claramente e o detetive belga das famosas “pequenas células cinzentas” acaba ganhando simpatia e total credibilidade, compondo um personagem ao mesmo tempo carismático e diabólico. Cabe dizer, ainda, que Agatha Christie descrevia o seu Poirot como tendo vastos bigodes, o que agora parece ter sido satisfeito! A trilha sonora ajuda a enfatizar esses aspectos de Poirot, assim como valoriza todas as cenas do filme (provocando grandes emoções). De “quebra”, durante a exibição dos créditos finais, somos brindados pela belíssima canção romântica “Never Forget”, cantada por Michelle Pffeiffer, que também atua no filme. Além de ter aceitado o desafio de interpretar o famoso detetive, o diretor mostra claramente sua familiaridade com a obra, ao apresentar ao espectador, de modo competente e com a profundidade necessária, todos os personagens: o rol dos suspeitos! Conta a história, que Agatha Christie viajou pelo famoso trem de passageiros (Paris-Istambul) em 1928 e se inspirou para escrever o livro durante os seis dias em que o comboio ficou parado em razão de tempestades de neve; e que usou posteriormente, para dar o acabamento final à obra de 1934, o episódio real envolvendo o herói e piloto norte-americano Charles Lindbergh. De todo modo, o filme é uma adaptação livre e ousada do livro, com inovações, surpresas, muitos efeitos especiais, mas tudo realizado de uma forma extremamente competente, formando uma obra absolutamente “redonda”, sem excessos ou exageros. Tudo a serviço do filme e sem descaracterizar o texto precioso! Só os fãs excessivamente exigentes talvez possam se decepcionar, já que a trama é bastante fiel ao livro e o diretor consegue contar a história de uma forma coerente – até deslumbrante -, mantendo o mistério e o suspense e acrescentando algumas doses de ação, além de contar com um excelente elenco: Michelle Pffeiffer, Johnny Depp, Judi Dench, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Derek Jacobi, Daisy Ridley (heroína da nova trilogia Star Wars), entre outros e, claro, Kenneth Branagh no papel do Poirot. O dilema ético de Poirot no final do filme é também fato extraordinário, além da ousada imagem dos personagens à mesa, ao ar livre e antes da “revelação do assassino”: a pose sugere uma ironia e ao mesmo tempo uma provocação do diretor ao espectador atento e que gosta de juntar as pistas e tentar desvendar o crime (no que os livros de Agatha frustraram tantos leitores!…). O filme é tão bom, que mesmo quem já conhece o final (como foi o meu caso), ainda assim “viaja junto com o Expresso” e se sente totalmente recompensado, em razão da qualidade do filme, de todos os detalhes e sutilezas da produção e do deslumbramento visual e intelectual da obra.  9,5

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UNSPEAKABLE

Um filme, feito para a TV, sobre a realidade atual, em tons bastante fortes. Drama pesado sobre família, casais e sobretudo a respeito dos efeitos do anonimato das redes sociais. Como se saber quando uma acusação é verdadeira ou falsa? Que efeitos isso traz para as pessoas até que a resposta apareça? Podem ser sérios e irreversíveis? Indira Varma (Ellaria Sand de Game of Thrones) dá um show de interpretação em um papel bastante difícil. Esse fato aliado ao tema, à trilha sonora e à excelente direção do britânico David Nath (The Watchman) tornam o filme realmente impactante. Tema denso, com variadas emoções e propício a boas reflexões. Talvez o desfecho possa desagradar a alguns, mas é certo de que é uma obra bem acabada e que deixa uma mensagem final que não deixará dúvidas sobre ser ou não possível o resgate…8,0

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DUPLA EXPLOSIVA (THE HITMAN`S BODYGUARD) –

Este é um filme sem compromisso, divertido, pra desopilar o fígado, para ser exibido em intermináveis “sessões da tarde”. Essas comédias de ação, parodiando os filmes de agentes secretos (CIA, Interpol, FBI etc.), geralmente são entediantes pelos clichês excessivos e intermináveis. Mas esta tem ingredientes especiais e que a fazem saborosa e um divertido passatempo. O roteiro tem alguns toques diferentes e interessantes (principalmente pela química da dupla principal e pela liberdade que aparentam ter em sua atuação), a direção e edição são muito boas e principalmente tem Samuel L. Jackson, inesgotável em talento e criatividade. Ryan Reynolds e Gary Oldman como sempre estão ótimos e também são responsáveis pela boa diversão oferecida, sem qualquer compromisso com a realidade, mas também com o mau humor.  8,0

