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FUGITIVE PIECES

Não sei se esse filme tão especial, de produção canadense e grega, passou nos cinemas. Sei que volta e meia é exibido nos canais HBO. Talvez seja daqueles casos em que um filme significa muito para algumas pessoas e para outras nem tanto, não sei: mas já o vi 3 vezes e em cada ocasião senti as mesmas sensações e emoções. Um drama extraordinário, que, com equilíbrio e delicadeza, conta fatos relacionados com a guerra, mas principalmente fatos da alma. Um belo e emocionante roteiro, filosófico, repleto dos valores do ser humano em sua busca pelo encontro com o outro, com a vida, com o resgate de seu passado, com o seu próprio sentido de existir. Na verdade, uma história de amor, no mais amplo sentido da palavra e em várias de suas facetas, o amor verdadeiro, o amor da perfeita entrega, o amor incondicional, da paz sem sobressaltos. Estrelado por Stephen Dillane e Rade Serbedzija, foi baseado no romance de Anne Michaels e roteirizado pelo próprio diretor, Jeremy Podeswa. “O mistério da madeira não é ela queimar e sim flutuar” (cada coisa tem seu lado bom e seu lado destrutivo, cabendo a nós a escolha do olhar correto).  9,5

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ACONTECEU NAQUELA NOITE

Comédia romântica de primeira linha e produzida em 1934, foi o primeiro filme a ganhar, no ano seguinte, os 5 Oscar principais: melhor filme, melhor roteiro, melhor diretor (Frank Capra), melhor ator (Clark Gable) e melhor atriz (Claudete Colbert). Roteiro e direção brilhantes, comédia, aventura e drama na medida certa, assim como os demais elementos, característicos do diretor: humanidade, família, bondade, personagens de má índole com chance para se redimir etc. Sintonia ótima e levemente apimentada entre Clark e Claudette, ritmo perfeito, culminando num final que para a época deve ter ruborizado alguns.  Curiosidade: em 1996 o Oscar ganho por Clark Gable por sua atuação neste filme foi leiloado e comprado anonimamente por Steven Spielberg, que, para evitar que a estatueta fosse utilizada para fins comerciais, entregou-a à Academia de Los Angeles.  9,0

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MAN FROM EARTH

Um filme inovador, construído de forma brilhante a partir de uma ideia bastante original. Praticamente desde os primeiros minutos já se fica surpreso e fascinado com a história, magnetizado pelos diálogos, pelo clima. O espaço é um só, mas o grupo que o ocupa é do mais alto nível cultural  e intelectual. Exatamente o adequado para o tema e para a sua credibilidade: as pessoas certas para ouvir e para argumentar, dentro de uma história que vai  crescendo e se enredando por caminhos os mais diversos, da pilhéria à perplexidade. E os pontos de interrogação vão surgindo e se acumulando e dando lugar à reflexão. E à emoção. Inclusive pela simplicidade das coisas. Passa a ser relativo aquilo em que se acreditava: a fronteira do possível e do improvável, uma tênue linha. “O que me ensinaram”? “O que tive de assimilar mesmo sendo um paradoxo”? A ideia toda é genial, muitíssimo bem concebida e a cena quase no final, com o velho, permite, enfim, que a emoção reprimida aflore.  Um filme independente, de baixíssimo orçamento para os padrões americanos (pelas informações, gastou-se menos de 300 mil dólares), que não teve a divulgação merecida quando lançado (os próprios autores disponibilizaram downloads do filme pela internet)  e que tem o grande mérito de  fazer o espectador efetivamente pensar!!! Baseado em recente obra de um dos mais aclamados escritores de ficção científica, Jerome Bixby, “Man from Earth” é mais do que um ótimo filme: acaba sendo uma bela lição sobre a própria história da humanidade. 9,0

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HEADHUNTERS

Este é um drama de ação/suspense (estilo policial ou thriller), mas norueguês e que fez grande sucesso em sua região de origem, passando a ter o mesmo êxito em diversos países do resto do mundo. O título tem origem na profissão do protagonista, que é uma espécie de “recrutador” de RH (o termo também designa os chamados “caça-talentos”), mas todo o encanto do filme reside principalmente na vida dupla e excêntrica que esse personagem adota, no ritmo e imprevisibilidade do roteiro e também na sua diversidade em relação ao cinema americano. Fosse feito nos EUA, esse filme provavelmente seria mais um “enlatado” televisivo e previsível do início ao fim. Sendo europeu, são outros os costumes e também a visão sobre as coisas, o que torna o filme um ótimo passatempo, inclusive pela qualidade da produção, da direção e do elenco, liderado pelo talentoso Lars Mikkelsen. 8,5

