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A POSSESSÃO DO MAL (THE POSSESSION OF MICHAEL KING)

53363-0001313261738Apesar de eu não ser fã de filmes de terror, ainda mais envolvendo possessões demoníacas, achei este filme razoável e levemente diferente dos demais. Porque é um terror que não tem pressa e que apesar da “chamada” (capa do DVD inclusive) não escancara os fatos desde o início, desenvolvendo a história, assim como o personagem vai fazendo com os problemas que o acometem. As coisas vão acontecendo aos poucos, com prevalência do suspense e quando o terror se instala totalmente, aí, sim, as cenas mais impactantes não têm como deixar de acontecer. Embora os clichês sempre presentes – razão das impiedosas críticas pela mídia especializada (o público, porém, achou o filme bom) -, o filme acaba cumprindo o que promete e tem também como interessante a narrativa feita pelo próprio personagem, magnificamente interpretado por Shane Johnson. Nada de novo no front, mas para os apreciadores do gênero uma boa opção.  7,6

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SUBLIME DEVOÇÃO (CALL NORTHSIDE 777)

b0c621c62defdee65a277974449c763c_jpg_210x312_crop_upscale_q90 (1)Este é um drama com suspense (noir) de 1948, estrelado pelo ótimo e carismático James Stewart, que interpreta um jornalista investigativo, procurando pistas para reabrir um caso criminal cujo veredito tem a convicção de que foi injusto. O filme tem um ritmo perfeito, demonstrando a sintonia entre a direção de Henry Hathaway (A conquista do Oeste, Bravura indômita…), o roteiro e o elenco, notadamente James (mas tem Richard Conte e Lee J. Cobb). Além desse mérito, o próprio roteiro foi muito bem escrito, de modo que no final do filme paira sobre o espectador sérias dúvidas sobre se o desenlace vai ser favorável ou não às pretensões do jornalista. Até o último minuto a dúvida permanece e esse fecho é valorizado pela natureza da prova pela qual o jornalista pretende provar sua certeza. A música é de Alfred Newman, que na época musicava grande parte dos filmes americanos e a história é baseada em fatos reais. 8,2

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YOUTH (LA GIOVINEZZA)

La giovinezza posterPaolo Sorrentino é o diretor de A grande beleza, filme que ganhou o Oscar 2014 de Melhor filme estrangeiro. Esse fato já o credencia e indica, de antemão, que estaremos diante de algo original e com qualidade (edição, fotografia, roteiro, trilha etc.). Porque esse cineasta tem uma visão diferenciada da vida e do próprio cinema e um cuidado muito grande com o aspecto visual e com o nível de mensagens e críticas que passa, muitas vezes de forma sutil. Neste caso, a história transcorre quase que inteiramente em um luxuoso hotel nos alpes suíços e os principais nomes do elenco dispensam maiores comentários: Michael Caine, Harvey Keitel e Rachel Weisz (ainda tem Paul Dano e Jane Fonda). No referido hotel algumas pessoas tratam da saúde – Maradona aparece em alguns momentos do filme, com um sobrepeso impressionante! – e outras simplesmente descansam, incluindo idosos, fato que explica o título, já que muitas reflexões vão ocorrer nas conversas rotineiras dos dois grandes amigos (o maestro, Caine, e o cineasta, Keitel) e outras envolvendo a filha e assistente do primeiro. Reflexões que vez ou outra se dão diante de paisagens majestosas e deslumbrantes. É um filme que foge do trivial, do cinema comercial, que talvez não seja tão adequado aos mais jovens, mas que, de todo modo, é feito para ser degustado aos poucos, saboreado em suas sutilezas e na delicadeza de seus aprofundamentos. E é disso que nos damos conta ao seu final, quando percebemos, pela emoção sentida com a cena e com a música, que estamos com os sentimentos acumulados, contagiados que fomos aos poucos e ao longo do roteiro, pelos gestos, reticências, pensamentos, conflitos, pelos fatos da própria vida…e é quando atestamos, afinal, a qualidade de seu conteúdo.   8,8