 

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LOVELESS

Co-produção França-Rússia, este é um drama sério e profundo, que não tem espaço para qualquer alívio cômico, tratando de assuntos delicados de uma maneira crua e direta. O foco central é um determinado acontecimento, que acaba provocando o envolvimento da polícia e que obriga um casal que se odeia e que está se separando a se manter ainda vinculado. O filme fala do vazio dos relacionamentos. Mas não só do casamento que se desconstrói, mas do aparente abismo que também haverá nas novas relações. Na importante origem materna, como causadora de alguns males. No ódio sem fronteiras no qual foi o amor transformado, sendo vários os subtextos importantes e todos não muito digestivos, como o relacionado com as decorrências da própria evolução política, cultural e tecnológica propiciando desencontros e lacunas existenciais. Filme difícil, árido às vezes, mas muito denso e bem feito, inclusive a imagem inicial sendo absolutamente eloquente em relação ao que virá depois. Representante da Rússia no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2018, foi o vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes 2017.  8,3

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REVELAÇÕES (A MARCA HUMANA – THE HUMAN STAIN)

Dificilmente um filme é melhor do que o livro em que se baseia. Quando o livro foi escrito por Philiph Roth, então, a tarefa é praticamente impossível. Mesmo assim, este filme explora o que consegue do tema e tenta escapar do superficial, tendo méritos na ótima direção (Robert Benton) e no excelente elenco. O foco central acaba sendo o racismo, fato a que se refere o título, no qual a palavra “marca” tem o sentido de “nódoa”, “mancha”, “cicatriz” (no sentido figurado, é óbvio). O título em português, claro, é a banalidade de sempre. Gary Sinise está muito bem, Ed Harris com a personalidade marcante de sempre, mas Anthony Hopkins é especial e a surpresa aqui é a extraordinária atuação de Nicole Kidman. Realmente uma belíssima (nos dois sentidos) performance e que vale o filme. Interessantes os dramas dos personagens, inclusive quanto aos “abismos” existentes entre o casal, sendo que Philiph Roth deixa também claro no livro – e o filme até que explora razoavelmente esse ponto – o seu repúdio pelo politicamente correto, desferindo impiedosas críticas e elegendo como foco para tanto o escândalo da época,  Bill Clinton/Mônica Levinski.  8,5

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JUNGLE

Daniel Radcliffe certamente tem lutado para escapar do “estigma” de Harry Potter. Afinal, interpretar um personagem com esse alcance durante tanto tempo não é fácil de esquecer. Não o acho um ator memorável, mas ele é bastante dedicado, esforçado e se entrega totalmente aos papéis que tem feito. Neste filme, por exemplo, que é baseado em fatos reais, na parte final do filme ele está visivelmente desgastado e tem a aparência próxima do que imaginamos teria o personagem que vivenciou todas as aventuras que o filme apresenta. Esta é uma aventura na região da Amazônia, mas na parte Boliviana, em que alguns jovens saem em uma missão difícil em meio à selva, sem saber exatamente as dificuldades que os aguardam. Seja no curso do rio, seja atravessando a mata, a paisagem é bela mas a caminhada oferece dificuldades reais e impiedosas às vezes. O mérito do filme é nos conduzir como se realmente estivéssemos juntos na empreitada, passo a passo. O lado negativo é o exagero de algumas cenas, nas quais o roteiro quase põe  tudo a perder (o vulto do jaguar no escuro é lamentável, como também a cena da serpente no oco da árvore…). De todo modo, um filme que diverte e provoca variadas emoções. Uma boa aventura.  7,7

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ATÔMICA (ATOMIC BLONDE)