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JEAN DE FLORETTE/A VINGANÇA DE MANON

São dois filmes, na verdade, embora feitos simultaneamente, em 1986, e em duas partes. “A vingança…” é a continuação de “Jean…”.  Baseados em obra do então já falecido acadêmico francês Marcel Pagnol (que também escreveu “A glória de meu pai”, “O castelo de minha mãe” etc.), narra magnificamente uma saga de traições, ambições, disputas, onde se encontram maravilhosamente retratadas diversas facetas da natureza humana, passando pelo amor e generosidade e desaguando na inveja, na cobiça, na ambição, no ódio, na zona rural da França das décadas de 20/30. Elenco magnífico, capitaneado por Ives Montand, Gerard Depardieu, Daniel Auteuil (quase irreconhecível na caracterização física) e Emmanuelle Beart (esses dois últimos casados na vida real e vencedores do Oscar francês, o César, em 1987). Grande filme, música-tema tocante e melancólica, grande sucesso, na época o filme mais caro do cinema francês (120 milhões de francos). Vale a pena ver os extras no DVD.  9,0

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ANOTHER EARTH

Um misterioso e fascinante filme que mistura drama com ficção científica. Pode ser classificado até como “filme de arte”, mas passada a estranheza inicial o roteiro se torna bem mais claro, embora sempre denso e imprevisível, outras qualidades, aliás.  A partir da descoberta de um outro planeta, os fatos e personagens acontecem e se entrelaçam.  A última cena é bastante interessante, para alguns certamente enigmática. Vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Sundance, estreou nos EUA em julho de 2011, sendo produzido e dirigido por Mike Cahill. 8,5

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SERPENTE DE LUXO (BABY FACE)

Drama americano de 1933, com Bárbara Stanwyck já mostrando grande estilo, personalidade e sensualidade na interpretação de uma moça que resolve usar determinadas (e antigas) “armas” para subir na vida. O filme teve de ser alterado várias vezes na época, até se adequar às exigências da censura, mas mesmo assim manteve sua força e surpreendente ousadia (em plena época do código de censura Hays), principalmente graças à protagonista. A música do filme também ficou famosa. A “pontinha”, rara, do jovem John Wayne também vale o registro. 8,5

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A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (IT´S A WONDERFUL LIFE)

Este pra mim é um dos filmes que merecem a nota máxima: uma obra-prima produzida em 1946 e que não ganhou nenhum Oscar, embora indicado para Melhor Filme, Ator, Roteiro, Montagem e Som. Como dizem, “coisas de Hollywood”! É o trabalho mais perfeito do grande diretor Frank Capra, em um filme tecnicamente perfeito, com um elenco afinadíssimo, na maior interpretação da carreira do fabuloso James Stewart e um roteiro ágil e maravilhoso desde o primeiro minuto de filme: emocionante ao extremo e repleto de valores dos quais o homem não pode nunca se dissociar, como o caráter, o otimismo e principalmente a generosidade, o amor e a amizade. Mas o roteiro não é simples, reunindo elementos de grande criatividade, embora flua com leveza e permanente interesse. Cenas desse filme ficam na memória para sempre. E nunca haverá mensagem maior de Natal e de filosofia de vida como a da última e inesquecível cena! 10,0

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CARNAGE

Embora seja um filme para um público especial – que gosta de filmes de arte -, é efetivamente um espetáculo: Roman Polanski tem o mérito de dirigir dois casais de atores em um espaço único (a sala de um apartamento) e ali se trava toda a “batalha”. Mas assim como o diretor não é qualquer um, o quarteto é extraordinário, com destaque um pouco maior, na minha opinião, para as mulheres: John C. Reilly (grande ator, embora eterno coadjuvante) e Jodie Foster (também ótima diretora) e Christopher Waltz (o oficial nazista, “oscarizado”, de “Bastardos Inglórios”) e Kate Winslet (também dispensa comentários !). O filme é baseado em peça de teatro magnificamente concebida pela dramaturga francesa Yasmina Reza (Le Dieu Du Carnage) e é notável o conhecimento da autora sobre a natureza humana, sobre a relação inter e intra casais, sobre as reações possíveis e verossímeis a cada etapa dos “duelos” (há momentos em que os dois homens parecem “conspirar” e assim por diante).  Cinema como se fosse teatro, em uma adaptação realmente feliz: de um fato corriqueiro, descortina-se um universo imprevisível e  fascinante sob os aspectos tanto psicológico, como sociológico. 9,0