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COLINA ESCARLATE

7407c3defbd08fb25d56b10c570c3f39_XL (1)Uma bela produção em um gênero que não está muito acostumado a detalhes caprichados de fotografia, figurinos, reconstituição de época, trilha sonora, com cenas evocando até mesmo  épicos, como O morro dos ventos uivantes, acompanhadas de ótimos efeitos especiais. O que aqui acontece. Em um filme que pode ser definido como de “terror gótico”. E esse seu gênero fica claro desde a primeira cena, embora em seus primeiros momentos apresente bons ingredientes do que poderia ser um ótimo drama romântico. Mas o suspense é permanente e acaba sendo o seu ponto forte. Dirigido habilmente pelo mexicano Guillermo Del Toro (A espinha do diabo, Hellboy, O labirinto do fauno…), o filme tem também uma concepção extraordinária da mansão onde tudo acaba acontecendo, além de boas interpretações de seu elenco, notadamente de Jessica Chastain (Mia Wasikowska também é boa). Justamente pela soma do cuidado com o visual/forma e uma coerente história, acaba dentro do gênero sendo um filme superlativo. Mas como entretenimento também fica acima da média, podendo ser apreciado mesmo por aqueles que normalmente não gostam do gênero “horror”.  8,5

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PONTE DOS ESPIÕES

Ponte-dos-EspiõesSem dúvidas Steven Spielberg é um diretor consagrado e não tem mais nada a provar a ninguém. Como Tom Hanks é um ótimo e laureado ator. E este filme é muito bem feito, redondo, com início, meio e fim, com um tema interessante, excelente reconstituição de época, mostrando a espionagem durante a Guerra Fria e até a construção do Muro de Berlim e todas as implicações políticas envolvidas. O roteiro é bom, inclusive feito com a parceria dos Irmãos Coen. Entretanto…apesar dos comentários que li, não acho que Spielberg tenha evoluído e que este filme seja um sinal de pleno amadurecimento. O filme é bom, porém não mais que isso. O diretor continua conservador, exaltando a superioridade americana (acenando até para aquela “musiquinha” conhecida quando a cena envolve a aviação dos EUA…) e repetindo velhos e conhecidos clichês. Não há um sopro de novidade, de ousadia na velha fórmula. No sentido, portanto, da inovação, o filme pode até  ser tido como decepcionante. E não creio que haja esperança, porque no fim das contas é isso que o diretor deseja mostrar, é exatamente desse modo que ele quer ser e o faz competentemente, não restam dúvidas. Na visão dele, não é necessário ir além. O filme, assim, não é ruim, mas fica, mais uma vez, um acentuado gosto de “quero mais” no ar. 7,5

 

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SR. HOLMES

l_3168230_7c282cc1Ian McKellen desempenha soberbamente o famoso detetive inglês Sherlock Holmes. Mas se trata de um Holmes aposentado, em 1947, com mais de 90 anos e afastado das atividades que o tornaram célebre, passando a morar em uma casa de campo no interior da Inglaterra. Embora cansado e doente, porém, sua inteligência e argúcia ainda sobrevivem, a despeito da degeneração da memória, o que dificulta bastante a reconstrução dos fatos de seu último caso, justamente a razão pela qual acabou se afastando da profissão. Laura Linney, sempre ótima e Milo Parker (jovem revelação) completam o harmonioso elenco. A história é muito interessante, extremamente bem contada (edição e direção perfeitas) e em sua parte final – sempre com a ótima trilha sonora e a bela fotografia (que já abrem o filme belamente) – este drama anglo-americano se torna realmente arrebatador, resolvendo mistérios, apresentando surpresas e, por fim, realçando valores essenciais. 8,8

