GLADIADOR 2

Embora o mesmo diretor – o genial Ridley Scott, de Blade Runner, Alien e Napoleão, entre muitos outros -, este filme não pode ser comparado com seu antecessor, Gladiador, do ano 2000, com Russel Crowe no papel principal. Aquele foi um marco do cinema épico e considerado por muitos uma obra-prima. De outro lado, este gênero permite perfeitamente, em nome da aventura, da ação e da fantasia, certas inconsistências históricas/anacronismos (para horrorizar os historiadores), cenas meio inverossímeis, vários clichês. Esperar algo da qualidade de Gladiador e exigir verossimilhança e realismo histórico é desfigurar o propósito do filme dois, segundo os sonhos e a coragem de realização do grande Scott. Será de fato frustrante a expectativa de uma continuidade à altura do filme de 2000 – que de modo algum tem a consistência de seu predecessor -, embora os fatos de lá sirvam todos de base para os argumentos desta história. Afinal, o governo de Marco Aurélio – estóico e um dos maiores imperadores que Roma já teve – e o heroísmo de Maximus Decimus Meridius ecoarão para sempre na história universal e da sétima arte. Entretanto, desaparecidas tais expectativas e se permitir desfrutar o filme como um épico de ação e aventuras, a experiência será altamente positiva: basta se deixar levar pela história, com o mesmo espírito que tínhamos quando meninos e íamos às matinês nos encantar e vibrar com os feitos heróicos de Hércules, Sansão, Maciste, Ulisses, Aquiles e vários outros. De peito aberto quanto a conceitos e a rigores e aproveitando o que o cinema oferece de diversão: sons, imagens, movimentos e alguns complementos (a seguir identificados). E é justamente esse foco, o das expectativas diante do filme, que provoca uma variação tão grande nas críticas do filme, havendo quem dê a ele a cotação de 5 estrelas e também quem o coloque na mais baixa qualificação (péssimo, com 1 estrela). Mas se trilharmos o caminho do puro entretenimento, tudo valerá a pena e mesmo assim não ficaremos limitados a uma ação desenfreada e sanguinolenta e ao espetáculo cinematográfico oferecido pela grandiosa produção (que inclui um magnífico Coliseu, com espetaculares combates etc): haverá muitas outras facetas a qualificar o filme e nos emocionar, nos caminhos por onde pulsam a bravura, o heroísmo, as intrigas e a conspiração, a violência, mas também o idealismo daqueles que sonhavam com uma Roma livre da tirania e um lugar para novamente se honrar e amar. O que inflama quem mergulha no enredo, em meio aos fatos políticos e militares (das legiões romanas) relevantes e das várias lições vindas dos tempos de Marco Aurélio, adepto do estoicismo e autor do famosíssimo tratado filosófico Meditações. A filha deste, interpretada por Connie Nielsen, atriz dinamarquesa quase sessentona, é ainda Lucilla neste filme, que tem do anterior também o ator Derek Jacobi (senador Gracchus). Pedro Pascal e Paul Mescal também dão aqui conta do recado, mas quem brilha realmente é o sempre ótimo e carismático Denzel Washington, que interpreta de forma brilhante o poderoso e astuto senador Macrinus. Denzel inclusive concorre, por essa atuação, ao Globo de Ouro do próximo dia 5 de janeiro de 2025, na categoria de Melhor ator coadjuvante – cinema. O filme também disputa a categoria de Maior evento cinematográfico do ano. 9,0