HOMEM IRRACIONAL (IRRATIONAL MAN)

irrational_man_posterAs primeiras marcas de Woody Allen – ainda mais nesta fase de plena maturidade, da última década -, já aparecem nos momentos iniciais do filme, antecipando sua qualidade: a esplêndida fotografia e a acertadíssima trilha sonora. Somos envolvidos, então, com o elenco, que valoriza o ótimo roteiro: Joaquin Phoenix e Emma Stone são excelentes intérpretes, ainda mais quando o texto é enxuto, inteligente, instigante (Parker Posey também é uma bela atriz). De se notar, também, que, como uma espécie de discípulo de Bergman, Woody Allen gosta muito de closes. E com isso revela as mais leves expressões faciais de seus atores, as sutilezas do olhar. E aí percebemos neles a qualidade dramática, o que a dupla de protagonistas neste caso tem de sobra. Ambos são soberbos intérpretes! E o diretor continua perfeccionista em tudo: iniciando com o roteiro e passando pelo elenco e pelos demais elementos da produção, valendo dizer que a edição de seus filmes é também primorosa. E, assim, a trama vai sendo construída, cada vez mais inebriando o espectador em um contexto intelectual, estético, iconoclasta e que discute o que é moral ou não e provoca/questiona permanentemente, inclusive a respeito das chamadas verdades filosóficas (chamando, por exemplo, a filosofia de “mera masturbação verbal”). Isso sem abrir mão do mistério e sem menosprezar a inteligência do espectador. Ao contrário, aguça-a, inclusive porque o desencadeamento dos fatos acrescenta muita tensão e mistério aos momentos finais, que, assim, tornam-se absolutamente saborosos e imprevisíveis. E alguns desses fatos nos fazem pensar na vida e em como situações que nos parecem tão seguras, num piscar de olhos desabam e se desestabilizam radical e surpreendentemente! Discordo radicalmente da crítica, que declarou este filme apenas como mediano. Woody é brilhante e faz aqui mais um filme completo, um trabalho inteiro, no qual não se percebe falha alguma, dependendo apenas do gosto individual para se gostar dele ou não. Inclusive quanto ao seu desfecho. Mas que se trata de uma obra perfeita e acabada, não resta a menor dúvida. O diretor mais uma vez deixa claros os motivos pelos quais já conquistou o posto de um dos grandes gênios da história do cinema.  9,0