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RESPIRE

586445Um filme de 2014, dirigido com grande sensibilidade por Mélanie Laurent (excelente atriz). Drama francês e que necessita desse elemento seguro, pois conta uma história comum a muitos de nós aos 17 anos e, portanto, deve, na forma, obter seu mérito: para construir a “anatomia” da paixão. Assim, embora a história não seja nova, a maneira de contá-la é muito elogiável e impactante, tecendo uma radiografia do drama de se apaixonar: a dor, a tristeza, a força indomável e que ninguém em volta parece perceber o quanto escraviza, o abandono e o abandonar…Nesse sentido, ao lado da ótima direção, são notáveis as duas protagonistas: Joséphine Japy, fazendo a personagem mais contida (e com doença respiratória) e que se transforma magistralmente e Lou de Laâge, a liberal e arrebatadora (uma espécie de Luana Piovani francesa). Ótimas imagens, delicada abordagem, um filme bonito no sentido da força de suas cenas (inclusive a influência da relação dos pais sobre os filhos) e de seu tema central, competentemente explorado e levado à tela, a partir inclusive da significativa pergunta feita pelo professor em uma das aulas (em outras palavras): “A paixão é o muro ou a ponte para a liberdade”? O título do filme também é ótimo, pois possui o duplo sentido da metáfora, obtendo sua valorização máxima na cena final. 8,0

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EVEREST

everest_ver2_xlgO filme é baseado em fatos reais – ocorridos em 1996 e que deram origem a alguns livros, sendo talvez o mais famoso No ar rarefeito. Naquele ano havia diversas expedições no famoso Monte, em busca do cume e da glória. O elenco é de peso: Jake Gyllenhaal, Jason Clark, Josh Brolin, Sam Worthington, Keira Knightley, Emily Watson, Michael Kelly, Robin Wright, entre outros. Não dá para dizer que é um filme ruim, mas o problema aqui é a expectativa que foi criada em torno dele, de um relato histórico (livremente romanceado, claro – terá ocorrido a cena do telefone, por exemplo?) mas temperado com profundidade criativa.  O que se vê não foge muito dos clichês do gênero, mas pode agradar pelos efeitos, pela emoção principalmente em sua parte final, desde que visto como um filme de aventuras, como mero entretenimento. Com os créditos finais ficamos sabendo o destino dos personagens e a maior curiosidade sobre as filmagens é que tiveram que ser suspensas por um tempo, em razão de uma avalanche, em abril de 2014, que por ironia acabou causando o maior número de mortes na história do Everest (a maior parte de nepaleses).   7,5

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PROMESSAS DE GUERRA (THE WATER DIVINER)

NThe_Water_Diviner_postera Primeira Guerra Mundial mais de 8 milhões de militares e civis foram dados como desaparecidos. A batalha ou Campanha de Galípoli, península da Turquia, fez parte da Primeira Grande Guerra e consistiu na luta de uma frente aliada composta pelos exércitos da Austrália e da Nova Zelândia (contra os turcos), que invadiram aquele território com o objetivo de tomar Constantinopla – essa batalha já foi objeto de um famoso filme com Mel Gibson. Este filme mostra em flashes alguns lances da guerra, mas seu foco principal é o período de quatro anos após a batalha que deixou 400 mil baixas, quando um pai australiano resolve procurar notícias de seus filhos, que tem como mortos, já que não voltaram para casa após a aludida Campanha. Apesar desse foco, o filme também aborda algumas importantes questões da guerra e das suas consequências. Russell Crowe interpreta o pai, com o carisma habitual  – é um dos atores que tem esse “quê”, como Harrison Ford, por exemplo, de dominar totalmente as cenas em que aparece -, mas neste caso também faz uma estreia muito feliz como diretor, desempenhando esse papel também com muito competência. 7,8

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MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA