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CAVALO DE GUERRA

Pelo propósito inicial de somente comentar filmes com nota acima de 7,5/8,0, faço esta exceção pelo fato de concorrer ao Globo de Ouro 2012 e principalmente como uma reverência à contribuição ao Cinema prestada por esse notável cineasta, que é Steven Spielberg (de obras memoráveis), que dessa vez contempla a Primeira Grande Guerra – pena que parece não ter mais pretensões de inovar… Imagino que a grande parte das pessoas vá gostar muito do filme, mas após 40 anos de cinema, confesso não ter mais muita paciência para ver sempre a mesma coisa. O filme cheira épico, com cenas grandiosas, música ufanista, histórias de coragem, superação etc. Entretanto, é mais um dos já vistos e reprisados dezenas e dezenas de vezes, feito neste caso na medida para manipular as emoções do espectador. É um daqueles que passava na “Disneylândia”, com roupagem moderna. Com direito a ótimas cenas de guerra e uma cena magnífica quase ao final do filme, do cavalo galopando em meio à guerra, mas a que se segue, lamentavelmente, outra cena digna de pastelão, simplesmente ridícula, da confraternização dos soldados inimigos. No final das contas, mais um filme-família para provocar lágrimas, emoldurado ao final pela cena clássica das sombras dos personagens tendo por detrás o crepúsculo. A virtude é que, como todo filme de Spielberg, é tecnicamente perfeito. O que não é pouco (junto com os elementos já citados), embora pelo que poderia ser, também não seja muito. 7,0

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RESTLESS (INQUIETOS)

Um filme belo e que se destaca principalmente por sua delicadeza. Delicadeza essa evidenciada pela sensível interpretação de Mia Wasikowska (que fez “Alice” no filme com Johnny Depp), em equilíbrio com Henry Hopper. A mensagem é de coisas boas, sobre a beleza e a simplicidade da vida, das relações, da importância de que os momentos sejam vividos intensamente mesmo que fugazes…E de que um casal possa existir como um par mesmo sem ter perfeita sintonia com o mundo (tratando-se de pessoas diferentes e que não se ajustam às regras estabelecidas), bastando que exista sintonia de um para com o outro. O tema não é novo, mas não são tão comuns abordagens poéticas como essa, do diretor Gus Van Sant, que dirigiu também “Elephant” e “Milk”, entre outros. 8,0

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PERFECT SENSE

Traduzido para o português (com a irresponsabilidade, imbecilidade e insensibilidade de sempre de alguns, como OS SENTIDOS DO AMOR), o filme é impactante e a princípio à feição dos que apreciam filmes de arte (cult). Mas pode servir a outros públicos também, porque o tema é universal e no final das contas conduz à simplicidade: qual o limite mínimo para a sobrevivência do ser humano? É possível sobrevida na solidão? Qual a real face do desamparo, qual a capacidade de superação, de adaptação do Homem? A que se reduz o ser humano na medida em que vão lhe faltando elementos básicos de civilidade, vitais para que se relacione com outros seres humanos? A partir de uma temática de ficção científica, o enredo se aprofunda e se desenvolve na plenitude de cada etapa da degradação exposta. O que é essencial, afinal? Pode haver esperança? Momentos de perplexidade e até de terror atingem o espectador. Aqui, com o sempre ótimo Ewan McGregor em mais um filme original que protagoniza, no caso juntamente com a bela, sensual, misteriosa e também ótima Eva Green. Baseado em roteiro de Kim Fupz Aakeson (possivelmente inspirado em Saramago, no seu “Ensaio sobre a cegueira”) e com a direção iluminada do escocês David Mackenzie, um filme original, diferente, perturbador e que no final leva à emoção, mas não à fácil e sim à de grandes momentos, de um especial estado de espírito. 9,0

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UMA SEPARAÇÃO (A SEPARATION)

