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BABILÔNIA

Um filme polêmico e que divide gostos, dirigido pelo também discutido Damien Chazelle, de Whiplash e La la land: do público, o filme recebeu tantas críticas de “péssimo”, quanto de “excelente”, para se ter uma ideia. É, sem dúvidas, uma obra forte, intensa, que já no início apresenta uma inesperada cena escatológica e segue com o retrato da libertinagem e dos bastidores da Los Angeles hollywoodiana dos anos 20 e 30, mostrando no começo uma festa das mais extravagantes e bizarras, recheada de sexo, drogas e quase rock and roll, com uma presença inusitada e paquidérmica. Só esse começo já é suficiente para afastar muitos espectadores mais conservalores. Mas, na minha opinião, este é um filme para divertir (sentindo inclusive a bela trilha sonora) e saber que aqui tem muito de pitoresco, muito de ironia, muito de humor negro, até para gargalhar. Mas que o objetivo não é propriamente chocar, mas, chocando, mostrar uma realidade – ou uma fantasia – dos anos 20/30 do Cinema, habitado por seres neuróticos, perdidos, famintos, sem alma, mas também sonhadores e esperançosos. Um mundo de luta, mas também um sórdido submundo envolto em papel de diversão. Uma homenagem e ao mesmo tempo sátira ao mundo antigo do cinema, inclusive sobre a grande transição do mudo para o falado, do preto e branco para o colorido, glória e declínio, busca e frustração. E com muita gente que perdeu o emprego, pela falta de recursos vocais. Vemos as pressões de produção, as dificuldades cênicas, os inúmeros e incontáveis takes para se chegar a uma cena satisfatória (uma excelente cena, inclusive). A rápida transformação e a máquina atropelando quem não conseguiu acompanhá-la ou se adequar a ela. E de repente, em meio ao pandemônio, surge o lirismo imprevisível em uma cena pouco romântica de final de tarde, nas lágrimas da atriz iniciante (aliás, cena memorável e emocionante da maravilhosa Margot Robbie). Margot, por sinal. é um furacão e sua personagem é o que bem define a cronista social do filme, Elinor, St. John, interpretada pela maravilhosa Jean Smart: um turbilhão! A atuação de todo elenco é muito boa, a de Brad Pitt acima da média, mas a performance da atriz Margot Robbie é algo espetacular e digno de nota, sendo inexplicável não ter sido ao menos indicada ao Oscar 2023 de melhor atriz, pois é a energia vital deste filme. Sobre sua personagem, por sinal, dizem que Nellie LaRoy foi inspirada na vida real da atriz Clara Bow. O filme concorreu aos Oscars de Trilha sonora, Direção de arte e Figurino, mas nada ganhou. Fora do Oscar, porém, venceu o prêmio de Trilha sonora no Globo de Ouro e o de Design de produção no Critics Choice Awards. Alguns destaques: a homenagem aos músicos na pessoa do maravilhoso trompetista interpretado por Jovan Adepo, ao filme Cantando na chuva (que também trata do tema da transformação do cinema mudo para o falado, a partir do filme de Al Jolson) – embora também haja outras referênciase é simplesmente memorável a conversa entre o personagem de Brad Pitt e a repórter, inclusive como preparatória do que ainda viria a acontecer. Pena que não é um filme todo coeso, tem algumas cenas longas demais, alguns excessos e certamente dois momentos que deveriam ter sido excluídos, porque são realmente muito ruins: um próximo ao final, inclusive excessivamente longo e clichê (onde aparece o ator Tobey Maguire), que lembra todo o clima do filme Irreversível com a Mônica Bellucci (provavelmente de forma proposital), no momento em que o personagem está imerso naquele pavoroso antro bizarro e o segundo momento, perto da metade do filme, é o que pode ser definido como a “cena da cascavel” e é lamentável pelo seu mau gosto e pela absoluta falta de verossimilhança do que acontece. O ator Diego Calva também dá conta do papel, embora, conforme já enaltecido, quem dá um banho realmente é Margot, mas é dele a bela cena final, de resgate das memórias enquanto paralelamente se confirma o tributo a Cantando na chuva. 8,9