Mad-max-estrada-dafuria-posterSe formos comparar com o primeiro Mad Max – que fez extraordinário sucesso, com Mel Gibson-, o “original” parecerá talvez meio insípido e em câmara lenta, embora tenha sido icônico. Tal o ritmo deste filme, desde a primeira cena, embora um abismo separe aquela época da de hoje, em se tratando de efeitos de som e imagem. Ação incessante, impressionantes direção, trilha sonora e fotografia, uma produção com cheiro de épico e todos os elementos presentes, incluindo altas doses de adrenalina e até de certa poesia, no caso, claro, “poemas da devastação”, tratando-se de um mundo futuro árido e selvagem, onde a única tônica é a sobrevivência. Um filme muito bem concebido e produzido e que dentro do gênero da ficção científica merece realmente um grande destaque. Um dos melhores filmes de ação dos últimos tempos. Algo que, parodiando os “bons tempos” de cinemão, pode ser chamado de “filmaço”, para ser visto com guaraná e pipoca, porém sem tirar por nenhum segundo os olhos da tela. Direção de George Miller, o mesmo de Mad Max 1 e 2, com Charlize Theron e Tom Hardy.  8,8

 

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CIDADES DE PAPEL

A culpaMais um filme baseado em livro de sucesso de John Green. O outro foi “A culpa é das estrelas”, que achei bem superior. Mas este também não deixa de ser interessante, embora na verdade seja uma brincadeira adolescente. Tem pelo menos um enfoque aberto, honesto, valorizando a independência da juventude, o espírito de aventura, ousadia, ao mesmo tempo em que preserva as tradições. E, afinal, quem resiste aos impulsos da paixão? Acredito que os adolescentes e jovens vão gostar muito do filme. Para quem já passou dessa fase, vai restar recordar de momentos, de pensamentos e ações e achar o filme “legal”. Mas para os jovens, um filme que sintoniza com seus anseios e receios, com seus paradigmas, apresentando de acréscimo componentes de ação e mistério. Valorizados pela atuação de todo o elenco, mas notadamente de Cara Delevingne e de Nat Wolff. A lição que fica é a da coragem de ousar e de assumir os riscos que aparecem e que a idade bem sabe enfrentar. Ou, em outras palavras, amadurecer.  7,5

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AGATHA CHRISTIE´S POIROT: CURTAIN, POIROT´S FINAL CASE

curtain-poirot-s-last-caseO filme concorreu ao Emmy de Melhor telefilme e não sem razão: é ótimo, na verdade o último episódio da 13ª temporada da série e encerra toda a saga do detetive Hercule Poirot (belga, apesar do nome aparentemente francês) – até para tristeza dos fãs –, também adaptando de maneira praticamente insuperável o derradeiro livro de Agatha Christie, “Cai o pano” (“Curtain”). Recentemente os herdeiros de Agatha permitiram que outra escritora ressuscitasse o personagem, mas esse foi um crime maior do que todos os que Agatha chegou a conceber! Para quem foi fã, como eu, que li mais de 80 livros da Rainha do crime, o fato constitui um absurdo imperdoável e aviltante. Mas isso à parte, certamente é um prazer assistir a um filme que consegue transportar para a tela toda a riqueza do universo de Agatha Christie: os cenários, os personagens, os costumes, a polidez e os hábitos ingleses, os comportamentos suspeitos e de duplo sentido, as pistas que se confundem, os elementos do crime e sua investigação, inclusive pelas famosas “células cinzentas” do maior detetive de Agatha e talvez da história da literatura (claro, junto com Sherlock Holmes)…as sutilezas. O elenco é impecável, como toda a produção (Hastings está ótimo, interpretado pelo ator Hugh Fraser), mas o destaque é realmente  David Suchet (como em toda a série), soberbo na representação de Hercule Poirot. A parte final do filme, pelo menos para os fãs, é emocionante e espetacular, guardando como sempre boas surpresas.  9,0

