O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE
Este filme apresenta alguns fatos que transcendem seu próprio contexto. Foi feito em 1962, portanto já sendo veteranas as atrizes Bette Davis e Joan Crawford, que tanto sucesso haviam feito em Hollywood em décadas anteriores. Mas foram chamadas a protagonizar o filme, inclusive porque as idades que tinham eram condizentes com as das personagens. O filme, aliás, gira praticamente em torno das duas, aparecendo um ou outro personagem ocasional, como a vizinha e principalmente a empregada e o “homem do anúncio”, que fez tão bem seu papel, que acabou sendo indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante (Victor Buono). Mas os fatos citados referem-se à rivalidade que havia entre as duas atrizes, Joan sendo uma atriz de vários casamentos, muito bonita, extremamente liberal em seus relacionamentos e que fez um sucesso relativo nas atuações (instável); e Bette sabidamente não tendo a beleza das divas, mas consciente disso e propalando que iria vencer pelo seu talento e de fato foi e é considerada uma das maiores atrizes da história do cinema. A rivalidade chegava a tal ponto entre as atrizes, que –contam- houve cenas neste próprio filme em que algumas situações de violência teriam sido“exageradas”; fora isso, Bette Davis teria exigido uma máquina de Coca-Cola nos bastidores, sendo conhecido o fato de que Joan havia casado com um executivo da Pepsi e fazia propaganda dessa bebida em cada filme que fazia. Também é verdade que Bette até esperava mas não ganhou o Oscar por este filme e Joan fez questão de subir ao palco para tripudiar a rival, no caso para receber o prêmio em nome atriz Anne Bancroft, que foi a vencedora na categoria. E contam, ainda, que depois da morte de Crawford, Bette disse que não se deve falar mal dos mortos e que, portanto, sobre a morte da “amiga” só diria: “Joan Crawford morreu. Que bom”. Fora isso, neste espaço só cabe contar que embora na época os filmes fossem todos coloridos praticamente, as filmagens em p & b foram uma imposição de Bette Davis, o que acabou se revelando acertado pela indicação ao Oscar de Melhor Fotografia em P&B. O filme teve 5 indicações ao Oscar e ganhou apenas como Melhor Figurino, sendo as outras quatro indicações para Atriz (Bette), Ator Coadjuvante, Mixagem de som e Fotografia. Tirando esses fatos e a circunstância de com o tempo a história do filme parecer hoje meio anacrônica e com alguns senões (a janela como acesso ao exterior, inclusive pela voz, por exemplo), trata-se de uma obra muito bem acabada e muito acima da média para a época. Além de muito bem dirigida por Robert Aldrich (Os 12 condenados, Com a maldade na alma, O último por de sol), efetivamente foi excepcionalmente bem interpretada por Bette Davis, não ficando atrás Joan Crawford. O início e o final são inesquecíveis, sendo que a trilha sonora é de fato poderosa e a música cantada no início, quando Baby Jane era criança (I´ve written a letter to daddy), não só se revelou muito significativa durante todo o filme, mas acaba ressoando nas cabeças muito tempo após: e o mais incrível é que nenhuma cantora de voz bonita gravou essa música depois do filme. A história aqui é melancólica, bizarra, triste, lembra um pouco Crepúsculo dos deuses, existe bastante suspense durante vários momentos, muita tensão e ótimos diálogos. Mas na verdade predomina o terror, principalmente o psicológico. E a maquiagem que a própria Bette concebeu para sua personagem acaba sendo uma caricatura do próprio terror. Enfim, uma obra bem acabada e que certamente na época representou importante evento, ainda mais tendo resgatado para o cinema a presença das duas consagradas atrizes e havendo tantas histórias de bastidores para serem contadas e povoar não só o imaginário, mas também a história da sétima arte. 8,6