DEUS SABE QUANTO AMEI (SOME CAME RUNNING)
Uma típica comédia dramática dos anos 50, produzida em 1958 e dirigida pelo grande Vincent Minelli (Sinfonia de Paris, Assim estava escrito, Gigi, Adeus às ilusões, Sede de viver), pai dos musicais modernos, retratando os costumes e hipocrisias dos anos 50 nos EUA, incluindo preconceitos, machismo e as repressões já conhecidas: por baixo do verniz, muita coisa se esconde (no caso, em Parkman, Indiana, onde a história se passa). Mas o encanto deste filme, além de sua interessante história, de seu exuberante visual (CinemaScope) e de seu conceituado diretor, é o trio de protagonistas, simplesmente constituído por Shirley MacLaine, Frank Sinatra e Dean Martin, o que é um fato extremamente prazeroso para os fãs de cinema. Sinatra já era cantor de prestígio na época (por sinal, um dos maiores artistas de todos os tempos, com mais de 150 milhões de discos vendidos), também ganhando louros na sétima arte a partir de 1953, quando foi premiado com o Oscar de Ator coadjuvante pelo filme A um passo da eternidade. Dean Martin também era afamado cantor e no cinema ficou famoso a partir de 1950 pela longa parceria nas comédias com Jerry Lewis (17 filmes), tendo tanto extensa discografia, como filmografia: aliás, com Sinatra ele fez 6 filmes, com MacLaine, 7. Este filme concorreu a 5 Oscars: figurino, canção (To love and be loved), atriz coadjuvante (Martha Hyer, a miss French), ator coadjuvante (Arthur Kennedy) e atriz (Shirley MacLaine). Aliás, Shirley teve um desempenho inesquecível para uma personagem tão difícil quanto importante, embora tivesse apenas 24 anos na época: na verdade, ela havia estreado três anos antes no cinema com o filme O terceiro tiro, de Hitchcock e já ganhou o Globo de Ouro como atriz revelação, depois feito A volta ao mundo em 80 dias e anos depois brilhado novamente em Se meu apartamento falasse e Irma la Douce, entre outros. Curiosamente, Frank Sinatra e Martha Hyer foram os únicos premiados por este filme, com o troféu Laurel Awards e fora os citados também atua muito bem em seu papel de Edith, Nancy Gates. O filme tem alguns probleminhas de roteiro (fatos apressados, montagem que parece mal feita às vezes), mas no todo apresenta um bom e atraente ritmo e constitui um agradável entretenimento. Chama também a atenção a parte final, que contraria totalmente a mansidão mantida durante todo o seu desenvolvimento, inclusive com a frenética trilha sonora acompanhando o apoteótico desenrolar dos fatos. No todo, o filme representa um retrato de seu tempo, com personagens bem característicos, algumas passagens importantes – como a fala da professora conservadora aos seus alunos e a conversa que se seguiria, entre ela e a moça “torta”; como a conversa entre esta última, Ginny, e o preconceituoso e “cego” Dave – e um panorama que pretendeu representar boa parte da sociedade americana pós-guerra. 8,5