Este é um filme de ação, baseado na HQ The Coldest City. Mas não fica só nisso e por esse motivo vai agradar não só aos fãs desse gênero, mas também a quem gosta de um cinema bem feito, com uma trama interessante: tem idas e vindas envolvendo espionagem com resquícios da Guerra Fria (passa-se em Berlim, na época da derrubada do Muro), tem ótimas sequências, trilha sonora (ótimas músicas), fotografia e ótima edição…e tem a maravilhosa Charlize Theron, fazendo o papel de uma espiã que não foge da missão e das batalhas físicas principalmente. O filme também tem um roteiro atraente, que veste a trama com um mistério a ser desvendado, sobre o agente duplo. Nada de novo nisso, mas é a forma pela qual os fatos são mostrados que desperta e prende a atenção. James McAvoy e John Goodman (com nova forma física) também estão bem como sempre. Mas é Charlize que constrói uma personagem que, dizem, tem o charme de James Bond e a força de Jason Bourne.  8,5

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1922

Pode existir crime sem castigo? Produção Netflix para quem gosta de dramas fortes (com pitadas policiais), de suspense/mistério e até terror, inclusive porque baseado em obra de Stephen King. A apresentação já dá a tônica do filme: a câmera sai de um poço e em seguida aparece a cidade de Hemingford em pleno ano de 1922, com a costumeira competente reconstituição de época do cinema americano. E o personagem principal narrando os fatos que ocorreram e que o levaram onde está. O clima pesado – ajudado pela trilha sonora e fotografia – perdura até o final do filme e a história não é nada enaltecedora, enfocando alguns personagens e seus trágicos destinos. Mas é uma obra a ser apreciada, embora esse tipo de história contando o preço das escolhas, a decadência do ser humano etc. não seja novidade. Mas tem toques originais e, como já dito, pode ser saboreada mesmo em seu amargor por pessoas dispostas a algo mais denso e dramático e que apreciam o gênero. O filme em instante específico, para se ter uma ideia, lembra “O iluminado”, de Kubrick, talvez tendo sido em homenagem mesmo. A interpretação do ator Thomas Jane é excelente, inclusive pelo sotaque, adequado à região onde tudo se passa (a Nebraska das grandes planícies, mas também do frio intenso). Também está ótima, como sempre, a atriz Molly Parker. E o importante mesmo é a lição que fica, no sentido de que escolher é sempre possível e, principalmente, de que somos os únicos responsáveis pelo rumo que damos à nossa vida.  8,0

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A FILHA DE RYAN

Maurice Jarre, compositor, arranjador e maestro, autor da trilha sonora deste filme e de outros do diretor David Lean (Doutor Jivago, Lawrence da Arábia, Passagem para a Ìndia…), é também responsável pela trilha de dezenas e dezenas de filmes, entre os quais Ghost, A testemunha, Sociedade dos poetas mortos e Atração fatal). O diretor, além dos filmes citados acima, também é o responsável por inúmeros sucessos como A ponte do rio Kwai, Grandes esperanças, Oliver Twist…Portanto, ambos dispensam maiores comentários e já por eles este filme de 1970 já de início se mostra credenciado pela qualidade. Mas a obra é também grandiosa pelas imagens (fotografia exuberante), também marca registrada do diretor (como a maior duração de seus filmes). E tem uma bela história – e com fundo moral a ser debatido na frase final do Sr. Ryan ao se referir ao professor -, enfocando dramas da época da Primeira Guerra Mundial – inclusive do conflito irlandeses x ingleses – e também do vilarejo irlandês, com fatos e tipos representativos de um âmbito universal.  Há muitas cenas que ficam na memória, algumas inclusive pitorescas (como a identificação do bobo com o major, pelo problema físico de ambos). Entre outras, de impacto visual ou dramático. O elenco é ótimo: mais irlandês que o padre magnificamente interpretado por Trevor Howard, impossível; Robert Mitchum também está muito bem como o professor, assim como Sarah Miles no personagem-título, mostrando as nuances das transformações por que passa ao longo da história…entretanto, nada mais especial e inesquecível do que a composição do personagem Michael (o bobo da aldeia) feita por John Mills e que lhe valeu o Oscar 1971 de Melhor ator coadjuvante. Mais do que merecido! E o filme ganhou ainda o Oscar de Melhor fotografia, perdendo os demais para a forte concorrência daquela época: Patton, Mash, Mulheres Apaixonadas, Love Story (que ganhou a trilha sonora). E só não coloco este filme como um dos melhores do diretor por alguns detalhes que me desagradaram um pouco do roteiro, ao não separar bem os fatos da guerra e os que envolvem o casal e o major e, também, porque em muitos momentos a história me pareceu não sair do banal (embora a parte final compense plenamente eventuais lacunas)…Mas, sem dúvidas, pelas qualidades, mesmo sendo um David Lean “menor”, ainda assim é algo imprescindível e de destaque na história do Cinema. E só o arrebatamento causado pelas lindíssimas imagens já valeria o ingresso.   8,8