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BEIJEI UMA GAROTA

10179_d_iphoneUma comédia leve, romântica, bobinha, daquelas que tem várias por aí. Só que esta é francesa, o que significa que todo o contexto é bem diferente dos usos e costumes do cinema americano. E isso é muito bom, porque é o estilo de viver dos franceses, despojado e colorido. No caso, para que se goste do filme e a diversão fique completa, talvez seja necessário não ser preconceituoso, ser aberto para as várias possibilidades da vida e do amor. Embora, de fato, não seja um filme muito longe do superficial, se visto racionalmente. Mas emocionalmente, o filme flui gostosamente e de forma espontânea: diverte e ao mesmo tempo apresenta algumas questões mais tocantes, quando parece concentrar o que há de fundamental na vida em um ponto só: no fato de cada um assumir sua verdadeira identidade e procurar a felicidade. Nada de novo, mas sempre uma mensagem importante, ainda mais vinda de uma forma tão sem compromisso. 7,8

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THE SUICIDE THEORY

l_2517300_bfee21b8Um filme diferente e estranho, que pode ser enquadrado como um drama, um drama/policial ou um thriller: só por ser australiano, já destoa das produções americanas rotineiras. É algo que exige paciência para que vagarosamente as coisas possam se encaixar…De todo modo, é mais adequado para o público adulto e que aprecia o cinema alternativo. O clima é sombrio, os personagens idem e a trilha sonora dá o tom correto. O que o qualifica é que, à medida em que a história vai sendo contada, a estranheza vai cedendo lugar à curiosidade e até a uma percepção de haver lógica na vida e no destino dos personagens, diante do que vivenciaram. E ao contrário do que parece no início, o roteiro se torna denso – além de tenso – e são postas até questões existenciais instigantes, incluindo a relacionadas com o tema “destino”. Conseguimos, então, humanizar os personagens (e nós mesmos???), muitíssimo bem construídos por Steve Mouzakis e Leon Cain. Dessa maneira, embora em alguns momentos o filme pareça oscilar, seu resultado é muito interessante e deixa claro que deve ser saboreado no todo para poder ser apreciado devidamente. O melhor aqui, então, é não racionalizar muito, não tentar adivinhar o que vai acontecer e desfrutar – até mesmo, ou apesar, das cenas chocantes/impactantes -, porque haverá algumas surpresas e no final se poderá, enfim, montar integralmente todas as peças do enredo.   8,3

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ADEUS, TIO TOM (Addio Zio Tom)

capaEste é um filme – documentário, na verdade – de 1971, que não ficou famoso como deveria, não sendo inclusive muito citado. Talvez por sua temática, talvez por sua acidez. É realmente um filme forte, nos dois sentidos. Mas é também muito original e tece de modo bastante eficaz denúncia crua e visceral contra o racismo e a escravidão – oportuno dizer que houve quem o tenha acusado justamente do contrário: de ser um filme racista. “Tio Tom”, que é o personagem de A cabana do Pai Tomás, é um termo que acabou com o tempo ficando pejorativo, como referência aos afro-descendentes que se acomodaram à autoridade do homem branco. Mas o fato é que este filme, com tons de seriedade, mas com toques de sátira, sarcasmo e cinismo, comenta e relata como nenhum outro a saga da escravidão e do racismo, com foco nos Estados do sul dos Estados Unidos, passando por muitas décadas (antes da Guerra Civil, inclusive). E não parece mostrar caminhos que pudessem ter evitado os acontecimentos. Embora apresente os desdobramentos. Passando pelo tema dos escravos que vinham da África, mostra a maneira como viviam, como o negro era tratado, como eram vistos e comercializados, sendo realmente chocante em sua narrativa e nas cenas. A direção é extraordinária (Jacopetti e Prosperi), assim como a montagem e a narração, que compõem todo um equilíbrio junto com a trilha sonora e a espantosa quantidade e qualidade de figurantes, configurando uma obra realmente perturbadora. Talvez a única coisa que destoe seja o idioma italiano, pela sua aparente distância dos problemas e do espaço enfocado, mas só por isso não deixa de ser bastante recomendável a adultos interessados no tema e abertos a aprofundá-lo ou pelo menos dispostos a questionar os acontecimentos e o próprio racismo e suas causas e efeitos. O filme faz parte dos documentários conhecidos como Mondo Cane. 9,0

