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SICÁRIO (TERRA DE NINGUÉM)

imagesUm filme de alto nível. Poderoso, mas para os que gostam do gênero (CIA x cartel de drogas, México…). Forte, violento, cru, impactante. A busca de soluções que na verdade parecem gerar efeitos apenas a curto prazo, nas intervenções americanas nas regiões onde os chefes controlam o tráfico e detêm as armas e o poder. Uma luta vã? Emily Blunt excelente, em um dos mais espetaculares trabalhos de sua carreira, defendendo uma difícil ética/moral e navegando na escuridão, assim como também o espectador, quanto aos verdadeiros objetivos da missão. Benício Del Toro está simplesmente assustador, igualmente esplêndido. Também integra o elenco Josh Brolin. O diretor é Denis Villeneuve (Incêndios, Os suspeitos etc). Suspense, muita tensão, uma trilha sonora que mantém o clima até o final do filme…que, ao praticamente nada responder, acaba fornecendo a única resposta possível, sem que, entretanto, possa esconder todos os cadáveres que ficaram pelo caminho. Exibido em Cannes 2015.  8,8

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UM RETRATO DE MULHER

1b2c5ebee1afc4e5d904342dbfcb8923_jpg_210x312_crop_upscale_q90Um drama policial com suspense, produzido em 1944. Hoje seria um thriller. Em preto e branco e considerado integrante do cinema noir, o qual – mesmo involuntariamente no início – teve o seu apogeu justamente nas décadas de 40 e 50, nos Estados Unidos. Aqui temos um exemplo clássico dos filmes noir, pela fotografia, pela trama envolvendo um crime, pela “mulher fatal” etc. Dirigido por Fritz Lang (austríaco que, entre outros, dirigiu Metrópolis e M o Vampiro de Dusseldorf e que fugiu do nazismo), o par central é interpretado pela bela Joan Bennett e pelo festejado Edward G. Robinson. O título em inglês faz referência a um elemento muito importante da história, que é um quadro de mulher, exposto na vitrine de uma loja, situada ao lado do clube de cavalheiros frequentado pelo professor e seus amigos. Uma trama com muito mistério e com um final absolutamente surpreendente e imprevisível.  8,5

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CRIMES NO PARAÍSO (JESSE STONE – STONE COLD)

crimes-no-paraiso_t17881_jpg_210x312_crop_upscale_q90Este é o primeiro exemplar da série  – vide crítica ao filme Lost in Paradise, que é o mais recente, de 2015 -, datado do ano de 2005. Filme feito para TV e que acabou fazendo um estrondoso sucesso. Tanto, que depois desse seguiram-se mais oito filmes, entre 2006 e 2015. Todos envolvendo o personagem de Tom Seleck, um ex-detetive da divisão de homicídios de Los Angeles e que se muda para uma pacatíssima cidade, no Estado de Massachusetts, onde tem que administrar seus dramas pessoais (casamento fracassado, álcool etc.) e alguns acontecimentos criminosos que ameaçam quebrar com a quase perene tranquilidade de Paraíso e sua população. O que caracteriza o filme, além do ritmo lento e adequado ao local e aos seus habitantes, é a construção do personagem, muitíssimo bem feita pelo ex-Magnum da TV.  8,5

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UM SENHOR ESTAGIÁRIO (THE INTERN)

the-internEsta comédia americana é totalmente previsível. Tudo acontece exatamente como em outras do mesmo tipo e a gente adivinha praticamente como serão resolvidos todos os “conflitos” dramáticos. Mas mesmo assim é um ótimo passatempo. Primeiro, porque os americanos sabem fazer muito bem esse tipo de filme, tem o “feeling” certo, dosando comédia, drama e emoção. Segundo, porque é dirigido por uma expert e veterana no gênero, Nancy Meers, que também é produtora e roteirista e dirigiu anteriormente “Alguém tem que ceder”, “O amor não tira férias”, “Do que as mulheres gostam”, “Simplesmente complicado”, entre outros. E terceiro, porque o par central é formado por Robert De Niro e Anne Hathaway, que são ótimos e aqui contracenam com muita química, carisma e desenvoltura. Por conta deles temos bons momentos de riso e também de emoção. Ótima pedida para um dia sem programa ou chuvoso.  7,7