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WIND RIVER (TERRA SELVAGEM)

Um filme policial passado em local ermo e com um ótimo conteúdo de cunho humano. Mérito da direção e do elenco. Sem pressa, algo triste, algo contemplativo, envolvendo neve, silêncio e muitos dramas, com ótima trilha e fotografia. O clima e o tédio mexem com os sentimentos, com os instintos humanos em Wyoming, um dos Estados americanos com menor população, onde convivem o frio, o gelo, búfalos e existe como uma das atrações o parque de Yellowstone. E o ser humano ali está, forçado a se adaptar. Aqui há um crime a ser desvendado, havendo a investigação conjunta da polícia local e do FBI, ao mesmo tempo em que paralelamente um leão da montanha anda exterminando animais de criação (mas esse fato é apenas uma moldura). A paisagem é um grande atrativo, acentuando a monotonia e a solidão e a investigação segue lenta, imersa também no universo pessoal dos protagonistas e no noviciado da agente federal. O elemento principal do filme é efetivamente o painel humano e os diálogos são muito bons, com um final comovente, fazendo a conexão entre os fatos policiais e a própria vida do protagonista, muito bem interpretado por Jeremy Renner. O filme en passant também deixa uma mensagem  sobre a escassez das populações indígenas no mundo moderno e o recado final é justamente sobre a falta de estatísticas sobre mulheres indígenas desaparecidas. O diretor e roteirista é Taylor Sheridan, de A qualquer custo e Sicário. Um filme muito bem estruturado e que vai aos poucos fazendo com que o espectador mergulhe de cabeça na história.   8,5

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3 THINGS (3 COISAS)

Um filme com muitos diálogos e reticências e pouca ação. Tudo se passa em um apartamento, os fatos envolvem o plano de proteção a testemunhas e pouco a pouco vamos tentando desvendar o papel dos personagens. Durante todo o tempo parece que existem mais coisas do que são mostradas e a trilha sonora contribui para o suspense e o mistério. É um filme de “clima”. Sente-se a necessidade de montar o quebra-cabeças e eis aqui uma das grandes virtudes do roteiro: a de ir aos poucos fornecendo as pistas e criando inclusive certas sensações dúbias. Várias alternativas angustiam o espectador, quando, finalmente, na parte final as coisas se aclaram mais e surgem fatos novos na investigação policial.  É uma produção dinamarquesa e o protagonista inclusive é o ator Nikolaj Coster-Waldau, que interpreta Jamie Lanister em Game of thrones. Não é um filme para todos os gostos (alguns avessos ao gênero talvez achem o filme “parado”), mas se revela saboroso para quem está disposto a degustar com vagar, à espera de alguma boa recompensa. O problema é que talvez essa recompensa não seja tão especial ou merecida quanto poderia. Mas também é possível que a expectativa é que era grande demais.  8,0

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GERALD´S GAME (JOGO PERIGOSO)

Um filme americano de suspense e terror, real e psicológico, estrelado por Carla Gugino e Bruce Greenwood e baseado em obra de Stephen King. Constituindo em mais uma produção original Netflix, o filme é todo imprevisível e surpreendente, do início ao final, contendo recursos cênicos e técnica narrativa muitos interessantes, que combinam fantasia e realidade, a ponto de confundir o espectador e de fazer com que o fato seja um elemento a mais de atração. Inclusive pelo final do filme, que tem um ingrediente inesperado. Sendo verdade que a primeira grande surpresa já ocorre bem no início do filme e a partir dali ficamos à deriva, sem saber exatamente o que vamos ver. Um thriller que, além do acima exposto, introduz alguns temas incômodos ao mexer com o passado, fazendo lembrar uma vez mais daquele ditado que diz que nós somos o resultado de tudo o que fomos e vivemos ao longo da vida. Muito interessantes alguns diálogos e também as formas de “prisão” associadas com a criativa simbologia das algemas. Muito bons o roteiro, a fotografia e a trilha (acentuando o suspense), sendo seu competente diretor e editor Mike Flanagan.  8,5

