BLUE JAY (2016)
Algo bastante curioso sobre este filme independente americano, é ter gerado opiniões tão desiguais entre o público, embora a crítica profissional o tenha elevado a um alto patamar: há tanto pessoas que o qualificam como “um dos melhores filmes que já vi envolvendo relacionamentos”, como outros que o definem como “algo repetitivo e bastante entediante”. Penso que é um tipo de filme que permite essa singular flexibilidade e que realmente vai depender não só do gosto de cada um, mas também da sensibilidade e história individuais. Até porque existem certas peculiaridades no filme: primeira, é todo em preto e branco, o que certamente foi proposital para harmonizar com todo o clima de nostalgia que evoca; segundo, está ambientado em uma pequena cidade da Califórnia, que é a natal dos protagonistas e que são apenas dois: o filme todo se passa em mais ou menos um dia, em locais específicos da tal cidadezinha (um deles justamente de nome “Blue Jay”) e só envolve os personagens de Amanda e Jim, desempenhados de forma marcante e perfeitamente natural por Sarah Paulson e Mark Duplass, este, por sinal, o autor do roteiro. A química entre os dois é perfeita e as atuações maravilhosas, o que aqui é imprescindível para o perfeito funcionamento de todos os elementos, sob a sensível batuta de Alexandre Lehmann, estreando com muita competência em seu primeiro longa-metragem (observação: o filme dura cerca de 80 minutos). Lehmann é inclusive o diretor também da belíssima fotografia, ornamentada com discrição e serenidade por uma trilha sonora absolutamente adequada aos momentos bem equilibrados de drama e comédia. Certamente muitas pessoas e até casais poderão se identificar perfeitamente com as várias situações apresentadas, que envolvem casualidade, simplicidade, mas também profundidade emocional, abordando ao mesmo tempo temais banais (como seriados de TV) e complexos (como fantasmas do passado), Um filme que destila sentimentos e deixa para revelar na sua parte final alguns segredos, sem cair em pieguices ou clichês: e um desses temas inclusive poderá, após a última cena, provocar interessantes reticências a serem preenchidas por cada espectador. Netflix. 9,0