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VICTORIA

4226388Um cinema diferente. Uma história que se passa em apenas uma noite e madrugada, envolvendo personagens que identificamos como reais (e perigosos/marginais), um deles uma moça chamada Victória e que de repente se vê integrada e envolvida em algo que ela também não sabe exatamente o que é e no que redundará. Propositalmente ou não, o filme acaba fazendo um leve estudo sociológico, sobre a influência das amizades e os limites da solidão. Mas a maneira de mostrar/contar os fatos é que torna o filme especial, embora não seja original nesse ponto, pois a série “Dogma” já havia inaugurado essa maneira de fazer cinema (aqui não são seguidos todos os preceitos do “ Manifesto Dogma 95”, porém alguns deles parecem bem presentes). Entretanto, poucos filmes foram anunciados como realizados em apenas um único plano-sequência, o que destaca o filme, que além disso causa angústia e tensão pela sua trama interessante e imprevisível. Também não é à toa que lembra “Corra, Lola, Corra”, pois se trata do mesmo diretor, o alemão Sebastian Shipper, com seu estilo marcante e bem pessoal. A protagonista é Laia Costa, espanhola extremamente talentosa.  8,0

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THE GIFT

large_iQJlUncXv4mSR96XAKwD77MJwfVNão se trata de um filme especialmente marcante, mas tem o mérito de surpreender – o que não é pouco, diante da média de filmes que andam por aí – e de se tornar imprevisível com destaque em sua parte final. O começo que indica alguma banalidade vai aos poucos dando lugar para desdobramentos inesperados, dando início a um suspense bastante consistente e que revela, aos poucos, alguns segredos, alguns de maneira bastante dramática. Superado o início que parece trivial, o filme cresce, o enfoque a respeito dos personagens muda e os conceitos se misturam, o espectador não sabendo exatamente quem é quem, onde há culpa ou inocência, loucura ou sanidade. A essas alturas, o espectador, então, já estará curioso e bastante atento, com o filme cumprindo seu objetivo: na verdade, quando esquenta o filme produz tensão, como quando se intui o perigo, mas não se sabe exatamente de que forma ele vai se manifestar. Mérito do roteiro, do diretor e do trio principal, com destaque para a ótima Rebecca Hall. 7,8

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PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS (LA ISLA MINIMA)

Pecados Antigos, Longas SombrasCinema espanhol de alta qualidade (thriller policial). Um filme lento, mas forte e denso, que se passa em 1980 na região da foz do rio Guadalquivir, retratando uma época em que o Franquismo já havia ficado para trás (há cinco anos), mas a Espanha ainda estava se adaptando à democracia, que chegava de modo muito mais lento no interior, ainda bastante conservador quanto a mudanças – a política assombra o foco central do roteiro, em vários momentos do filme, principalmente em seu fecho. Dois detetives de forte temperamento são enviados de Madri para investigar o desaparecimento de duas meninas e a partir daí sua difícil integração com os usos e costumes vai propiciando ótimos momentos de drama, suspense e muitas sutilezas. O filme é muitíssimo bem conduzido e o espectador acompanha tenso, sem saber onde os fatos vão desaguar.  O pântano traz surpresas e entre os dois personagens também paira um clima tenso e suspeito quanto ao passado de um deles. Não há banalidade, não há muita coisa declarada expressamente e as investigações mergulham muitas vezes nas sombras, inclusive do passado. A configuração geográfica dos pântanos e da vegetação e ambiente em geral é absolutamente original (em cores e formas) e nas primeiras imagens – aéreas – o filme já nos impacta e mostra que veremos algo fora do convencional. Segundo a internet, são imagens digitalizadas dos vários pântanos de Andaluzia e das salinas de San Fernando (em Cádiz), conforme fotografados por Hector Garrido. Muitos quadros do filme também se basearam no trabalho fotográfico de Atin Aya. A direção é excelente, de Alberto Rodriguez, e todo o elenco está impecável. O filme ganhou diversos Goya no início de 2015 (o Oscar do cinema espanhol): melhor filme, diretor, roteiro original, ator, atriz revelação, montagem, direção de arte, fotografia, figurino e música original. 9,0