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MISSÃO IMPOSSÍVEL – NAÇÃO SECRETA

l_2381249_c4abb567O filme começa com uma cena dos agentes em plena missão, com o suspense e a ação como devem ser. Parcialmente resolvido o primeiro impasse, entra a magnífica e eternizada música de Lalo Schifrin, consagrada pela série da década de 60. Enquanto a música já vai empolgando, como na série original, são exibidos flashes de cenas que iremos ver ao longo do filme. Quem não viu a série com Peter Graves, Martin Landau, Greg Morris, Barbara Bain e Peter Lupus (entre outros, porque o elenco mudou) não vai sentir a grande emoção desse momento inicial! Mas mesmo assim o filme vale como grande diversão. Efeitos de primeira linha, a tecnologia não dá pra comparar com a de há 50 anos. E nem alguns tons de comédia, que alguns personagens parecem manter durante toda a história. Na verdade, o tom do filme é semelhante ao dos de James Bond, com muito glamour, belas locações, perseguições externas etc. e, claro, a aqui Hunt Girl (Rebecca Ferguson), que é mais do que um rostinho bonito, deixando um permanente ponto de interrogação quanto a suas reais intenções. Nesse contexto, é lógico que o filme deve ser visto como pura diversão, o que implica aceitarmos qualquer “mágica” do herói para enfrentar o mal e sobreviver. E vai haver muitas cenas nesse estilo, com muita adrenalina em ritmo incessante e alucinante às vezes. E embora seja quase todo previsível, o filme pode guardar uma ou outra surpresa. Além dertudo, Tom Cruise está totalmente à vontade no papel. Visto como entretenimento puro, sem preocupações cerebrais, constitui um delicioso passatempo e que inclusive parece homenagear Alfred Hitchcock, com cena semelhante (agora em Viena) à do teatro do filme O homem que sabia demais (1956, James Stewart e Doris Day).  A respeito, vale a pena, para quem se interessar, pesquisar as curiosidades sobre o filme (cuidados de produção, inclusive, o fato de Cruise dispensar dublês etc.), que são muitas.  8,5

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ZIPPER

Drh4pWjUm filme que começa meio indefinido quanto à qualidade, mas que vai se firmando pelos vários enfoques, pelo roteiro que acaba prendendo o interesse e pela ótima interpretação do ator Patrick Wilson (da série A gifted man), que aprofunda o personagem e acentua seu drama, em um abismo até inesperado e muito bem construído, de duplicidade e obsessão (aqui, o título do filme é perfeito !). Com o tempo, o filme passa a ter o drama aliado ao suspense e o roteiro se torna imprevisível, o que o valoriza ainda mais. A esposa do personagem é interpretada pela atriz Lena Headey, que faz a Rainha Cersei na série Game of Thrones e também é ótima: uma bela atriz, nos dois sentidos. Um filme que acaba realmente surpreendendo, mostrando os bastidores da política, do poder e ao mesmo tempo questionando valores, principalmente quando envolvem o homem público e os limites que o diferenciam do cidadão comum, o qual aos olhos e expectativa do povo não precisa se portar como um herói. O filme questiona valores, mostra o papel da imprensa no mundo de hoje, a importância do sexo sob vários prismas. E no fim, faz parecer sobressair a condição humana, a despeito de qualquer outra coisa. Direção excelente da americana Mora Stephens, com pouca experiência na área mas já demonstrando a que veio.  8,0

