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A BALEIA (THE WHALE)

Dirigido por Darren Aronofsky (Réquiem para um sonho, Cisne negro), este é um filme polêmico por ter como um dos seus temas principais a obesidade mórbida. Mas não deveria ser. Pois por mais que seja um texto pesado, doloroso, no contexto geral absolutamente avassalador, o assunto em questão é enfrentado com rara coragem, muita responsabilidade e realismo e, ao contrário de poder gerar repugnância ou sentimentos negativos, deverá, sim, produzir justamente efeitos opostos a esses: ou dando humanidade aos que veem os obesos de uma forma talvez preconceituosa (dando-lhes, também, uma visão diversa) ou até mesmo fazendo com que muitos se identifiquem com o protagonista, reflitam e até acabem agindo em busca de algo maior, como o restabelecimento da sua saúde, por exemplo. Seja como for, é um filme forte, denso, repleto de situações e diálogos incômodos, baseado em peça teatral de Samuel D. Hunter e que simplesmente foi o roteirista do filme: ou seja, algo fiel ao texto original e à ideia, principalmente. Só que com os recursos de som e imagem/efeitos do cinema. O que além de uma direção extremamente competente – e os fatos, bem propícios ao teatro, ocorrem dentro de uma casa, na verdade basicamente em um dos seus aposentos – reúne um elenco excelente, com uma ótima trilha sonora e uma também qualificada edição. Detalhe: apesar da excelência do elenco (principalmente a atriz Hong Chau, a “cuidadora”), o brilho indiscutível é do ator Brendan Fraser, que apresenta aqui uma performance simplesmente monumental e inesquecível. Não porque o ator engordou muitíssimo, mas porque ele consegue, independentemente da aparência, dar ao belíssimo personagem nuances tocantes, improváveis e surpreendentes de fragilidade, bondade, generosidade, acentuadas com rara competência em cada cena, fazendo transbordar de seus gestos e expressões uma impressionante humanidade, de alguém que ainda crê no ser humano, nos seus valores positivos e na sua capacidade de superar quaisquer obstáculos. Discordo, portanto, das opiniões divergentes, que rotulam o filme de dramalhão ou tentam reduzi-lo de sua importância e magnitude. E mais: o fascínio de Charlie (e de sua abnegada renúncia), a intensidade perturbadora da história que vai se descortinando por detrás de tudo e o “achado” das cenas derradeiras (e dos “efeitos finais”), que revelam o que se podia antever, mas jamais em toda a profundidade que aflora  – de forma lírica, poética, chocante -, tornam o final deste contundente filme um dos mais belos e devastadores da história do cinema. 9,2