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A TRAVESSIA (THE WALK)

l_3488710_307ea14dDificilmente um filme que começa tão bem, perde totalmente seu rumo. Aliás, muitas vezes um filme se define pelo seu tom inicial. No caso, o tipo de narrativa, a fotografia, os efeitos de imagem, o texto ágil e a qualidade em geral, deixam claro que se trata de uma obra muito bem feita e que vai contar de forma competente e agradável uma boa história. Biográfica, inclusive. Do equilibrista Philippe Petit, cujo sonho era de realizar uma façanha nos EUA (travessia a cabo nas alturas), para onde viajou, da França, a fim de cumprir seu objetivo, que era mais difícil ainda porque clandestino. Um filme interessante e que, como é atual, deve representar muito para os americanos, não pelo tema, mas pelo local dos fatos. Com Joseph Gordon-Levitt e Ben Kingsley, entre outros, o filme é dirigido por Robert Zemeckis (Forrest Gump, De volta para o futuro, Contato, Náufrago etc.).  8,0

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COMO FISGAR UM MARIDO (THE MATING GAME)

como-fisgar-um-marido_t2407_jpg_195x289_upscale_q90Um ótimo exemplo daqueles filmes americanos inocentes (com pitadas de malícia, muito bem temperadas), típicos da década de 50 e perfeito para uma sessão da tarde. Comédia-família de 1959, dirigida por George Marshall (Houdini, com Tony Curtis) e com ótimo elenco (inclusive as crianças). Um filme com excelente ritmo, divertido, que enaltece os valores nobres, como a decência, a amizade e a união familiar. E com um roteiro interessante, envolvendo o governo americano e o fisco diante de uma singular situação. O elenco inclui Tony Randall e Paul Douglas (o “pai”, aqui em seu último filme), mas Debbie Reynolds é sua força motriz, mesclando os encantos da menina-moleca com os da mulher-sedutora de uma forma deliciosa. Algo a ser saboreado sem compromisso e com total leveza.  8,5

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LOST IN PARADISE (PERDIDO NO PARAÍSO – JESSE STONE)

l_4505830_10b0f474O título deste filme do canal Hallmark (co-produzido por EUA e Canadá) tem duplo sentido. Porque “Paraíso” é uma pequena cidade do Estado de Massachusetts, nos EUA, com aquele ritmo de cidade pacata. Ali praticamente nada acontece. A não ser um crime ou outro, eventualmente, e em tais casos existe uma polícia, típica do interior americano, para investigar. O personagem aqui é justamente um policial, que volta e meia se afasta do trabalho e depois retorna, em razão de problemas pessoais: personagem este bastante atípico, porque além de alcoólatra possui um temperamento e personalidade muito peculiares (um durão, carrancudo, mas de bom coração) – inclusive faz terapia com o personagem do ator William Devane. O mérito de ser um tipo fascinante é efetivamente do ator Tom Selleck (o Magnum da TV), que o construiu com muito talento e o tornou sem dúvidas o elemento principal do filme. Que tanto sucesso fez, que este já é o oitavo filme da série, que iniciou em 2006. Outro fator importante e diferencial é o ritmo da história, lento como a vida da plácida cidade e dos personagens, com as investigações ocorrendo sem pressa, no mesmo compasso em que se expõe a real intimidade de seu protagonista e dos que o cercam, o que resulta em uma abordagem bem mais profunda e humana do habitualmente se vê. O roteiro é muito bem escrito, com talento e coerência, e para que os que gostam de uma história policial bem contada é uma boa pedida. Claro, tudo também não funcionaria tão bem sem a direção de Robert Harmon (que dirigiu os sete filmes anteriores, os quais valem a visão/revisão, até para se compreender melhor o personagem em toda a sua trajetória.). O policial Jesse Stone realmente é um tipo marcante e que está normalmente acompanhado por seu cachorro (que imita a fleuma do dono…) e pelo inseparável Johnnie Red. 8,5

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LE TÉMOIN (TESTEMUNHA)