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UM DOMINGO DE CHUVA (LIKE SUNDAY LIKE RAIN)

like-sunday-like-rain_t86288_jpg_290x478_upscale_q90Mais uma vez um nome inadequado atribuído para um filme e com isso retirando totalmente a conexão que o título original tinha com a alma da história. Mas como é fato corriqueiro e se trata de pessoas incompetentes, cabe deixar o assunto de lado. A atriz Leighton Meester, que trabalhou na série Gossip girl, e o ator Julian Shatkin (terá 12 anos), que estréia no Cinema com este filme, protagonizam uma bonita história, valorizando com sua interpretação sensível esta produção independente americana, lançada no final de 2014. Uma história simples, sem rebuscamentos, envolvendo um relacionamento quase comum (a diferença está na genialidade do garoto, um prodígio), mas contada e interpretada de uma maneira bastante cuidadosa, o que valoriza a reflexão sobre o significado da vida, dos relacionamentos, sobre a intensidade dos sentimentos, as perdas….Um filme sentimental em doses adequadas, comovente sem ser piegas, realizado com bastante equilíbrio por Frank Whaley, que teve mais experiência como ator, mas que se mostra bastante competente como diretor. 7,6

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SCARAMOUCHE

00bab8ae061e1cf7f1eab5145adcf453_jpg_290x478_upscale_q90Houve uma época em que eram comuns os filmes do gênero “capa e espada”. Todos tinham ação, aventura, romance, muito ritmo e belas lutas de espadachim. E sempre ficava guardada a luta mais “difícil” e demorada para o final, entre o “mocinho” e o “vilão”. A fórmula era repetida, filme após filme, mas sempre agradava. Porque, via de regra, as histórias eram interessantes, emocionantes, a trilha sonora palpitante, o elenco conhecido e se torcia pelo bem contra o mal, sendo esse sempre o resultado, embora muitos percalços acontecessem até essa vitória chegar. Este filme na minha opinião é o clássico dos clássicos do gênero. Produzido em 1952 nos EUA e com enfoque na França antes da Revolução, ainda guarda o mesmo dinamismo, as mesmas qualidades da época e se hoje ainda agrada plenamente, é de se imaginar o impacto que teve no início da década de 50! Stewart Granger faz o herói com duas mocinhas, uma delas Janet Leigh, que oito anos depois viria a ser a principal atriz de Psicose. O bandido é o também não menos famoso Mel Ferrer, Mas além do carismático Stewart, quem também faz o filme acontecer é a atriz Eleanor Parker,  a outra mocinha e que inclusive – após uma bela, longa e muito bem feita luta de esgrima -, protagoniza uma última cena muito interessante e criativa (como criativo é o próprio título do filme). Genial até. Uma diversão simples, leve, mas irresistível, com todos os ingredientes de um “filme feliz”. 8,8

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MALÍCIA (MALIZIA)

20789_posterPode-se dizer que assim como o cinema brasileiro teve a fase das pornochanchadas, mais ou menos na mesma época (década de 70) o cinema italiano foi fértil em produções que misturavam comédia, pastelão e erotismo. Algumas que inclusive se tornaram clássicas, como Quando as mulheres tinham rabo e como algumas das memoráveis comédias com Lando Buzzanca. Entretanto, a qualidade dos filmes italianos era superior à nossa, inclusive tecnicamente. Tanto, que após tantas décadas, a picardia deste filme – marco daquela época – ainda permanece. Como também permanece íntegra sua maior razão de existir, definida por duas palavras: Laura Antonelli. Essa atriz, recentemente falecida – junho de 2015, desfigurada pelas plásticas, pela obesidade e na penúria -, foi na época simplesmente a musa de todos os adolescentes. Todos eram apaixonados por Laura, que além de belíssima, também acabou provando ser uma grande atriz, tanto que trabalhou em dois filmes de Visconti. Mas este malicioso filme fez tanto sucesso na Itália e no mundo todo, que acabou conduzindo rapidamente a atriz para a fama, com seu salário valorizado a patamares de diva. Este não foi um filme que não se limitou a fazer piadas, tendo explorado, como outros, a timidez e as dificuldades dos meninos adolescentes oprimidos pela própria sexualidade, o que se tornava, de certo modo, seu atrativo principal. Naquele mesmo ano de 1973 outro filme foi produzido com Laura Antonelli e Alessandro Momo: Pecado Venial. 8,0