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A MALVADA (ALL ABOUT EVE)

Eu revi este filme depois de alguns anos e meu conceito sobre ele aumentou consideravelmente. Talvez por ter atualmente outros valores, talvez por tê-lo assistido agora com maior atenção ou com toda a atenção que ele merece. Hoje eu o achei um filme perfeito. Assim, reproduzo a crítica anterior e acrescento alguns detalhes, inclusive alterando completamente a primeira nota (8,5). Há oito anos escrevi:Que saudade dos tempos de filmes com roteiro… Esse filme de 1950 foi roteirizado e dirigido por um dos expoentes da época, Joseph L. Mankiewicz, e apresenta um interessante e muito bem realizado estudo sobre o mundo da  ambição e da competição no teatro (incluindo a imprensa), com ótimos diálogos e personagens. É estrelado por Bette Davis, Anne Baxter. George Sanders e tem até uma passagem rápida de Marilyn Monroe, que já causava polêmicas: a esposa de Sanders, Zsa-Zsa Gabor, invadiu a filmagem por ciúmes do marido.  O filme ganhou vários Oscar: melhor filme, ator coadjuvante (Sanders), diretor, roteiro adaptado, som e figurino. Foi indicado, porém, a outros Oscar, o que bem demonstra sua qualidade: atriz (ambas as protagonistas indicadas), atriz coadjuvante (também duas coadjuvantes indicadas: Celeste Holm e Thelma Ritter), direção de arte, fotografia, edição e trilha sonora, em um total recorde de 14 indicações(junto com Titanic). A música é de Alfred Newman, famoso autor de trilhas cinematográficas”.  Este filme ostenta o recorde de indicações a Oscar, ao lado de Titanic e La la land, mas é o único da história a ter a indicação de duas atrizes para a categoria principal e duas para a categoria de coadjuvantes no Oscar. É sobre a arte e o teatro especialmente, mas também fala sobre as qualidades e os defeitos humanos, tece críticas sociais importantes, enfoca com habilidade e amplitude a ambição insaciável (embora associada ao talento, como diz um personagem), o envelhecimento que assombra algumas atrizes e ainda nas entrelinhas outras temáticas como a do papel social da mulher, do homossexualismo (que apenas insinua) etc. Os diálogos cínicos nos fazem rir, como também sorrimos diante do inesperado, mas excelente e irônico final…nesse momento, talvez inclusive a música, de contornos épicos, evoque propositadamente outro famoso filme, pelos sentimentos que a personagem rodeada de espelhos passa a acumular e evocar. O filme já começa muito bem, despertando a atenção e a curiosidade e com narrações muito oportunas in off e de vários personagens. Em todo o seu desenrolar apresenta um roteiro excelente e coeso, enxuto e inteligente, abusando dos ótimos e alguns poderosos diálogos, havendo inclusive algo de shakespeariano pairando no ar. Além de produto de um roteiro excepcional , recende qualidade também pela atuação de gala de todo o elenco (fora os citados, Gary Merril e Hugh Marlowe também brilham). Realmente de extremo destaque -como sempre- a atuação de Bette Davis, que possui uma personalidade impressionante e magnética e a transfere às personagens que desempenha e aqui tem ótimas falas (uma delas: o mundo está cheio de amores e nenhuma mulher está a salvo!).  Anne Baxter, porém, também apresenta uma atuação superlativa, tanto que ambas foram indicadas ao Oscar, merecidamente. O filme foi lançado no mesmo ano que o excelente Sunset Boulevard (O crepúsculo dos deuses) e tem a presença especial da então novata Marilyn Monroe, de quem se conta uma história de bastidores, embora nada “nobre”, por ter no caso levado uma bronca de Bette Davis em uma cena que parecia “interminável”: tudo porque, ao que parece, a futura diva loira ficou tão intimidada com Davis, que a referida cena teve que ser refeita 11 vezes (11 takes !) até ser considerada satisfatória. Assistindo ao filme, 70 anos depois, seu tema ainda é contemporâneo e sua grandiosidade permanece incólume, certamente se incluindo entre os melhores da história da sétima arte.  10,0