9gwwypGEste é de certa forma, um filme estranho. Talvez essa estranheza é que o faça interessante. Mas o fato é que ele tem todos os tons de comédia e de repente vira um drama policial típico francês (a produção é franco-italiana). E mesmo quando isso acontece continua com a trilha sonora que evoca comédia e com os personagens adotando um tom mais para cômico do que para sério. Ou seja, em meio a um assunto muito grave continua uma comédia. Talvez seja também pela insólita combinação do personagem francês (Philippe Noiret) com o personagem italiano (Alberto Sordi), cada qual agindo e dialogando segundo seus costumes de origem, o italiano obviamente com muito gestual. Uma amizade antiga une os personagens e um fato delicado na cidade irá uni-los ainda mais ou separá-los. A atuação da dupla é muito boa e não há muitos mistérios a serem resolvidos – pelo menos, o mistério não dura muito tempo -, mas a atração é por não sabermos onde os fatos vão nos levar. E no final parece que os caminhos não eram os previsíveis…No fim, apesar dessa contradição quanto ao seu gênero correto (talvez até uma característica da época: 1978), o filme é surpreendente, inclusive por ser impiedoso.  7,9

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A POSSESSÃO DO MAL (THE POSSESSION OF MICHAEL KING)

53363-0001313261738Apesar de eu não ser fã de filmes de terror, ainda mais envolvendo possessões demoníacas, achei este filme razoável e levemente diferente dos demais. Porque é um terror que não tem pressa e que apesar da “chamada” (capa do DVD inclusive) não escancara os fatos desde o início, desenvolvendo a história, assim como o personagem vai fazendo com os problemas que o acometem. As coisas vão acontecendo aos poucos, com prevalência do suspense e quando o terror se instala totalmente, aí, sim, as cenas mais impactantes não têm como deixar de acontecer. Embora os clichês sempre presentes – razão das impiedosas críticas pela mídia especializada (o público, porém, achou o filme bom) -, o filme acaba cumprindo o que promete e tem também como interessante a narrativa feita pelo próprio personagem, magnificamente interpretado por Shane Johnson. Nada de novo no front, mas para os apreciadores do gênero uma boa opção.  7,6

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SUBLIME DEVOÇÃO (CALL NORTHSIDE 777)

b0c621c62defdee65a277974449c763c_jpg_210x312_crop_upscale_q90 (1)Este é um drama com suspense (noir) de 1948, estrelado pelo ótimo e carismático James Stewart, que interpreta um jornalista investigativo, procurando pistas para reabrir um caso criminal cujo veredito tem a convicção de que foi injusto. O filme tem um ritmo perfeito, demonstrando a sintonia entre a direção de Henry Hathaway (A conquista do Oeste, Bravura indômita…), o roteiro e o elenco, notadamente James (mas tem Richard Conte e Lee J. Cobb). Além desse mérito, o próprio roteiro foi muito bem escrito, de modo que no final do filme paira sobre o espectador sérias dúvidas sobre se o desenlace vai ser favorável ou não às pretensões do jornalista. Até o último minuto a dúvida permanece e esse fecho é valorizado pela natureza da prova pela qual o jornalista pretende provar sua certeza. A música é de Alfred Newman, que na época musicava grande parte dos filmes americanos e a história é baseada em fatos reais. 8,2

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YOUTH (LA GIOVINEZZA)

La giovinezza posterPaolo Sorrentino é o diretor de A grande beleza, filme que ganhou o Oscar 2014 de Melhor filme estrangeiro. Esse fato já o credencia e indica, de antemão, que estaremos diante de algo original e com qualidade (edição, fotografia, roteiro, trilha etc.). Porque esse cineasta tem uma visão diferenciada da vida e do próprio cinema e um cuidado muito grande com o aspecto visual e com o nível de mensagens e críticas que passa, muitas vezes de forma sutil. Neste caso, a história transcorre quase que inteiramente em um luxuoso hotel nos alpes suíços e os principais nomes do elenco dispensam maiores comentários: Michael Caine, Harvey Keitel e Rachel Weisz (ainda tem Paul Dano e Jane Fonda). No referido hotel algumas pessoas tratam da saúde – Maradona aparece em alguns momentos do filme, com um sobrepeso impressionante! – e outras simplesmente descansam, incluindo idosos, fato que explica o título, já que muitas reflexões vão ocorrer nas conversas rotineiras dos dois grandes amigos (o maestro, Caine, e o cineasta, Keitel) e outras envolvendo a filha e assistente do primeiro. Reflexões que vez ou outra se dão diante de paisagens majestosas e deslumbrantes. É um filme que foge do trivial, do cinema comercial, que talvez não seja tão adequado aos mais jovens, mas que, de todo modo, é feito para ser degustado aos poucos, saboreado em suas sutilezas e na delicadeza de seus aprofundamentos. E é disso que nos damos conta ao seu final, quando percebemos, pela emoção sentida com a cena e com a música, que estamos com os sentimentos acumulados, contagiados que fomos aos poucos e ao longo do roteiro, pelos gestos, reticências, pensamentos, conflitos, pelos fatos da própria vida…e é quando atestamos, afinal, a qualidade de seu conteúdo.   8,8

