JOHNNY GUITAR
Este faroeste de 1954, com alguns elementos diferentes do trivial, foi dirigido por Nicholas Ray, diretor polêmico, porque adorado por uns e execrado por outros. Estes, o acusavam de montar mal seus filmes, de se preocupar apenas com os sentimentos dos personagens e não com a história bem contada. Os admiradores, por sua vez, justamente enalteciam o foco essencial dado pelo diretor ao que mais interessava: as emoções; embora esses neguem os alegados defeitos na forma. De todo modo, este filme ficou famoso não só pelas polêmicas resultantes das opiniões divergentes, mas igualmente porque empresta grande relevo ao papel feminino, magistralmente desempenhado por Joan Crawford (e seus olhos verdes intensos), que na verdade é a protagonista da história (Vienna), sendo o elenco masculino mero acessório de seu brilho. Além disso, o filme tem um ou outro detalhe que o diferencia dos demais faroestes e um elemento notável, que é a música-tema, até hoje tocada e saudada como uma dos mais belos temas musicais do western e até do cinema. A música tem o mesmo nome do filme, sendo inicialmente tocada apenas nas cordas, também orquestrada e finalmente cantada (por Peggy Lee). E é linda e tocante, inclusive porque contém em sua letra exatamente a paixão que move grande parte do filme e que é responsável pela devoção de muitos, inclusive dos famosos cineastas François Truffaut e Martin Scorsese, fãs tanto do filme, como da direção de Ray. Minha opinião fica no meio termo: considero a música lindíssima, enxergo virtudes no filme, porém as vejo mais por conta da atuação de Joan Crawford (e do ineditismo do comando feminino em pleno Oeste) e de um ou outro detalhe, como o local da “casa de bebidas e jogos”, a historia da mina, o dilema da participação no assalto…Igualmente não constato, fora em Joan, destaque em ninguém mais do elenco, talvez com exceção do grande Ernest Borgnine. Não gostei da atuação de Sterling Hayden (Johnny), um ator com quase 2 metros e sem emoção alguma –basta ver as várias fotos dele nos vários filmes, para se constatar que está sempre com a mesma cara! Igualmente achei totalmente ridícula e caricata a personagem da atriz Mercedes McCambridge (Emma) -como inverossímel a ascendência que tinha sobre todos-, discordando de quem a considerou uma grande rival para Vienna, havendo abismos separando tanto as personagens, como a própria atuação de uma atriz e outra. Assim, não enquadro este faroeste como um dos grandes, nada vendo de novo em paixões do passado que ressurgem, em rixas e duelos etc e concordando com a falta de uma harmonia sem sobressaltos entre todas as cenas do filme. Lendo algumas opiniões positivas (e empolgadas) sobre o filme, constato que os críticos criaram exageradamente um mundo que era pretendido se mostrar (a escolha interna entre praticar o bem ou o mal, simbolizada pelo violão e o “mocinho” desarmado, o lado psicológico do filme, enfim…), só que na prática esse contexto todo foi apresentado com muitos defeitos . Na minha avaliação, portanto, um filme bom, com uma atuação memorável da grande e consagrada atriz, mas muito longe de poder figurar ao lado dos grandes faroestes de todos os tempos. Entretanto, não há dúvida de que os diferenciais já citados foram responsáveis por elevá-lo à altura dos clássicos do faroeste, nessa análise devendo ser considerada também a época em que foi produzido. E de que os debates vão continuar através dos tempos, motivo pelo qual é inclusive considerado atualmente como um “cult”. 7,9