NO DESPERTAR DA TORMENTA (STORM CENTER)

Dez vezes indicada ao Oscar em sua carreira e ganhadora de duas estatuetas, Bette Davis foi uma das maiores atrizes do cinema e já era bastante famosa quando em 1956 fez este filme, com quase 50 anos de idade (seis anos antes havia estrelado “A malvada”- “All about Eve”). Aqui ela pode não estar em seu papel mais notável, contudo ainda assim tem muito brilho. Além dela, este drama tem vários rostos conhecidos, entre os quais os de Brian Keith, Paul Kelly e Edward Platt (o chefe do “Agente 86”). De outro lado, a atuação do menino é por vezes perfeita, mas em alguns momentos vacilante. Porém o mais importante aqui é o roteiro e seu tema central, que é a liberdade de expressão em um período de caça às bruxas (leia-se Macarthismo), desdobrando-se essa temática em inúmeros fragmentos, como o medo, a intolerância, a ignorância, a política e muito mais. E vale dizer que muitos desses elementos podem ainda assustar pela sua atualidade! O que distingue este filme – por alguns tidos como noir – é que, de início (e do que era mais costumeiro na filmografia daquela época), parece sinalizar que seguiria por caminhos seguros e previsíveis, mas isso não é o que acontece: o roteiro cria obstáculos para as saídas fáceis e esse caminho adotado o valoriza e enobrece, inclusive aproximando-o de uma realidade mais verossímil. O fato é que há cenas muito interessantes e que passam as fortes mensagens com bastante força para o público, restando um pouco enfraquecido apenas o desfecho, que acabou adotando uma solução padrão, embora menos criativa e – considerado o contexto todo – certamente insatisfatória. Em que pese a última cena, no anterior e impactante momento, a câmera mostrando vários títulos de livros formadores da cultura universal é tão eloquente, quanto emocionante. Por fim, a época já comprovava a incapacidade de se dar títulos pelo menos razoáveis aos filmes no Brasil, pois de “Centro da tempestade” (título metafórico, obviamente) o nome do filme virou o ridículo e melodramático “No despertar da tormenta”. 8,7