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COLINA ESCARLATE

7407c3defbd08fb25d56b10c570c3f39_XL (1)Uma bela produção em um gênero que não está muito acostumado a detalhes caprichados de fotografia, figurinos, reconstituição de época, trilha sonora, com cenas evocando até mesmo  épicos, como O morro dos ventos uivantes, acompanhadas de ótimos efeitos especiais. O que aqui acontece. Em um filme que pode ser definido como de “terror gótico”. E esse seu gênero fica claro desde a primeira cena, embora em seus primeiros momentos apresente bons ingredientes do que poderia ser um ótimo drama romântico. Mas o suspense é permanente e acaba sendo o seu ponto forte. Dirigido habilmente pelo mexicano Guillermo Del Toro (A espinha do diabo, Hellboy, O labirinto do fauno…), o filme tem também uma concepção extraordinária da mansão onde tudo acaba acontecendo, além de boas interpretações de seu elenco, notadamente de Jessica Chastain (Mia Wasikowska também é boa). Justamente pela soma do cuidado com o visual/forma e uma coerente história, acaba dentro do gênero sendo um filme superlativo. Mas como entretenimento também fica acima da média, podendo ser apreciado mesmo por aqueles que normalmente não gostam do gênero “horror”.  8,5

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PONTE DOS ESPIÕES

Ponte-dos-EspiõesSem dúvidas Steven Spielberg é um diretor consagrado e não tem mais nada a provar a ninguém. Como Tom Hanks é um ótimo e laureado ator. E este filme é muito bem feito, redondo, com início, meio e fim, com um tema interessante, excelente reconstituição de época, mostrando a espionagem durante a Guerra Fria e até a construção do Muro de Berlim e todas as implicações políticas envolvidas. O roteiro é bom, inclusive feito com a parceria dos Irmãos Coen. Entretanto…apesar dos comentários que li, não acho que Spielberg tenha evoluído e que este filme seja um sinal de pleno amadurecimento. O filme é bom, porém não mais que isso. O diretor continua conservador, exaltando a superioridade americana (acenando até para aquela “musiquinha” conhecida quando a cena envolve a aviação dos EUA…) e repetindo velhos e conhecidos clichês. Não há um sopro de novidade, de ousadia na velha fórmula. No sentido, portanto, da inovação, o filme pode até  ser tido como decepcionante. E não creio que haja esperança, porque no fim das contas é isso que o diretor deseja mostrar, é exatamente desse modo que ele quer ser e o faz competentemente, não restam dúvidas. Na visão dele, não é necessário ir além. O filme, assim, não é ruim, mas fica, mais uma vez, um acentuado gosto de “quero mais” no ar. 7,5

 

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SR. HOLMES

l_3168230_7c282cc1Ian McKellen desempenha soberbamente o famoso detetive inglês Sherlock Holmes. Mas se trata de um Holmes aposentado, em 1947, com mais de 90 anos e afastado das atividades que o tornaram célebre, passando a morar em uma casa de campo no interior da Inglaterra. Embora cansado e doente, porém, sua inteligência e argúcia ainda sobrevivem, a despeito da degeneração da memória, o que dificulta bastante a reconstrução dos fatos de seu último caso, justamente a razão pela qual acabou se afastando da profissão. Laura Linney, sempre ótima e Milo Parker (jovem revelação) completam o harmonioso elenco. A história é muito interessante, extremamente bem contada (edição e direção perfeitas) e em sua parte final – sempre com a ótima trilha sonora e a bela fotografia (que já abrem o filme belamente) – este drama anglo-americano se torna realmente arrebatador, resolvendo mistérios, apresentando surpresas e, por fim, realçando valores essenciais. 8,8