O filme é iraniano e concorre ao Globo de Ouro 2012 de “Melhor filme estrangeiro”.  No início, tudo parece simplório demais e que não vai conduzir a nada. Mas basta um pouco de paciência para constatarmos que o enredo vai aos poucos sendo construído habilmente e que uma situação de absoluta rotina doméstica se desdobra para se transformar em outra complexa, de verdades e mentiras, envolvendo família, costumes (inclusive conflitos entre tradição e modernidade), ética e religião, muito bem explorada pelo diretor Asghar Farhini e pelo excelente elenco (ator e atriz premiados com o Urso de Prata), que dá total verossimilhança aos personagens. Muito interessante ver alguns aspectos da cultura muçulmana, inclusive em relação à figura do juiz e como se dá o julgamento que faz diante de um caso concreto. O filme ganhou o Urso de Ouro na 61ª edição do Festival de Berlim, em 2011. PS – o filme ganhou o Globo de Ouro 2012 como Melhor Filme Estrangeiro.   8,8

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COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO

Para comentar esse drama-comédia-romance, faço uma comparação dele  com GIGANTES DE AÇO (Real Steel), estrelado por Hugh Jackman e com Evangeline Lilly (da série Lost) – igualmente um lançamento (mas que não vai ser comentado com destaque, por ter conceito inferior) -, porque ambos são duas faces distintas mesma moeda. Essa “moeda” é a seguinte: trata-se de filmes de gêneros bem diferentes cujo enredo sabemos de cor desde a primeira cena. São filmes estilo “família”, típicos da “sessão da tarde” e após o início já sabemos tudo o que irá acontecer, em detalhes, da primeira à última cena, pois já vimos esse enredo  dezenas e dezenas de vezes. Hollywood tem há muitos anos todos os ingredientes da receita do sucesso, bastando saber misturar bem os ingredientes. Acontece que “Gigantes de aço” é só clichê, não tem nenhuma mensagem nova ou interessante ou proveitosa, por esse motivo tornando-se absolutamente irritante para o espectador exigente, que chega à exaustão com tanta banalidade. Não há mais paciência! É só para divertir alguns minutos (os das lutas dos robôs), em que mais uma vez se admira a técnica cinematográfica americana. Enquanto que “Compramos um Zoo” traz junto com o roteiro já previsível uma porção de virtudes, que tornam a visão do filme algo absolutamente prazeroso e emocional. Sabemos o que vai vir, mas queremos que venha…O filme é bonito, limpo, bem dirigido (Cameron Crowe), bem interpretado (Matt Damon, ótimo, Scarlett Johansonn, ótima…) e nos coloca diante de conexões diversas, de relacionamentos e do enfrentamento dos fatos da própria vida, como o destino, os desafios e a própria morte,  com belas lições (com também belos efeitos de memória) de como saber administrar uma grande perda…Nada extraodinário, mas muito bem feito,  a ponto de chegar fácil ao coração.   8,4

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HISTÓRIAS CRUZADAS

O filme concorre em diversas categorias no Globo de Ouro do próximo dia 15 (janeiro de 2012). E não sem razão, pois, com muita sensibilidade e competência conta histórias interessantes (algumas leves e engraçadas, apesar da época e dos fatos retratados), abordando uma época de intenso segregacionismo racial nos EUA, especificamente no seu Estado mais racista, o Mississipi, no final da década de 50, início da década de 60. Época de Kennedy e Martin Luther King. Excelente reconstituição de época,  sendo equilibrados todos os elementos de um filme, como direção de arte, fotografia, roteiro, direção (Tate Taylor, novato em direção e com algumas experiências como ator) e com interpretações maravilhosas de todo o elenco, notadamente do par central (Viola Davis e Octavia Spencer), acompanhado de uma atriz que começa a despontar como um grande talento de sua geração:  Emma Stone e que ainda vai dar muito o que falar. Pena apenas que a bela música THE LIVING PROOF (que também concorre a Globo de Ouro) só toca durante os créditos finais. aliás costume lamentável dos americanos, que já fizeram isso em muitos outros filmes, inclusive com a música mesmo assim recebendo prêmios (“Say you say me” é um exemplo, no filme “O sol da meia-noite”). Mas isso, é claro, não retira do filme sua força de obra bem acabada. Flui no tom certo e com muita emoção. 9,0