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UNA

O filme mergulha fundo em um tabu. Mas de forma crua e fria, como é característica do cinema nórdico. Aqui, porém, se trata de produção americana e a abordagem é diferente da trivial. Polêmico, vai despertar os mais variados sentimentos e gerar diferentes críticas, dependendo de quem o vê e da forma como será interpretado. Alterna-se força e fragilidade, é constante a perplexidade e a dúvida no julgamento dos fatos…Um drama que acaba sendo um filme de suspense. Rooney Mara faz esplendidamente a personagem adulta e Ben Mendelsohn também está ótimo. Parece em certas horas não haver vítima ou bandido, em outras sente-se o peso da civilização. O filme é frio nas cenas (note-se os espaços da fábrica…), como se estivesse tentando ocupar uma posição neutra – que a fotografia e os movimentos de câmera valorizam -, de todo modo poupando o espectador de violência ou de nudez e fazendo apenas sugestões e marcações sutis…Mas sempre com densidade. Difícil de digerir, incômodo, talvez desumanize demais a personagem…talvez faça referência proposital a Lolita. Talvez romantize o que não deveria…Mas merece ser visto por quem aprecia filmes desse estilo (pode-se dizer “filme de arte”). 8,5

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THE CHILD IN TIME

Este é um drama denso e sentimental, feito pela BBC de Londres para a televisão e baseado na obra de Ian Mc Ewan. Mas não tem nada de piegas. Ao contrário, é uma obra madura, extremamente bem realizada e com ótimo elenco, conduzido por Benedict Cumberbatch, famoso pela série Sherlock Holmes. É uma pequena joia na verdade, porque realizado com maestria e abordando vários temas a partir de um tema importante e real: o casamento e sua sobrevida após fato avassalador. Muitas reticências, sutilezas, em um filme extremamente bem interpretado e dirigido (Julian Farino) e que também conta com uma trilha sonora bastante apropriada e que acentua tanto a melancolia, quanto o suspense, que permeia a história toda. Um filme singelo, com pitadas de mistérios da vida (fantasia?), mas que atinge a sensibilidade – inclusive no paralelo que faz, na parte final, e que necessita de reflexão, entre o amigo e a filha – e  traz um fecho pungente e até inesperado, que legitimamente emociona. Em tempo: tenho até “medo” de aguardar pelo título brasileiro.  9,0

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GIRLS LOST

Este é um filme sueco de inegável qualidade, em termos de forma e conteúdo, mas deve agradar a um público específico. Porque não é cinema para divertir e sim algo denso, para sentir e refletir, apresentando dramas profundos e fragilidades em questões diversas (de gênero, buylling, falta de autoridade etc.). A fantasia/ficção/mágica criada pelo roteiro não atenua nem um pouco a realidade escancarada que nos é apresentada, servindo apenas de moldura e instrumento a ela. O filme tem cenas chocantes e discute a fundo inclusive a sexualidade, apresentando de forma original e talvez como em nenhum outro o universo de meninos e meninas, inclusive com todos os seus conflitos. O filme é tão bem e sensivelmente roteirizado e dirigido por Alexandra-Therese Keining, que sentimos em muitas cenas um grande impacto, como testemunhas de algo que se assemelha muito à realidade, sendo esse também mérito do excelente elenco. O final coroa o filme com o mesmo cuidado de todo o seu desenrolar, deixando um ponto de interrogação na derradeira cena, mas não só sobre o destino da personagem: o que significará o afastamento lento da câmera da cena e sua elevação sobre a paisagem? Simplesmente que a vida segue? Ou é um voto de esperança?  8,8

 