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RESPIRE

586445Um filme de 2014, dirigido com grande sensibilidade por Mélanie Laurent (excelente atriz). Drama francês e que necessita desse elemento seguro, pois conta uma história comum a muitos de nós aos 17 anos e, portanto, deve, na forma, obter seu mérito: para construir a “anatomia” da paixão. Assim, embora a história não seja nova, a maneira de contá-la é muito elogiável e impactante, tecendo uma radiografia do drama de se apaixonar: a dor, a tristeza, a força indomável e que ninguém em volta parece perceber o quanto escraviza, o abandono e o abandonar…Nesse sentido, ao lado da ótima direção, são notáveis as duas protagonistas: Joséphine Japy, fazendo a personagem mais contida (e com doença respiratória) e que se transforma magistralmente e Lou de Laâge, a liberal e arrebatadora (uma espécie de Luana Piovani francesa). Ótimas imagens, delicada abordagem, um filme bonito no sentido da força de suas cenas (inclusive a influência da relação dos pais sobre os filhos) e de seu tema central, competentemente explorado e levado à tela, a partir inclusive da significativa pergunta feita pelo professor em uma das aulas (em outras palavras): “A paixão é o muro ou a ponte para a liberdade”? O título do filme também é ótimo, pois possui o duplo sentido da metáfora, obtendo sua valorização máxima na cena final. 8,0

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EVEREST

everest_ver2_xlgO filme é baseado em fatos reais – ocorridos em 1996 e que deram origem a alguns livros, sendo talvez o mais famoso No ar rarefeito. Naquele ano havia diversas expedições no famoso Monte, em busca do cume e da glória. O elenco é de peso: Jake Gyllenhaal, Jason Clark, Josh Brolin, Sam Worthington, Keira Knightley, Emily Watson, Michael Kelly, Robin Wright, entre outros. Não dá para dizer que é um filme ruim, mas o problema aqui é a expectativa que foi criada em torno dele, de um relato histórico (livremente romanceado, claro – terá ocorrido a cena do telefone, por exemplo?) mas temperado com profundidade criativa.  O que se vê não foge muito dos clichês do gênero, mas pode agradar pelos efeitos, pela emoção principalmente em sua parte final, desde que visto como um filme de aventuras, como mero entretenimento. Com os créditos finais ficamos sabendo o destino dos personagens e a maior curiosidade sobre as filmagens é que tiveram que ser suspensas por um tempo, em razão de uma avalanche, em abril de 2014, que por ironia acabou causando o maior número de mortes na história do Everest (a maior parte de nepaleses).   7,5

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PROMESSAS DE GUERRA (THE WATER DIVINER)

NThe_Water_Diviner_postera Primeira Guerra Mundial mais de 8 milhões de militares e civis foram dados como desaparecidos. A batalha ou Campanha de Galípoli, península da Turquia, fez parte da Primeira Grande Guerra e consistiu na luta de uma frente aliada composta pelos exércitos da Austrália e da Nova Zelândia (contra os turcos), que invadiram aquele território com o objetivo de tomar Constantinopla – essa batalha já foi objeto de um famoso filme com Mel Gibson. Este filme mostra em flashes alguns lances da guerra, mas seu foco principal é o período de quatro anos após a batalha que deixou 400 mil baixas, quando um pai australiano resolve procurar notícias de seus filhos, que tem como mortos, já que não voltaram para casa após a aludida Campanha. Apesar desse foco, o filme também aborda algumas importantes questões da guerra e das suas consequências. Russell Crowe interpreta o pai, com o carisma habitual  – é um dos atores que tem esse “quê”, como Harrison Ford, por exemplo, de dominar totalmente as cenas em que aparece -, mas neste caso também faz uma estreia muito feliz como diretor, desempenhando esse papel também com muito competência. 7,8