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VERSÕES DE UM CRIME

Geralmente os chamados “filmes de tribunal” são interessantes e este não foge à regra. É interessante, apesar de alguns problemas que pelo menos para mim apareceram. A história é boa e a razão do interesse aqui é que, além do suspense típico desses filmes, permanecem alguns fatos misteriosos e que despertam o espectador para tentar decifrá-los, sempre tentando adivinhar as surpresas que poderiam estar preparadas. Entretanto, há um problema grave: em várias partes do filme a gente se pergunta “Mesmo tendo uma história simples, sem maiores complexidades, como seria esse filme nas mãos de um ótimo diretor/montador? Como seria com um elenco melhor?” Porque em muitas cenas se sente a ausência de qualidade, de uma montagem e direção mais caprichadas, de uma dinâmica mais bem estruturada. Sobretudo a falta de um elenco mais competente. Não gostei da quase irreconhecível Renée Zellweger, mas o fraco e inexpressivo Keanu Reeves não serve para esse tipo de papel, embora tenha se dado muito bem com outros personagens. De todo modo, entre mortos e feridos, salva-se um razoável interesse que justifica a visão do filme. Porém cabe fazer a ressalva: como gosto não se discute, poderá haver quem adore o filme, como também os que o acharão uma total perda de tempo.   7,6

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BABY DRIVER (EM RITMO DE FUGA)

O título em português se justifica porque o jovem protagonista é um exímio motorista para fugas de assaltos. Com um problema peculiar no ouvido, que faz com que tenha que permanentemente ouvir som alto para afastar o zumbido. Mas embora essa modesta sinopse pareça descrever algo trivial, o que vemos na tela está longe disso. O filme é adrenalina pura. O começo já é arrebatador e vamos viajando de uma cena a outra, com a música e com a câmera alucinando. E o mais extraordinário: o ritmo e o interesse se mantêm do começo ao fim. Sem perder o charme e o espaço de cada personagem, há cenas de tirar o fôlego, outras inesperadas, outras até emocionantes. E a ação não para. O espectador não tem tempo para tirar os olhos da tela. E não quer. Porque vai perder a diversão. O diretor, Oscar Wright (Homem formiga, Scott Pilgrim, Chumbo grosso) assim define sua obra: “é um filme de perseguição de carros guiado pela música”. Mas não é só isso: tem ótimo e imprevisível roteiro, com senso de humor fino e inteligente e as peças todas muito bem encaixadas. E um grande elenco está afinado com a direção e a edição: Kevin Spacey, Jon Hamm, Jamie Foxx e o casal jovem formado por Ansel Ergort (A culpa é das estrelas, Divergente) e Lily James (Cinderela). Uma surpresa agradável, realmente uma delícia de filme. Imperdível.  9,0

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2:22 – ENCONTRO MARCADO

O protagonista é controlador de tráfego aéreo e coisas estranhas parecem acontecer de repente em sua vida. O ator que o interpreta é  Michiel Huisman (A estranha história de Adaline e Game of Thrones – no papel do segundo Daario Naharis) e o filme adota uma temática misteriosa, meio sobrenatural, com momentos de tensão e muito mistério permeando cada cena, valorizado pela trilha sonora. O filme não segue o padrão que se imagina pelo nome, de algo que se repete todos os dias no mesmo horário. Não é nada disso. Mas também não chega a criar algo inédito, embora alguns fatos sejam interessantes e criativos. Claro que há os clichês,  do moço bonito encontra moça bonita, a magia do encontro, câmera lenta com música romântica de fundo, entre outros. E que as interpretações podem perfeitamente ser questionadas, assim como a figura do “vilão”, a falta de química do casal etc. Mas há também qualidades no roteiro que escapam da rotina e criam momentos de ótimo entretenimento, com temas como o da influência dos astros sobre o destino, os fatos e as conexões envolvendo tempo e espaço, enfim, assuntos meio metafísicos, que se misturam com os terrenos e que criam alguma empatia e tensão. A proposta na parte final do filme é fantasiosa demais, mas se aceita pelo conjunto da obra e pelo fato de que no drama e no romance se encontra naturalmente inserida a ficção. Como virtudes, há um momento  de grande efeito holográfico no meio do filme e a construção cênica/de efeitos na principal cena final é bela e emocionante. Em suma, no geral, nada indispensável, mas uma boa diversão.  7,8

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